Abertura de mercado pode aumentar preço da carne, avalia Famasul
Brasil negocia com Japão, Indonésia, Coreia do Sul e está na expectativa do Acordo Mercosul-União Europeia
O presidente da Famasul (Federação de Agropecuária e Pecuária de Mato Grosso do Sul), Marcelo Bertoni, falou hoje (27) sobre o mercado da carne durante evento em Campo Grande que discutiu com pecuaristas os desafios para manter o Estado livre da aftosa.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
A abertura de novos mercados para a carne brasileira pode resultar em aumento de preços para o consumidor nacional, segundo o presidente da Famasul, Marcelo Bertoni. A declaração foi feita durante evento técnico em Campo Grande que discutiu os desafios para manter Mato Grosso do Sul livre da febre aftosa. Entre os potenciais compradores estão Japão, Indonésia e Coreia do Sul, mercados mais exigentes e que pagam melhor pelo produto. Atualmente, a China é o principal importador, tendo aumentado suas compras de R$ 4 bilhões para R$ 7 bilhões, situação que preocupa o setor pela dependência de um único mercado.
A busca por novos mercados, reforçada após o Estado alcançar o status de livre da aftosa e depois do tarifaço imposto pelo presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, poderá resultar no encarecimento do produto para o brasileiro, na avaliação de Bertoni.
- Leia Também
- MS se livra dos Estados Unidos, mas setor da carne está na mira da China
- Trump retira tarifa de 40% sobre café, carne e 200 produtos do Brasil
"Eu acho que faltar não vai faltar. Temos diminuído o nosso retorno, mas temos aumentado a carcaça, a entrega de carcaça. O que pode acontecer é haver um aumento, sim, do valor da carne aí no mercado interno", disse.
Para o presidente da Federação, a redução do preço de outras proteínas de origem animal poderá ajudar, se a carne bovina ficar mais cara. "Baixou o preço [delas] e a gente consegue equilibrar isso dessa forma".
O período de seca poderá ser o mais crítico. O presidente da Famasul destaca uma alternativa. "A carne vai subir principalmente por falta de oferta, o que na seca é um problema. Mas isso está sendo pensado com os confinamentos que estão vindo para o Estado, que está aumentando o número de confinamentos. Aí sim, teremos uma produção maior na entressafra para manter sempre a mesma quantidade e não ter esses efeitos na conta", explica.
Entre os novos mercados em vista estão o Japão e a Indonésia, por exemplo, sendo o primeiro o mais próximo de uma negociação. Marcelo Bertoni acrescenta a expectativa com a assinatura do Acordo Mercosul-União Europeia, que vai facilitar negócios entre países membros.
Pagam mais - Presente no evento, a diretora de relações internacionais da CNA (Confederação Nacional da Agricultura), Sueme Mori Andrade, destacou também a Coreia do Sul como um mercado visado além do Japão e da Indonésia. Em comum, o trio está na lista dos que pagam melhor pela carne no mundo.
"São mercados mais exigentes, mercados que exigem certificação, grandes em volume, mas mais do que grandes em volume, são mercados que pagam melhor do que os mercados que não têm esse tipo de exigência", começou.
Os negócios estão mudando de patamar desde que o Brasil alcançou o status livre de aftosa, analisa Sueme. "Mesmo para aqueles para onde a gente já manda, o fato de termos alcançado essa certificação põe a carne brasileira numa outra prateleira, uma prateleira premium. Até nas negociações com países para onde a gente já exporta ou novos países, ela passa a ter um diferencial", defende.
"Demora um pouco para esses acordos efetivamente se transformarem em aumento de comércio, mas há uma expectativa muito positiva", conclui a diretora.
Tarifaço - O fim da sobretaxa imposta por Trump foi decidido em 20 de novembro. Ainda na avaliação de Bertoni, quando ela estava em vigor, a medida não afetou a carne brasileira porque houve uma triangulação entre o México e a China, principalmente com o país asiático, que aumentou suas cotas e hoje é o principal comprador do produto.
"Tanto é que nós também não tivemos queda no valor da arroba aqui no Estado, mesmo com o tarifaço", destacou. Por outro lado, o cenário acabou deixando o Brasil "refém" da China, segundo o presidente da Famasul.

Enquanto negociadores buscam novos mercados para a carne de Mato Grosso do Sul e de outras fontes brasileiras, a China faz uma investigação sobre o produto, e os resultados devem sair apenas em janeiro de 2026.
"Nós corremos o risco de, de repente, sair uma decisão da China de diminuir nossas importações e de nós não termos onde colocar a nossa carne. E aí? São preocupações que nós realmente temos aqui. Estamos olhando, estamos atentos, nós estamos tentando achar outros caminhos, fortalecendo outras ações, principalmente tentando com que o nosso ministro [da Agricultura e Pecuária] tenha a capacidade de abrir novos mercados, porque nós não podemos ficar reféns de um mercado tão grande", concluiu Bertoni.
Números - Entre janeiro e agosto deste ano, Mato Grosso do Sul exportou um total de US$ 7,24 bilhões, o que representa um aumento de 3,26% em relação ao mesmo período do ano anterior. Os dados são da Carta de Conjuntura do Comércio Exterior (agosto/2025) da Semadesc (Secretaria de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação).
No mesmo período, o superávit da balança comercial ficou em US$ 5,53 bilhões, 8,4% maior em relação ao registrado em 2024. Nos primeiros dez meses de 2025, o agronegócio de Mato Grosso do Sul exportou US$ 8,54 bilhões. O resultado foi 2,7% superior ao valor no mesmo período em 2024. A participação do agronegócio representou 94,1% em relação a tudo que o Estado exportou.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.




