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Comportamento

No dia da última quimioterapia, festa no hospital comemora nova chance à vida

Paula Maciulevicius | 15/10/2013 06:31
O sorriso estampado no rosto, de quem pela fé e determinação, comemora com bolo e docinhos a última quimioterapia. (Fotos: Cleber Gellio)
O sorriso estampado no rosto, de quem pela fé e determinação, comemora com bolo e docinhos a última quimioterapia. (Fotos: Cleber Gellio)

“Graças a Deus”. O sinal da cruz de quem agradece em nome do Pai, do Filho e do Espírito Santo. O relógio marcava 9h quando ela se sentou ali. Já havia passado 1h30 quando ela viu, pela última vez, as gotas do medicamento da quimioterapia adentrarem as veias. Da sala onde estava, Lucimeire Cenciarelli Sant’ana, 47 anos, via o rosto da filha mais velha que aprontava o bolo, as bexigas e os docinhos para a festa.

No lugar das velinhas, estava o símbolo da luta contra a doença que ali ficou para trás. O lacinho rosa tem mais valor do que qualquer número que expresse a idade. Lucimeire não tinha o que apagar. O sopro dela e da família é hoje o de um ar aliviado por ter vencido a doença.

O diagnóstico que tirou o chão da corretora de imóveis, de câncer de mama, veio um mês depois que ela se casou, ao fazer a mamografia de rotina.

Lucimeire sentiu nesta segunda-feira, as últimas gotas do medicamento lhe adentrarem às veias.
Lucimeire sentiu nesta segunda-feira, as últimas gotas do medicamento lhe adentrarem às veias.

“Dia 23 de novembro foi o resultado da mamografia. O diagnóstico mesmo foi dia 5 de dezembro. Eu morava em Três Lagoas, lá me encaminharam a um especialista e eu voltei para Campo Grande. O tratamento começou em janeiro de 2012”, descreve como quem completa um diário.

“Quando eu recebi a notícia do câncer, parece que a coisa não está acontecendo com você. Eu imaginava um tratamento rápido. Uma coisa curta, não imaginava tudo isso que passei, que sofri. Você não tem noção disso”. Ninguém tem, Lucimeire. Ninguém tem até que seja ele mesmo sentado na poltrona da ala de quimioterapia de um hospital. Ninguém tem até ser a mãe, o pai, o filho, a avó.

O tempo da descoberta, tratamento até esta segunda-feira, dia 14 de outubro, data da última quimioterapia foi de um ano e 10 meses. Quem está dentro, ali sentada a cada ciclo de 21 dias para as sessões de quimioterapia tem outra noção de tempo, de passar dos ponteiros.

“Hoje eu digo que foi rápido, mas na verdade demora a passar. O mais difícil é você se ausentar da vida. Eu fiquei em stand by, sem trabalhar, sem convívio social normal. Passei a ter a vida voltada ao tratamento. Deixei de cuidar, para ser cuidada”.

"Eu já sabia, dizia uma das amigas. Eu sempre soube", sobre a esperança de ver Lucimeire curada.
"Eu já sabia, dizia uma das amigas. Eu sempre soube", sobre a esperança de ver Lucimeire curada.

Lucimeire é ativa, falante, daquelas que a gente senta ao lado e não vê o tempo passar. Ela mesma diz que a doença não era para si. Que o Câncer não combinava com ela, uma mulher que sempre trabalhou e batalhou muito. Forçada a desacelerar a vida, viu a família toda sofrer a doença. Viver a doença. Se mobilizar pela doença.

Marido, filha, filho, pai, mãe, irmã, sobrinhos e amigos merecem a primeira fatia do bolo repartido nesta segunda.

O relato ao Lado B da doença, do tratamento e do quanto ela foi forte acabou junto com a última gota da quimioterapia. A enfermeira veio retirou a agulha, o que a prendia ao soro. Os olhos se encheram de lágrimas, mas não derramaram uma só gota. A boca repetia baixinho, só para si e para quem mais lhe deu forças “graças a Deus, graças a Deus”... O sinal da cruz e ela agradece mais uma vez.

“Eu venho sonhando há duas semanas todas as noites com a minha última quimioterapia. Eu venho pensando há meses, na minha última quimioterapia. Na verdade, desde que comeci, desde a primeira eu vinha pensando”, comemorava.

A sala onde o medicamento é aplicado à veia não permite visitantes. São quatro poltronas destinadas apenas aos pacientes em tratamento. Um vidro divide Lucimeire da sala do médico, responsável pelo setor. Pelas regras, ninguém podia adentrar ali. Mas para bolo, bexiga e parabéns, há sempre uma exceção.

Que a família viria comemorar junto de Lucimeire a última quimioterapia não era surpresa. Mas os amigos que completaram as 12 pessoas na sala foi de emocionar e encher os olhos d’água. Cada um entrou vestido com uma camiseta que dizia “Outubro Rosa, mês dedicado à prevenção do Câncer de Mama, mês que coincide com o fim do tratamento da nossa vencedora” e um balão rosa nas mãos.

“Perguntei se eu podia comemorar aqui o final da minha quimioterapia. Eu quis aqui para marcar o final de um ciclo, de um período que começa e termina aqui. O que eu passei vai ficar aqui, não levo nada”.

Por cinco anos, Lucimeire ainda vai tomar um medicamento que tem a finalidade de evitar a duplicidade das células, explicou o oncologista Jesusmar Modesto Ramos. As consultas continuam uma vez a cada três meses. O período no qual ela passa agora é chamado tempo livre da doença, quando o tumor está tratado e sob ‘controle’.

Com todos na sala, a dona da festa faz as honras da casa. “Queria agradecer meu médico, as enfermeiras, meu pai que veio do Paraná, meus flhos pela paciência deles, minha família, meus sobrinhos que cuidaram de mim, meus amigos e principalmente a Deus que me deu fé e perseverança para que eu pudesse caminhar por esse período de fase difícil”.

Uma salva de palmas à Lucimeire. À vida.

Os amigos e familiares que completaram as 12 pessoas na sala foi de emocionar. Todos traziam um abraço e as felicitações de quem 'já sabia' que a cura viria.
Os amigos e familiares que completaram as 12 pessoas na sala foi de emocionar. Todos traziam um abraço e as felicitações de quem 'já sabia' que a cura viria.
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