Vida de Cris é sem açúcar, mas nem por isso cadeirante deixa de ser doce
O doce saiu da vida de Cris, mas a doçura permanece em cada palavra e sorriso, ainda que tímido. Formada em Publicidade, Cristiane da Silva Ferraz tem 37 anos e há quatro teve de amputar o pé esquerdo, a consequência visível que a diabetes lhe trouxe.
Nascida em Aquidauana, ela mora sozinha com dois cachorros na região do Universitária, em Campo Grande e há duas décadas convive entre remédios, insulinas e o terror que pode se transformar sua glicose.
“A diabetes surgiu em 1997, com 17 para 18 anos. Tem médico que fala que foi emocional. Eu era obesa, tinha começado a emagrecer, um dia foi dormir enxergando e no outro, a visão já estava turva”, conta.
Com exames em mãos, os médicos descobriram que a glicose estava alteradíssima e a primeira reação da menina foi de que “como ia morrer mesmo”, não precisava se cuidar. Até que dois anos depois, prestes a fazer 20 anos, teve de fazer uma cirurgia nos dois olhos.
“Deu catarata, eu não conseguia estudar. Na época nenhum ofaltmo queria fazer a cirurgia. Minha glicose não abaixava com medicamento e com insulina, baixava demais. Aí dava hipoglicemia”, descreve Cris.
Anos depois, foi a vez dos pés começarem a apresentar consequências da diabetes. Bolhas d’água se formaram até trazer um risco grave de infecção e o pé esquerdo ser amputado. “Qualquer machucado no diabético evolui mais rápido e a cicatrização demora”, detalha.
Aos 33 anos, Cris teve a perna esquerda amputada abaixo do joelho. O risco da ostiomelite subir e afetar os rins era muito grande. O que se tornou o próximo passo. Para sobreviver, Cris tem de ir para a diálise três vezes na semana. Claro que ao receber a notícia, ela resistiu, mas apenas 10% dos rins funcionavam. “Passei mal em frente da médica, quando recobrei o juízo, já estava dialisando”, lembra.
Desde então, segunda, quarta e sexta, das 7h às 11h da manhã, Cris passa ligava à máquina e sem deixar ninguém ao seu redor dormir. Ri, faz selfies e conversa o tempo todo. “É uma foram de interagir com as pessoas. Tem que levar alegria a um local que é triste. Quando comecei a dialisar, conheci muita gente que hoje não está mais ali”.
Os efeitos colaterais se resumem a um sono, mas nada que ela não consiga contornar. “É uma coisa pela qual eu tenho que passar e ninguém vai passar por mim. Por isso não é bom reclamar e me deixar morrer? Jamais”, frisa.
No começo, a vida sem açúcar não foi nada fácil. “Pensa? Você é acostumada a comer qualquer coisa e de repente não pode mais. Na casa dos outros é mais difícil ainda, porque falam ‘mas é só um pouquinho’. É preciso ter disciplina, que com o tempo a gente vai aprendendo”, explica.
Se hoje ela pensa no passado, principalmente em não ter se cuidado, assim como chegam os pensamentos vão embora. “Poderia ter evitado desde o começo, os médicos diziam: ‘você pode ficar cega, pode sofrer amputações’. Tem hora que me arrependo, tudo poderia ser diferente, mas se tivesse sido, eu ia deixar de conhecer muitas pessoas e muitas histórias”, resume.
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