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Comportamento

Pai de 8 filhos veio de Pontinha do Cocho para tocar restaurante caipira aqui

Aline Araújo | 08/10/2014 06:35
Eles gostam de ter a casa cheia. (Foto: Aline Araújo)
Eles gostam de ter a casa cheia. (Foto: Aline Araújo)

As paredes do restaurante “Casa Caipira” tem desenhos que lembram a fazenda, mas também mostram devoção. Uma mata com um rio, tem dois pescadores e a imagem de Nossa Senhora Aparecida. O tempo desbotou a tinta, mas o desenho ainda guarda todo o sentimento de quando foi pintado há cerca de sete anos.

Junto ao restaurante, fica a casa da família da Cruz Souza, morada de um coração enorme, capaz de abrigar 12 pessoas sobre o mesmo teto. Com uma rotina certa, muito afeto e paciência, a grande família encara a vida em uma casa no bairro Nova Lima.

Ivanor Tobias da Cruz, de 45 anos, resolveu mudar para a cidade quando os filhos começaram a crescer. Eles precisavam ir para escola. O pai, que só cursou até a quinta série, se preocupou com o futuro das crianças.

Mas a mudança da vida que levava em Pontinha do Cocho, distrito de Camapuã, foi radical para quem cresceu no campo. Ele teve que aprender a trabalhar por aqui, construir a casa e o próprio negócio. Não foi nada fácil, lembra.

Gustavo Henrique só vê vantagem em ter a casa cheia, sempre tem alguém para brincar com ele. (Foto: Aline Araújo)
Gustavo Henrique só vê vantagem em ter a casa cheia, sempre tem alguém para brincar com ele. (Foto: Aline Araújo)

O primeiro casamento acabou, mas ele conheceu a atual esposa, Patricia Souza, de 35 anos, com quem divide há 15 anos a rotina agitada de uma casa movimentada. Patrícia é do Paraná, ela foi visitar o irmão em Camapuã, os dois se apaixonaram e ela não voltou mais.

Ele já criava três filhos, juntos tiveram mais dois, e ganharam de presente da vida mais três que o coração acolheu. “Se você larga na rua, acaba virando um marginal, passando necessidades, então se você pode ajudar, você tem que fazer”, comenta.

Ivan, de três anos, é o caçula do casal, mas não dá casa, que tem a neta Luiza, de um ano e onze meses, filha de Vilma de 24. Ainda há espaço para Ivanor (13), Gustavo Henrique (5) anos, Morgana (23) anos, Maicon (24), Ana Cláudia (25) - com o marido Cássio (23). Também pode colocar na conta Mateus, que mora com a mãe, mas sempre esta por ali, e Carlos Alberto, de 47 anos, irmão de Patricia.

A casa, na avenida Zulmira Borba, tem a história documentada em álbuns de fotografia e é motivo de orgulho. Afinal, foi construída por Ivanor com as suas mãos e o suor do seu rosto. Dele e de mais alguns parentes que vinham do interior para ajudar. Até a construção terminar, foram cinco anos. “Comprei o terreno, e a gente construiu tijolo por tijolo. Durante a semana eu trabalhava de segurança na cidade e no final de semana juntava os parentes para me ajudar a construir”, lembra.

Patricia mostra fotos de quando a casa estava sendo construída. (Foto: Aline Araújo)
Patricia mostra fotos de quando a casa estava sendo construída. (Foto: Aline Araújo)

Na varanda, ele fez questão de contruir um santuário para Nossa Senhora Aparecida, de quem é devoto desde de pequeno. “Eu apanhei muito quando mudei para a cidade, mas sempre tive muita fé em Deus e na nossa mãe que me ajuda todo o dia”, relata. Para agradecer, todo inicio do ano ele realiza uma celebração religiosa em casa, com churrasco farto. O pessoal de Camapuã vem todo para cidade comemorar.

Quem não trabalha fora de casa, ajuda ali com o restaurante, que de dia serve comida caipira, com um "gostinho bem caseiro", garante, e a noite serve batata recheada, churrasquinho e pizza, que Ivanor fez questão de aprender a fazer para diversificar o cardápio.

Ele tem a voz forte, mas um jeito tímido de quem se denomina “caipira”. Ela, uma beleza e força de quem cuida de todo mundo com muito amor.

O casal conta que há três anos foi surpreendidos por uma série de mortes na família. Os dois perderam 4 pessoas que moravam na casa. O pai, a mãe e tia de Ivanor, além do irmão de Patricia.

Ivanor fez um altar para a santa de devoção. (Foto: Marcelo Victor)
Ivanor fez um altar para a santa de devoção. (Foto: Marcelo Victor)

Foram tempos difícieis, tanto financeiramente como emocionalmente. O período de luto afetou a família, mas como a vida sempre continua, o jeito foi seguir na luta, para se reerguer.

Aos poucos, as coisas tem dado certo, dá para ver no sorriso de Gustavo Henrique, brincando com os carrinhos, o que deixa transparecer que apesar das dificuldades a felicidade mora por ali. “Eu gosto de família grande, porque no meu aniversário sempre tá cheio”, brinca o menino de 5 anos.

Por ali é sempre tudo em doses grandes, e apesar de muita briga e bagunça, a família garante que é lugar de muito amor e união. “Você nunca está sozinho, porque nunca sai todo mundo de uma vez. Então tem sempre alguém do seu lado”, comenta Patrícia.

A casa serve comida caseira de dia e batata recheada, churrasquinho e pizza de noite. (Foto: Marcelo Victor)
A casa serve comida caseira de dia e batata recheada, churrasquinho e pizza de noite. (Foto: Marcelo Victor)
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