Da foto à tragédia: atrair onças com ceva é um risco para humanos e para animais
Evento promovido pelo SOS Pantanal debate os conflitos com grandes felinos
A busca pela melhor foto ou o desejo de ver um animal selvagem mais de perto por meio da oferta de alimento pode transformar um momento de entretenimento em tragédia. Esse foi um dos exemplos utilizados pelo presidente do Ibama (Instituto Brasileiro de Meio Ambiente), Rodrigo Agostinho, durante o I Workshop Internacional Conflitos com Grandes Felinos: Riscos, Causas e Soluções, promovido pelo Instituto SOS Pantanal. Segundo ele, a prática é desnecessária e arriscada, pois o felino é um animal que sabe caçar e encontra alimento facilmente na paisagem do Pantanal.
RESUMO
Nossa ferramenta de IA resume a notícia para você!
Agostinho explicou que a coexistência de onças com humanos é histórica no Brasil e que ataques a pessoas são raros. No entanto, ele alertou para o "abuso" de quem tenta atrair os animais, seja para conseguir uma boa foto ou com a prática da ceva, que é o ato de colocar alimento para o animal. “É um animal que, na paisagem aqui do Mato Grosso do Sul, ou mesmo no Mato Grosso, consegue encontrar alimento facilmente”, disse, reforçando que essa prática coloca tanto o animal quanto o ser humano em risco.
Ele pontuou ainda que a presença da onça na cadeia alimentar é importante para a saúde do ecossistema. “A existência da onça num local prova que aquele ambiente está em equilíbrio ambiental”, explicou. O presidente do Ibama enfatizou a importância de o debate ser realizado na Famasul (Federação da Agricultura e Pecuária de Mato Grosso do Sul), casa do produtor rural, para tratar dos conflitos que surgem quando esses animais encontram o gado nas propriedades.
O coronel Ângelo Rabelo, do Instituto Homem Pantaneiro, reforçou a fala de Agostinho ao dizer que a existência das espécies vai ajudar a valorizar ainda mais a propriedade, com a onça se tornando um valor biológico e também econômico. Ele disse que o evento é motivo de orgulho para Mato Grosso do Sul, que protege a espécie há mais de 300 anos.
Sobre o desafio da conservação, o coronel destacou que o principal problema é lidar com a realidade e as "fake news". “Eu já estou há 40 anos no Pantanal e não tenho nenhum indicativo que nós tenhamos superpopulação”, afirmou, acrescentando que o aumento de registros de onças se deve à facilidade de fotografar e filmar com a tecnologia, e não a um aumento real da população.
Gustavo Figueroa, diretor do SOS Pantanal, explicou que o workshop é um evento internacional, com palestrantes da Índia, África, Estados Unidos e Bangladesh. A ideia é aprender com a experiência deles em lidar com animais como leões, tigres e leopardos, onde os conflitos são mais intensos e as mortes são mais frequentes. “A ideia é que a gente beba dessa fonte e adapte para a realidade que a gente tem aqui no Brasil”, explicou.
O evento, que reuniu cerca de 100 pessoas presencialmente e 300 online, contou com a participação de diferentes setores da sociedade, como produtores rurais, militares e ribeirinhos. Figueroa destacou que o painel sobre o caso de Corumbá servirá para discutir como o município, no coração do Pantanal, lida com o problema de forma geral. A ideia é focar não apenas em ataques a pessoas, mas também a animais de criação e em encontros inesperados.
A conclusão do evento, que segue até amanhã, não resultará na assinatura de uma política pública imediata, mas na elaboração de um documento técnico-científico. Conforme Figueroa, um rascunho com os temas principais será elaborado e, nas semanas seguintes, o documento final será consolidado em comum acordo com a comunidade organizadora. Posteriormente, o material será enviado aos órgãos responsáveis pela biodiversidade para que se torne uma política pública.
Receba as principais notícias do Estado pelo Whats. Clique aqui para acessar o canal do Campo Grande News e siga nossas redes sociais.