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Comportamento

Tomar um café preto para Thiego agora é ato de amor ao avô que morreu

Seu Batista era o avô religioso, mas que mesmo assim não julgava ninguém

Thaís Pimenta | 14/09/2018 09:26
Batista e Thiego, acima, torcendo pelo Palmeiras juntos com os filhos de Batista. (foto: Acervo Pessoal)
Batista e Thiego, acima, torcendo pelo Palmeiras juntos com os filhos de Batista. (foto: Acervo Pessoal)

"Ele foi a pessoa que eu mais amei nessa vida, não tem como explicar. Foi um amor incontestável". É dessa forma que Thiego Barros, de 20 anos, define o sentimento pelo avô João Gonçalves de Barros, o seu Batista. O sentimento puro se intensificou na adolescência, quando passava todos os dias ao lado do avô, depois das aulas na escola, em encontro com cheiro e sabor de café.

A morte ainda não foi superada e Thiego diz que, na verdade, acha que a palavra superação não se encaixa ao luto, que já dura 3 anos e meio. "Tem coisas que eu quero guardar em minha memória fazendo só com ele. Meu vô foi mais pai pra mim do que meu próprio pai, a gente tinha uma afinidade que foi construída e justamente por isso era tão especial", conta. E se já não bastasse o nome dele estar ali, cravado todos os dias ao lado de Thiego, o neto deve instalar ainda hoje uma foto dos dois juntos, ao lado de sua cadeira de barbear.  

A família reunida e Thiego sempre pertinho do avô, que está bem atrás dele. (Foto: Acervo Pessoal)
A família reunida e Thiego sempre pertinho do avô, que está bem atrás dele. (Foto: Acervo Pessoal)

Dos momentos guardados na memória, alguns são mais sensíveis. Tomar um café preto para Thiego é um ato de amor ao avô, e mesmo sendo uma lembrança boa, ainda deixa triste o fato de que hoje ele perdeu seu grande companheiro com o qual, todo santo dia, tomava uma xícara do "melhor café do mundo".

João Gonçalves nasceu em Dourados e trabalhou durante a maior parte de sua vida em um café. Nos dias em que o neto estava em casa, almoçando, a bebida quente regava a conversa dos dois. "Eu tinha só 13 anos e não tenho certeza se uma criança dessa idade toma café preto. Mas eu tomava, porque gostava e para fazer companhia a ele. Então, hoje pra mim, tomar café é um ato de amor, e não apenas de degustar o grão".

O jeito parecido dos dois foi a característica que mais os aproximou. Inquietos, atenciosos e dedicados, avô e neto sabiam cuidar um do outro mesmo nos dias mais difíceis, tanto é que a vida de Thiego era um livro aberto para Seu Batista.

O vozão não foi barbeiro mas incentivou o neto a entrar no curso de barbearia antes de morrer. Ele justificava que seu próprio pai, bisavô de Thiego, tinha escolhido este ofício para viver, e que o neto tinha tudo pra ser um profissional de sucesso.

Mas antes que Thiego pudesse testar seus novos conhecimentos, o avô morreu, da noite para o dia, aos 66 anos, por conta de um ataque cardíaco súbito e fatal.

Batista e Thiego. (Foto: Acervo Pessoal)
Batista e Thiego. (Foto: Acervo Pessoal)
Mesmo tendo se tornado pastor, Batista não julgava a ninguém.
Mesmo tendo se tornado pastor, Batista não julgava a ninguém.

"Ele sabia de tudo que acontecia. Era ele quem me aconselhava, me ouvia, sem julgamentos. Depois que ele faleceu precisei procurar uma psicóloga porque, justamente, tinha perdido meu confidente e não sabia mais pra onde correr, com quem falar, em qual coração eu não era julgado".

Religiosos, os dois tinham uma tarefa a ser cumprida durante as tardes: ler a Bíblia. João tornou-se pastor, fundou sua própria igreja.

O fato de se tornar um líder religioso e, mesmo assim, não julgar ninguém, é o grande ensinamento que João deixa para Thiego. "Ele tinha tudo para discordar das minhas ações e justificá-las como algo que Deus não faria. É o que vemos os pastores fazendo hoje, por exemplo, julgando homossexualidade, tatuagem na pele, modo de se vestir. Ele simplesmente dizia que eu tinha todo o direito de fazer o que quisesse desde que minhas escolhas não fizessem mal a alguém e eu acho essa a maneira mais bonita de levar a vida".

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Thiego não cortou o cabelo do avô mas hoje é quem deixa seu pai, Marcio Barros, e filho de Batista, no estilo.
Thiego não cortou o cabelo do avô mas hoje é quem deixa seu pai, Marcio Barros, e filho de Batista, no estilo.
Nome da barbearia é homenagem ao grande avô que foi Batista. (Foto: Thaís Pimenta)
Nome da barbearia é homenagem ao grande avô que foi Batista. (Foto: Thaís Pimenta)
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