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Comportamento

Povo se reuniu e expulsou morador que incomodava a ‘cidade’ inteira

Inspirado por professor, Tom decidiu se dedicar a estudar as histórias ‘perdidas’ de Paranaíba

Por Aletheya Alves | 03/11/2024 06:35
Registro de Paranaíba em meados de 1920 para contextualizar o passado. (Foto: Arquivo/Memórias de Paranaíba)
Registro de Paranaíba em meados de 1920 para contextualizar o passado. (Foto: Arquivo/Memórias de Paranaíba)

Imagine incomodar tanto as pessoas que a vizinhança resolve se unir para te expulsar da vila com as “próprias mãos”. Essa e outras histórias foram tiradas da gaveta pelo servidor público da UFMS (Universidade Federal de Mato Grosso do Sul) e pesquisador Ailton Barbosa Júnior, o Tom, como é conhecido. Integrando um projeto de resgate sobre Paranaíba, ela garante que memórias não faltam.

Dedicado a observar documentos que contam sobre o período imperial e início da República, Tom narra que um dos casos mais curiosos que encontrou foi justamente o da expulsão. Além disso, um dos fundadores da cidade, José Garcia Leal, parece ter morrido sem preservar grande respeito.

Narrando o que encontrou nos registros, o pesquisador detalha que, em 1874, um homem chamado Manoel Jorge da Silva trabalhava em um cartório como escrivão e também participava do hall de jurados.

“Em determinada ocasião, centenas de pessoas locais, lideradas por dois homens, amanheceram na porta da casa dele e o expulsaram da vila. [...] No processo instaurado para investigar a expulsão, pouco se falou sobre o motivo, as testemunhas não queriam revelar”, diz.

Parte do processo sobre a expulsão do morador. (Foto: Arquivo/TJMS e Memórias de Paranaíba)
Parte do processo sobre a expulsão do morador. (Foto: Arquivo/TJMS e Memórias de Paranaíba)

Mas, a partir da fala de algumas pessoas, a conclusão foi de que, aparentemente, ele estava vendendo processos, desviando do cartório. Consta, por exemplo, que determinado cidadão tinha um processo-crime não julgado, então ele vendeu o processo e o documento sumiu do cartório”.

Outra curiosidade é sobre o fundador da cidade que acabou tendo um fim de vida cheio de conflitos. As informações são de que ele brigava muito, chegou a encomendar mortes.

Para “descobrir” tudo isso, Tom entrou em uma viagem por documentos graças ao impulso do professor Hildebrando Campestrini após uma palestra feita na cidade em junho de 2016, pouco tempo antes do seu falecimento.

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Hildebrando ressaltou a necessidade de mais pessoas estudarem a história do município, uma vez que muitos documentos da nossa história ainda não haviam sido explorados. Outro apelo de Campestrini foi no sentido da cidade de Paranaíba dar continuidade ao projeto do Memorial de Inocência, um museu que abrigaria a história da cidade e do romance de Taunay (Inocência), descreve.

O pesquisador conta que o projeto foi perdido, mas a vontade de estudar sobre a história tomou conta. “Assim, eu comecei a minha pesquisa, recebendo no início grande ajuda dos amigos Marisa e Marcos Faustino, este, autor do romance Águas Atávicas e também um pesquisador da história de Paranaíba”.

Tom, que nasceu no interior de São Paulo, foi criado em Paranaíba desde seu primeiro mês. No fim das contas, se tornou sul-mato-grossense por vivência e gosto pelo Estado.

Sobre sua pesquisa, ele detalha que grande parte dos documentos foram conquistados através da professora Maria Celma Borges, uma colega que trabalha na UFMS de Três Lagoas. Em sua maioria, os textos fazem parte do acervo do TJMS (Tribunal de Justiça de Mato Grosso do Sul).

“Eu acredito que a preservação da história é importante na medida em que nos indica em que ponto estamos no presente: se nossa vida melhorou, ou piorou, se as coisas ficaram mais fáceis ou quais costumes ficaram para trás”.

E, como dito por Tom, a maior parte de sua pesquisa está disponível no site Memórias de Paranaíba (clique aqui para ver).

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