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Diversão

Sarau começa tímido, mas reúne quem deseja salvar região do parque

Evento cultural abre espaço para diálogo sobre preservação, microclima e ocupação urbana

Por Thailla Torres | 01/12/2025 07:05
Sarau começa tímido, mas reúne quem deseja salvar região do parque
Encontro revelou inquietação de artistas e ativistas sobre preservação da área em meio ao avanço da urbanização no entorno. (Foto: Thailla Torres)

No fim de semana, violões, poesia e discursos dividiram espaço com a sombra das árvores na Avenida do Poeta, no Parque dos Poderes. O Sarau Cultural “Salve o Parque”, organizado por movimentos ambientais e artistas locais, reuniu um público ainda tímido, mas determinado, para discutir o futuro de uma das áreas verdes mais simbólicas de Campo Grande.

O encontro, que durou das 9h ao meio-dia, teve o objetivo de registrar uma inquietação crescente entre moradores, ambientalistas e frequentadores: a preservação da área em meio ao avanço da urbanização no entorno.

Com apresentações de Vosmecê, Banda Yestersom, Odon Nacasato e da performance cigana conduzida por Bruno Guimma, artistas que doaram seus cachês, o sarau usou a cultura como porta de entrada para um debate que já atravessa anos, o impacto da ocupação urbana ao redor do Parque do Prosa e do Parque das Nações Indígenas.

“É amor pelo Complexo do Parque dos Poderes”, destacou a advogada ambiental Gisele Marques, uma das vozes mais atuantes na defesa da área, que abriu o evento explicando o porquê da mobilização.

Segundo ela, o Parque do Prosa, unidade de conservação de proteção integral exige, por lei, uma zona de amortecimento ao redor para garantir a proteção da fauna e da vegetação. Essa regulamentação, porém, ainda não foi aprovada. “Estamos aqui hoje desembarcando uma posição de amor pelo Complexo do Parque dos Poderes”, disse.

Sarau começa tímido, mas reúne quem deseja salvar região do parque
Público assitiu apresentações de dança e música durante o sarau. (Foto: Thailla Torres)

Ao longo de sua fala, Gisele destacou o risco que grandes edificações podem representar para as aves que caracterizam o microclima da região. “Por conta de não termos a zona de amortecimento, a prefeitura municipal de Campo Grande vem liberando várias licenças ambientais e alvarás. O pior ainda... são as licenças para construção de arranha-céus com fachada espelhada. Isso é uma maldade contra as aves que nós temos aqui.”

Ela lembrou que Campo Grande tem legislação que reconhece a cidade como polo de turismo de observação de aves, e que muitas espécies migratórias dependem da integridade da área. “A gente acorda em Campo Grande ouvindo os passarinhos cantarem. Só que isso está prestes a acabar. As aves chocam com as fachadas espelhadas.”

A advogada também contextualizou a luta ambiental iniciada em 2019 e algumas decisões judiciais envolvendo desmatamento e licenças. “Esse primeiro ato demarca a nossa posição de não aceitarmos o que está acontecendo no entorno do Parque dos Poderes”, concluiu.

O vereador Landmark Rios participou do sarau e reforçou que a mobilização da sociedade civil é essencial para a garantia de políticas públicas que conciliem desenvolvimento e preservação.

Falando depois de Gisele, ele destacou o cenário social da cidade e a necessidade de vigilância permanente sobre projetos que impactam diretamente a qualidade ambiental.

“Nós temos que estar vigilantes junto com o poder judiciário para cuidarmos do Parque dos Poderes”, afirmou. O vereador também lembrou que o espaço é um dos poucos pontos da cidade em que ainda é possível vivenciar um microclima preservado, frequentado por famílias nos fins de semana. “Por trás disso tem todo um movimento acontecendo há anos”, disse ao reconhecer o trabalho de ambientalistas e advogados envolvidos na pauta.

O advogado e presidente da Comissão de Direitos Humanos, Vicente Mota de Souza Lima, destacou que a discussão vai além da paisagem natural. “O meio ambiente é um direito humano. Sem água, sem ar de qualidade, sem os serviços ecossistêmicos, a gente não tem qualidade ambiental adequada”, afirmou.

Ele também chamou atenção para o impacto das grandes construções no microclima da região, lembrando que a sombra das árvores, ainda abundante dentro do parque, já não se repete igualmente nos bairros ao redor. “A gente não é contra o desenvolvimento econômico, é o contrário. Mas que o desenvolvimento seja com equilíbrio”, afirmou.

Abrindo apresentações, o turismólogo e bailarino Bruno Guimma conduziu a dança cigana com um discurso que conectou cotidiano e meio ambiente.

“O meio ambiente não é só quando a gente vai para Bonito ou para o Pantanal. Ele faz parte da nossa rotina. A partir do momento que eu abro a torneira, eu já estou utilizando recursos naturais”, disse.

Ele também lembrou que o próximo ano é eleitoral e que decisões de preservação dependem de políticas públicas. “A gente precisa de parlamentares comprometidos com o meio ambiente”

Os organizadores prometem novos encontros, sempre com música, arte e mobilização social. O objetivo não é travar uma guerra política, mas lembrar que preservação ambiental e crescimento urbano não precisam, e não devem, existir em lados opostos.

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