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Meio Ambiente

Debaixo de fogo, Pantanal tem cenas de deserto e sofrimento de animais

Silvio de Andrade, especial para o Campo Grande News | 27/09/2020 15:40
Equipe resgata cobra de em meio ao cenário de seca (Foto: Silvio de Andrade)
Equipe resgata cobra de em meio ao cenário de seca (Foto: Silvio de Andrade)

A combinação seca e fogo transforma áreas de inundação e de vegetação nativa do Pantanal em um ambiente desértico, sem água e com cinzas onde a alta temperatura reinante e trazida pelas queimadas deixou o solo esturricado, lembrando o Nordeste brasileiro. Nesse cenário de destruição, devido à prolongada estiagem e mudanças climáticas e ambientais, a fauna pantaneira sente o impacto desses efeitos na natureza.

Levantamentos preliminares apontam grande mortandade de animais e destruição de ninhais. Um grupo formado por biólogos e veterinários da ONG Projeto Gaiola Aberta, de São Paulo, está na área e encontrou peixes agonizando em uma lagoa parcialmente seca situada aos fundos da comunidade ribeirinha da Barra do São Lourenço, a 220 km ao Norte de Corumbá. Os voluntários encontraram anfíbios e repteis mortos pelo fogo no seu entorno.

Ontem, o Instituto Homem Pantaneiro (IHP), ONG de Corumbá que gerencia várias unidades de conservação nesta região da Serra do Amolar, iniciou um trabalho de resgate de animais na extensa área queimada na RPPN (Reserva Particular do Patrimônio Natural) Eliezer Batista.

Capivara, com as patas queimadas, não resistiu aos ferimentos (Foto: Silvio de Andrade)
Capivara, com as patas queimadas, não resistiu aos ferimentos (Foto: Silvio de Andrade)

Uma capivara fêmea adulta foi trazida da Baía Morro do Campo, com queimaduras de terceiro grau nas patas e cabeça e debilitada, foi medicada mas não resistiu e morreu.

“É uma tristeza enorme, frustração por querer ajudar e saber que isso é consequência de como nós, seres humanos, nos relacionamentos com esse pedaço este espaço do planeta”, lamenta o veterinário Diego Viana, 32, do IHP.

Ele e outros funcionários da ONG se esforçaram para salvar a capivara, carregando-a nos ombros por três quilômetros, distância entre a baía e a sede da instituição. “As dificuldades de resgate se resumem na falta de infraestrutura.”

Socorro aos animais

Acompanhado pela equipe do Gaiola Aberta – biólogos Leandro Javarini e Allan Cle Porto e a veterinária Ana Carolina Moura -, Diego Viana resgatou uma sucuri de dois metros da mesma baia, solta depois em outra lagoa próxima, e monitora uma capivara com queimadas em todo o corpo, a qual refugiou-se na mata. Foram encontradas três sucuris e um tatu-canastra, espécie em extinção, todos mortos. Dois jacarés ainda resistem em uma pequena área alagada.

Equipe é formada por biólogos e veterinários (Foto: Silvio de Andrade)
Equipe é formada por biólogos e veterinários (Foto: Silvio de Andrade)

O fogo foi intenso e rapidamente queimou toda a área no entorno da baia, impedindo que animais rápidos como as capivaras conseguissem fugir a tempo. “É um impacto muito grande na fauna, pois o fogo queimou o habitat desses animais”, explica o veterinário. A região do Amolar, onde concentra a rede de 230 mil hectares de unidades de conservação, é considerada uma das mais expressivas em biodiversidade do Pantanal.

O IHP projeta a instalação de uma brigada pantaneira para prevenção e combate aos incêndios florestais e lançou uma campanha para captar recursos na iniciativa privada para criar o Centro Emergencial de Atendimento à Fauna (CEAF) na região. Uma espécie de pronto-socorro para receber e prestar primeiros atendimentos aos animais. O diretor da ong, Ângelo Rabelo, cobra do governo a instalação de um centro de reabilitação da fauna local em Corumbá.

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