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Política

Com chance de recurso, Neno Razuk segue com mandato na Assembleia

Presidente da Alems diz não ter recebido notificação da Justiça e cita direito de defesa e recurso do deputado

Por Mylena Fraiha e Fernanda Palheta | 17/12/2025 12:59
Com chance de recurso, Neno Razuk segue com mandato na Assembleia
Deputado estadual Neno Razuk durante sessão da CCJR, realizada ontem, na Assembleia Legislativa (Foto: Luciana Nassar/Divulgação).

Mesmo condenado a 15 anos de prisão em decisão de primeira instância, o deputado estadual Roberto Razuk Filho, o Neno Razuk (PL), segue exercendo normalmente o mandato na Alems (Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul). Nesta quarta-feira (17), o parlamentar participou da sessão ordinária de forma remota e votou os projetos pautados durante a ordem do dia.

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O deputado estadual Neno Razuk (PL) continua exercendo seu mandato na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul, mesmo após condenação em primeira instância a 15 anos de prisão. A permanência é justificada pela ausência de trânsito em julgado e falta de notificação oficial à Casa. A condenação, proferida pelo juiz José Henrique Kaster Franco, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, refere-se à participação em organização criminosa armada voltada à exploração do jogo do bicho e prática de roubos. O parlamentar foi sentenciado a 15 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão em regime fechado, além de 5 meses em regime aberto.

A permanência do deputado nos trabalhos legislativos ocorre porque a sentença ainda não transitou em julgado e porque, segundo o presidente da Assembleia, deputado estadual Gerson Claro (PP), não houve notificação oficial da Justiça até o momento.

“A presidência não vai manifestar sobre a conclusão do processo, até porque é uma decisão de primeira instância e não fomos notificados ainda. Nós sempre defendemos o direito de defesa, o devido processo legal”, disse. “Nós vamos manter como estamos hoje até receber isso”, afirmou Gerson.

Com chance de recurso, Neno Razuk segue com mandato na Assembleia
Gerson Claro diz que não houve notificação oficial da Justiça até o momento (Foto: Wagner Guimarães/Alems).

A decisão foi proferida na última terça-feira (15) pelo juiz José Henrique Kaster Franco, da 4ª Vara Criminal de Campo Grande, que condenou Neno Razuk e outras 11 pessoas por integrar organização criminosa armada, com atuação estruturada voltada principalmente à exploração do jogo do bicho e à prática de roubos.

A pena imposta ao parlamentar é de 15 anos, 7 meses e 15 dias de reclusão, em regime fechado, além de 5 meses de detenção, em regime aberto, pelos crimes de organização criminosa, roubo majorado e exploração do jogo do bicho.

Gerson também ressaltou que, conforme a decisão judicial, os crimes atribuídos ao parlamentar não têm relação com o exercício do mandato. “Não é um crime correlato às ações aqui da Assembleia Legislativa”, disse. “Então, até que o processo esteja transitado em julgado, ou que tenha alguma decisão influenciando o trabalho aqui na Casa, nós vamos manter como estamos hoje até receber isso”, afirmou.

Sem notificação — O corregedor da Alems, deputado estadual Junior Mochi (MDB), reforçou que a Corregedoria não pode agir de ofício e que qualquer providência depende de provocação formal por parte da Justiça.

“A Corregedoria não é um órgão proativo de abrir inquérito a menos que você seja provocado. Nós temos que receber por parte dos órgãos, no caso da Justiça, qualquer que seja a informação, não só em relação à condenação e aquilo que eles entendem como providências cabíveis. A partir do momento que dá entrada na Casa, aí nós vamos tomar as providências que o nosso próprio regimento diz”, afirmou Mochi.

Segundo Mochi, “não cabe a nós tomarmos uma medida sem ter a provocação; é igual à Justiça. A Justiça age na medida em que ela é provocada”.

O corregedor destacou ainda que a possibilidade de recurso impede uma atuação imediata da Assembleia. “É uma sentença de primeiro grau. Cabe recurso em relação a essa decisão, tanto ao Tribunal de Justiça quanto, depois, às outras instâncias, como STJ e etc. Então, acho que é prematuro, neste momento, a Assembleia tomar, e a Corregedoria, de modo especial, tomar a iniciativa de propor qualquer coisa aqui”, disse.

Questionado sobre a proximidade do recesso parlamentar e a ausência de notificações, Mochi afirmou que a Casa não recebeu nenhum comunicado oficial até agora. “Até agora não remeteram justamente porque é uma sentença de primeiro grau e não consta na sentença que comunique a Assembleia Legislativa. Então, nós não tivemos e não recebemos”, afirmou.

Segundo Mochi, a tendência é que a comunicação só ocorra após uma decisão definitiva. “Acredito também que nós só vamos receber no momento em que você tenha uma decisão condenatória definitiva. Se a própria Justiça, se o próprio regramento jurídico permite o recurso àquele que teve a decisão contrária, é natural que a Casa também tenha essa mesma preocupação e garanta a ampla defesa”, completou.

Decisão — Segundo a sentença, entre janeiro e dezembro de 2023, os acusados mantiveram uma organização criminosa “estruturalmente ordenada, dotada de hierarquia interna e divisão de tarefas”, com atuação contínua em Campo Grande. Para o magistrado, “não se está diante de um agrupamento eventual e ocasional de pessoas”, mas de um grupo estável e articulado para a prática de crimes.

No caso de Neno Razuk, o juiz afastou qualquer relação entre o mandato parlamentar e os crimes julgados, mas rejeitou a tese de foro privilegiado. “Nenhum desses delitos têm a mais remota ligação com o exercício das atribuições constitucionais esperadas e exigíveis de um deputado estadual”, escreveu. Segundo a decisão, “não cabe aqui proteger a pessoa do réu em face do livre exercício do cargo, mas justamente o contrário, proteger o exercício do múnus público dos crimes tributados a ele”.

A acusação sustentou que Razuk participou diretamente da organização criminosa e o responsabilizou por três roubos ocorridos em 16 de outubro de 2023, todos praticados com uso de arma de fogo contra vítimas que transportavam valores. Além dos assaltos, a sentença reconheceu que a base econômica do grupo era a exploração sistemática do jogo do bicho, que, segundo o magistrado, exige “estrutura duradoura, constante e ininterrupta”, com apontadores, logística, tecnologia e controle financeiro.

Durante a investigação, foram apreendidas 705 máquinas eletrônicas de apostas e veículos ligados aos crimes. O juiz rejeitou todas as alegações da defesa sobre nulidades e provas ilícitas e concluiu que a organização se sustentava também pelo uso da força. “Para garantir os lucros e afastar concorrentes, a organização necessariamente se estabelece não pelo direito, mas pela força”, afirmou.

À reportagem, o advogado de Neno Razuk, João Arnar Ribeiro, havia dito que ainda não houve intimação formal da decisão e que a defesa irá recorrer no momento oportuno.

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