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Política

Partidos se encolhem na disputa pelo poder na política de interesses

Wendell Reis | 11/01/2012 09:06
Professor Eron Brum: Enfraquecimento da ideologia começou na década de 1970.
Professor Eron Brum: Enfraquecimento da ideologia começou na década de 1970.

Neste ano o Brasil inteiro vai escolher os novos prefeitos e vereadores que ficarão nos cargos por quatro anos. Embora já tenha começado desde o ano passado, em 2012 as negociações se intensificam e é comum ouvir líderes dizerem que vão conversar com todos os partidos.

A frase soa de maneira estranha para quem se acostumou a ouvir falar de partidos de esquerda ou de direita, ou mesmo para quem acompanhou os acalorados e históricos debates presidenciais, com trocas de acusações, levando a questão para o lado de partidos e não de administração.

A mudança de atitude e comportamento acaba refletindo na maneira de administrar e atingindo diretamente à sociedade. O Campo Grande News ouviu alguns representantes de partidos para saber o que eles pensam a respeito desta conjuntura, entendida por alguns como uma nova forma de administrar e por outros como uma troca de interesses.

O deputado Paulo Duarte (PT) atribui a nova atitude ao tamanho do País, de dimensões comparáveis a de um continente, com sete mil municípios e uma infinidade de partidos, em sua maioria sem representatividade, o que acaba repercutindo na política local. Ele avalia que neste ano a questão é ainda mais difícil porque as eleições são municipais e defende questões local, que muitas vezes se diferenciam do que é articulado nacionalmente. Porém, defende que é preciso ter coerência.

“Não pode faltar coerência. Ter em um partido o mais voraz adversário e na eleição, por interesse mútuo, acaba coligando. As alianças hoje são muito pragmáticas. Só vê tempo de TV e o aspecto político fica em segundo plano. Tem que se manter o mínimo de coerência. O que disse ontem não vale mais? A base principal do problema é que no País não se faz reforma política. Se acabassem as coligações na proporcional já seria um grande avanço”.

O deputado avalia que o seu partido teve um grande trunfo nas eleições. “Todo mundo temia. Coisa de radicais. Mudou o País. O grande trunfo do PT é que faz uma administração que mudou o País. É um partido que sempre foi oposição, mas reconheceu que a estabilidade econômica é fundamental. Fez alianças pragmáticas, que eu não aprovo. Mas, o resultado disso e que interessa é que a mudança foi importante para a população. O Lula fez alianças para administrar. Ruim ou boa para o PT? Tem aspecto negativo e político, mas foi boa para a população”.

O professor Eron Brum, doutor em Ciência da Comunicação, explica que o enfraquecimento da ideologia começou na década de 1970, com o fim da União Soviética e a queda do Muro de Berlin, dando início ao pragmatismo. Desta maneira, no mundo de hoje o interesse maior é no que vai ganhar e os ideais deixaram de existir com a globalização.

Brum entende que PT, PMDB, DEM e até o recente PSD têm programas exatamente iguais. “O Mato Grosso doSul tinha uma coisa forte: de um lado o PT e do outro o PMDB. Vira barganha. É até natural o e PMDB se aliar, porque nacionalmente o PMDB sustenta o PT... Hoje o PSD, fundado agora, é o terceiro maior partido do País. É uma coisa de doido”.

Eron Brum lembra que o PMDB se transformou no maior partido do País porque aglutinou a maioria dos oposicionistas e o PT pela atual administração. “Hoje estão todos no mesmo saco. Admitindo-se conversa entre Delcídio e o André, com o Zeca reclamando, porque quer disputar. Pragmatismo e um processo parecido com o comercio”.

Para Brum, a população não deve ser tratada como vítima, mas como reflexo. “Quem elege os partidos somos nós e a sociedade não tem ideologia. Esquece em quem votou e é tão culpada quanto os partidos e refletem este partido. O eleitor pensa deste jeito. Por isso, não muda e a reforma política esta há 20 anos no Congresso. Para que fazer se a população que é a mais interessada não se mobiliza”, analisa, ressaltando que o pragmatismo atinge diversos segmentos.

