Sarau começa tímido, mas reúne quem deseja salvar região do parque
Evento cultural abre espaço para diálogo sobre preservação, microclima e ocupação urbana

No fim de semana, violões, poesia e discursos dividiram espaço com a sombra das árvores na Avenida do Poeta, no Parque dos Poderes. O Sarau Cultural “Salve o Parque”, organizado por movimentos ambientais e artistas locais, reuniu um público ainda tímido, mas determinado, para discutir o futuro de uma das áreas verdes mais simbólicas de Campo Grande.
O encontro, que durou das 9h ao meio-dia, teve o objetivo de registrar uma inquietação crescente entre moradores, ambientalistas e frequentadores: a preservação da área em meio ao avanço da urbanização no entorno.
Com apresentações de Vosmecê, Banda Yestersom, Odon Nacasato e da performance cigana conduzida por Bruno Guimma, artistas que doaram seus cachês, o sarau usou a cultura como porta de entrada para um debate que já atravessa anos, o impacto da ocupação urbana ao redor do Parque do Prosa e do Parque das Nações Indígenas.
“É amor pelo Complexo do Parque dos Poderes”, destacou a advogada ambiental Gisele Marques, uma das vozes mais atuantes na defesa da área, que abriu o evento explicando o porquê da mobilização.
Segundo ela, o Parque do Prosa, unidade de conservação de proteção integral exige, por lei, uma zona de amortecimento ao redor para garantir a proteção da fauna e da vegetação. Essa regulamentação, porém, ainda não foi aprovada. “Estamos aqui hoje desembarcando uma posição de amor pelo Complexo do Parque dos Poderes”, disse.
Ao longo de sua fala, Gisele destacou o risco que grandes edificações podem representar para as aves que caracterizam o microclima da região. “Por conta de não termos a zona de amortecimento, a prefeitura municipal de Campo Grande vem liberando várias licenças ambientais e alvarás. O pior ainda... são as licenças para construção de arranha-céus com fachada espelhada. Isso é uma maldade contra as aves que nós temos aqui.”
Ela lembrou que Campo Grande tem legislação que reconhece a cidade como polo de turismo de observação de aves, e que muitas espécies migratórias dependem da integridade da área. “A gente acorda em Campo Grande ouvindo os passarinhos cantarem. Só que isso está prestes a acabar. As aves chocam com as fachadas espelhadas.”
A advogada também contextualizou a luta ambiental iniciada em 2019 e algumas decisões judiciais envolvendo desmatamento e licenças. “Esse primeiro ato demarca a nossa posição de não aceitarmos o que está acontecendo no entorno do Parque dos Poderes”, concluiu.
O vereador Landmark Rios participou do sarau e reforçou que a mobilização da sociedade civil é essencial para a garantia de políticas públicas que conciliem desenvolvimento e preservação.
Falando depois de Gisele, ele destacou o cenário social da cidade e a necessidade de vigilância permanente sobre projetos que impactam diretamente a qualidade ambiental.
“Nós temos que estar vigilantes junto com o poder judiciário para cuidarmos do Parque dos Poderes”, afirmou. O vereador também lembrou que o espaço é um dos poucos pontos da cidade em que ainda é possível vivenciar um microclima preservado, frequentado por famílias nos fins de semana. “Por trás disso tem todo um movimento acontecendo há anos”, disse ao reconhecer o trabalho de ambientalistas e advogados envolvidos na pauta.
O advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Vicente Mota de Souza Lima, destacou que a discussão vai além da paisagem natural. “O meio ambiente é um direito humano. Sem água, sem ar de qualidade, sem os serviços ecossistêmicos, a gente não tem qualidade ambiental adequada”, afirmou.
Ele também chamou atenção para o impacto das grandes construções no microclima da região, lembrando que a sombra das árvores, ainda abundante dentro do parque, já não se repete igualmente nos bairros ao redor. “A gente não é contra o desenvolvimento econômico, é o contrário. Mas que o desenvolvimento seja com equilíbrio”, afirmou.
Abrindo apresentações, o turismólogo e bailarino Bruno Guimma conduziu a dança cigana com um discurso que conectou cotidiano e meio ambiente.
“O meio ambiente não é só quando a gente vai para Bonito ou para o Pantanal. Ele faz parte da nossa rotina. A partir do momento que eu abro a torneira, eu já estou utilizando recursos naturais”, disse.
Ele também lembrou que o próximo ano é eleitoral e que decisões de preservação dependem de políticas públicas. “A gente precisa de parlamentares comprometidos com o meio ambiente”
Os organizadores prometem novos encontros, sempre com música, arte e mobilização social. O objetivo não é travar uma guerra política, mas lembrar que preservação ambiental e crescimento urbano não precisam, e não devem, existir em lados opostos.
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