ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, QUINTA  25    CAMPO GRANDE 22º

Diversão

Melodrama por shows deu certo, mas Expogrande não tem nada de festa popular

Ângela Kempfer | 16/04/2013 07:03
Entrada da Expogrande no dia da abertura.
Entrada da Expogrande no dia da abertura.

O apelo foi emocionado pela volta dos shows à Expogrande. A Acrissul sempre defendeu a festa como “tradição”, como “uma marca da cidade”. O presidente da Associação dos Criadores, Francisco Maia, chegou a dizer que a exposição está para Campo Grande como o Carnaval para Salvador.

Até aí, pouca gente contestou, mas só antes dos ingressos começarem a ser vendidos. A edição deste ano, definitivamente mostrou que a exposição não é uma festa para a cidade. É sim um evento para o Jardim dos Estados e outros bairros mais endinheirados de Campo Grande. Quem é trabalhador, assalariado, provavelmente não vai a tal “festa do povo” em 2013.

Todo ano a reclamação é a mesma, mas talvez desta vez o preço tenha ficado tão em evidencia porque, afinal, a “festa é da cidade”, uma “marca”, o nosso “Carnaval”, uma “manifestação popular”, a “grande ligação cultural do homem urbano com o rural”, nas palavras oficiais da Acrissul.

Não sou contra, sou super favorável aos shows, principalmente, para a população de bairros menos providos de regalias nesta Capital. Mas R$ 30,00 por cabeça não é uma boa notícia para os que chegam à portaria.

Também é possível pagar R$ 20,00, caso a pessoa ache bom negócio pegar um ônibus e ir até um dos pontos de venda fora do Parque de Exposições e fazer a compra antecipada. Pela internet, o valor é de R$ 20,00, mais R$ 5,00 de taxa de entrega, isso se a pessoa não se deparar ao abrir o site com "esgotado", dois dias antes do show, como ocorreu na semana passada.

Sendo assim, um casal com dois filhos maiores de 7 anos (até essa idade criança não paga) vai desembolsar, pelo menos, R$ 60,00, em caso de compra antecipada ou R$ 90,00, se for direto à bilheteria do evento. Nessa altura do mês, difícil é sobrar algum trocado para o cachorro-quente e o parquinho de diversões.

Aquela história de preço popular é balela. A entrada é até mais cara que os valores de pista de apresentações recentes na cidade, como Luan Santana (R$ 25,00) e Gusttavo Lima (R$ 20,00).

No domingo, duas pessoas ligaram ao Campo Grande News questionando os valores. A primeira, Roselaine Dias, queria mesmo era saber até que horas poderia entrar de graça, para levar a filha ao Parque. “É só até o meio dia, então não dá mais. Perdi a chance”, lamentou ao ter a informação.

No mesmo dia, a jornalista Waléria Leite esteve por lá e voltou para casa indignada. No Facebook detonou a festa. “Me senti desrespeitada. O valor do ingresso é um assalto. A prática da entrada gratuita antes das 15h não existe mais. Vi famílias voltando. Vi pais tentando explicar para as crianças porque elas não poderiam ir até o parquinho, já que nesse horário é o que tem lá à disposição, além de ver boi. É muita grana para uma família, faz falta".

Para Waléria, a experiência foi revoltante. "Imagina o constrangimento de um pai ter de voltar para casa porque não tinha dinheiro. Depois, ainda pedi recibo do que paguei e eles não me deram. Não tinha troco, não dava para pagar no cartão. Qualquer lugar, até 11 anos de idade a criança não paga. Aqui, depois dos 7 já tem de pagar integral. É um absurdo", protesta. 

O preço em 2013, mesmo depois de toda a choradeira sobre a importância dos shows na Expogrande, subiu 50% em relação ao último ano de apresentações musicais na feira agropecuária.

Em 2011, sextas e sábados tinham ingresso na bilheteria a R$ 20,00 (inteira) e R$ 10,00 (meia-entrada). Nos domingos, quartas e quintas, o preço caia para R$ 16,00 (inteira) e R$ 8,00.

Com a expectativa de público de 300 mil pessoas durante a exposição de 2013, um cálculo por baixo, levando em conta meia-entrada para todo mundo, indica arrecadação só com a bilheteria de R$ 4.5 milhões. Sem tirar desse número uma pequena quantia de cortesias, credenciamento de expositores e segunda e terça de acesso liberado.

Para engordar o caixa da festa, ainda há os aluguéis dos estandes, de R$ 2.5 mil a R$ 30 mil por uma semana, e o repasse entre 0,5% e 1,5% de todo o valor arrecadado com os leilões, 40 no total.

E olha que não falta comemoração sobre os números a serem alcançados, já que “com 100% dos espaços comercializados, a Expogrande bate recorde histórico de ocupação”, divulgou a assessoria do evento.

Com tudo tão azul, a “festa da cidade” bem que poderia ser baratinha para quem não é fazendeiro. Mas como também já informou a Acrissul: “Sem shows, a feira tem prejuízo. Não vale a pena.”

(A matéria foi editada a pedido de artistas que fazem show hoje na Expogrande, que se sentiram ofendidos com a expressão “shows fraquinhos”. O Lado B tentou mostrar que nos dias de entrada franca as apresentações são mais baratas para os organizadores do evento, ao contrário de grandes produções como Paula Fernandes, Victor e Leo. A palavra "show" foi usada com o pleno sentido, o de "produção". Não se refere à qualidade musical das bandas )

Nos siga no Google Notícias