Deputado Fábio Trad (PMDB-MS): Movimentos sociais ocuparam espaço dos partidos.
Deputado Fábio Trad (PMDB-MS): Movimentos sociais ocuparam espaço dos partidos.

Movimentos sociais - O deputado federal Fábio Trad (PMDB-MS) avalia que a definição de partido de esquerda ou de direita não se sustenta mais porque o mundo ideologicamente é um só. Ele analisa que hoje o que impera e é precisa-se de uma reflexão, é a força do mercado, que por estar muito consolidada, acaba sufocando a própria política. Trad acredita que as ideologias começaram a perder força quando começaram a surgir os movimentos sociais, indicando uma alternativa contra o império do mercado.

Trad afirma que nunca teve preconceito contra o PT e outros partidos de esquerda, revelando que com exceção de uma vez, sempre votou no ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Agora que o PT assumiu o poder deve colocar em pratica o que lhe inspirou a chegar no poder, que é o realinhamento de força entre o poder mercado. Hoje não classifico mais como direita, centro e esquerda. É só uma classificação formal. O que diferencia é a predominância do estado em relação ao mercado, do mercado em relação ao estado e o reequilíbrio entre estado e mercado. Por isso, estou a vontade no plano de embate de ideias junto a bancada do PT”.

O deputado também acredita que tanto na Câmara como no Senado, acabou-se a visão do Brasil e tudo está muito setorizado, com representantes, a exemplo, de médico, evangélico, católico etc. “Precisa de uma visão geral. Quando se discute e exige visão global, estes deputados que representam setores não têm condições teóricas de sustentar ponto de vista. Isso não é bom. Dentro do PT tem setor que defende o ruralismo. Para ver como esta questão ideológica já pulverizou. E no DEM também há quem defenda um aumento da intervenção do mercado”.

O presidente da Câmara Municipal de Campo Grande, Paulo Siufi (PMDB), acredita que existe diferenças ideológicas, a exemplo, entre PT e PMDB. Entretanto, entende que os partidos podem conviver sem problemas. Porém, acredita que a população não entenderia se ele trocasse o PMDB pelo PT. “Igual time de futebol. Sou São Paulino, como vai ficar se eu colocar uma camiseta do Corinthians? Aqui a população não aceitaria por que a disputa entre André e Zeca, dois maiores líderes de cada partido, foi bem pontual. Mas, nada impede de no futuro a gente estar no mesmo barco, assim como na nacional”.

Deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS): Mensalão desconfigurou ideais.
Deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS): Mensalão desconfigurou ideais.

Desconfiguração ideológica -n O deputado Luiz Henrique Mandetta (DEM-MS) entende que a queda das ideologias é fruto da maneira como o Governo Federal conduz suas alianças. Ele acredita que os problemas começaram com o “Mensalão” e divisão do PMDB, o que fez o Governo Federal passar a fazer coligações de resultado, entregando pastas para os partidos administrarem. “Foi uma fórmula de governabilidade encontrada.

“A coligação deixou de ser ideológica e passou a ficar mais voltada para a administração e gestão e faz com que no momento de composição se escolha para que pasta o partido fará a gestão. Diferente das composições anteriores. Naquele momento de crise, iniciou-se um processo de sustentabilidade governamental por meio de distribuição”.

Mandetta também atribui parte da culpa pela perda de ideologia aos 41 partidos existentes. “Não para de surgir partidos novos. Se a regra é essa, monta, pede tempo (na televisão) e na hora da eleição pede uma secretaria ou isso e aquilo. O fim da coligação na proporcional faria com que escolhesse e ficasse em torno de oito fortes. Aosição de direita e esquerda foi exterminada e nem cabe em analise política.

Para exemplificar a queda da ideologia, o deputado lembra que o PDT que defende o trabalhismo, votou a favor de que o salário mínimo seja definido por decreto presidencial em nome da sua atuação no governo. “Não vê mais centro, direita e esquerda, embolado, tudo muito igual e parecido. A própria governabilidade acaba com as ideologias”.

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