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2010: Da recuperação para o crescimento acelerado?

Por José Luis Oreiro (*) | 27/12/2010 08:14

O ano de 2010 ficará para a história do Brasil como um dos momentos de maior crescimento do PIB nos últimos 30 anos.

Após amargar uma contração de 0,2% no PIB em 2009, devido aos efeitos da crise financeira internacional e da relutância irracional do Banco Central em reduzir os juros num contexto de queda catastrófica do nível de atividade econômica no último trimestre de 2008, a economia brasileira deverá experimentar um crescimento de 7,5% no ano de 2010.

Essa performance invejável do PIB vem acompanhada pela redução da taxa de desemprego para cerca de 6% da força de trabalho, o menor nível da série histórica, o que para alguns já sinaliza que a economia brasileira opera próxima ao “pleno-emprego”.

No apagar das luzes do governo Lula, finalmente se apresenta o tão prometido “espetáculo do crescimento”. Mas será que essa aceleração do crescimento é sustentável ou o Brasil irá vivenciar, mais uma vez, o clássico stop-and-go que marcou a trajetória da nossa economia desde o final da década de 1970?

Uma análise mais cuidadosa e menos ufanista da situação da economia brasileira nos leva a ser bastante céticos a respeito da capacidade do Brasil em sustentar um ritmo acelerado de crescimento a médio-prazo.

O crescimento acelerado de 2010 foi, em larga medida, viabilizado pela capacidade ociosa gerada pela queda catastrófica da produção industrial no último trimestre de 2008 e pela semi-estagnação da mesma no primeiro trimestre de 2009.

Nesse contexto, a forte expansão fiscal contratada em 2008 por intermédio do aumento dos salários dos funcionários públicos conjugada com a elevada expansão do crédito por parte dos bancos públicos (BNDES, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal) em 2009, permitiu uma expansão acelerada da demanda agregada a partir do segundo semestre de 2009, induzindo assim um ciclo de recuperação do nível de renda e de emprego pela simples ocupação de capacidade produtiva ociosa.

O problema é que a capacidade ociosa está rapidamente chegando ao fim, o que começa a gerar pressões inflacionárias em diversos setores da atividade econômica.

Devido a permanência de uma elevada taxa real de juros, câmbio apreciado e baixo investimento público em infraestrutura, a formação bruta de capital fixo como proporção do PIB se mantem ainda em torno de 18%, nível insuficiente para viabilizar uma expansão da capacidade produtiva ao ritmo pretendido pelo governo de 5,5% ao ano.

Dessa forma, as pressões inflacionárias só poderão ser debeladas pelo método tradicional de elevação da taxa básica de juros para conter a expansão da demanda agregada. O ano de 2011 deverá começar, portanto, com um novo ciclo de elevação da Selic, restabelecendo-se assim o velho padrão stop-and-go que marcou a economia brasileira nos últimos 30 anos.

O crescimento sustentado a taxas robustas só poderá ser obtido quando o governo mudar o modelo macroeconômico vigente no Brasil de maneira a viabilizar uma redução sustentada da taxa real de juros, a obtenção de uma taxa de câmbio competitiva e um nível robusto de investimento do setor público.

(*) José Luis Oreiro é professor do Departamento de Economia da Universidade de Brasília. Doutor em Economia da Indústria e da Tecnologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e mestre em Economia pela Pontifícia Universidade Católica do Rio de Janeiro. Publicou cerca de 50 artigos em revistas científicas no Brasil e no exterior e é co-organizador dos livros Agenda Brasil: políticas econômicas para o crescimento com estabilidade de preços (Monole) e Sistema Financeiro: uma análise do setor bancário brasileiro (Campus).

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