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A aviação brasileira tem, sim, solução

Por Adyr da Silva (*) | 13/01/2011 06:37

Em início auspicioso, o Governo Dilma imprimiu prioridade e atenção à aviação civil, palco de crise continuada e surtos recorrentes, unanimidade nacional em críticas, contestações e reclamações, cujo lado visível é o congestionamento e tumulto nos principais terminais de passageiros. O problema, entretanto, tem raízes e contornos mais complexos do que o lado visível para o usuário e a mídia.

O congestionamento é fruto de pátios insuficientes, carência de pistas, não conformidades a normas de segurança, tecnologia desatualizada ou não aplicada, inviabilidade na aplicação de recursos até tornados suficientes e gestão profissionalizada nos escalões mais elevados. Deste último fator de crise, consta a falta de conhecimento, familiarização, experiência, especialização, convivência e treinamento nos complexos componentes do setor.

A UnB, oferecendo tradicionalmente programas de capacitação e especialização nessa área de conhecimento, bem sabe das dificuldades em preparar especialistas na quantidade e qualidade requerida pelo dinamismo do transporte aéreo brasileiro.

Enquanto o transporte aéreo cresce a taxas de dois dígitos movidas pela inclusão social, expansão do PIB e tarifas competitivas e facilitadas, uma das grandes conquistas sociais dos últimos anos, ou seja, a comemorada inclusão do transporte aéreo na cesta de bens e serviços da população, está sendo transformada em problema. Isso pela impossibilidade da oferta de serviços de infraestrutura em acompanhar a crescente demanda.

Na década, o crescimento anual da demanda tem ultrapassado o da oferta aeroportuária em quase cinco milhões de passageiros. Resultado: ao final de 2010 foram movimentados nos aeroportos brasileiros 38 milhões de passageiros acima da capacidade instalada.

Com isso, gera-se desconforto, redução de qualidade do serviço e ineficiência. Esta última, aliada às dificuldades de gestão, geram perturbações na malha, sobrecarga de serviço ao pessoal de terra e de voo, com aumento de custos, indignação dos usuários condições de trabalho deterioradas e o caos no sistema aéreo. Esse mau funcionamento e a piora no ambiente de trabalho são componentes de insatisfação desaguando, juntamente com reajustes salariais periódicos, no movimento grevista e até no movimento de emigração.

A profissionalização anunciada pelo governo é componente inquestionável da solução desse caos. Esbarrará, no entanto, na extrema dificuldade de afastamento de indicações políticas e de apadrinhados, muitos deles já autointitulados especialistas, embora sem nenhuma formação aeronáutica, mas ao abrigo do exercício de cargos como evidência duvidosa de preparação, agindo como se não fossem responsáveis na construção dessa verdadeira Arca de Noé.

Qualquer solução para a crise continuada esbarra em duas claras vertentes. Primeiro, a gestão emergencial e imediata com os meios disponíveis, os quais são substanciais. Ao mesmo tempo a busca de soluções estruturais, as quais exigirão tempo e discussão de especialistas, com ou sem privatização, com reformulação da Infraero e do sistema como um todo, captura de investidores e busca de transparência, novos meios de formação e treinamento. Enfim, completa reformulação exigindo cuidadoso trato, profissionalização e competência em cada passo, apoiado na vontade política de mudar.

(*) Adyr da Silva é professor do curso de pós-graduação de Gestão de Aviação Civil, do Centro de Formação de Recursos Humanos em Transportes (CEFTRU), da Universidade de Brasília, Brigadeiro da Aeronáutica e ex-presidente da Empresa Brasileira de Infra-estrutura Aeroportuária (Infraero). Possui graduação em Engenharia Mecânica pelo Instituto Militar de Engenharia, graduação em Ciências Econômicas pela Universidade Gama Filho, especialização em DESS em Transporte Aéreo pela Institut de La Formation Universitaire Et La Recherche Technique, mestrado em Systems And Logistics pela School Of Systems And Logistics e doutorado em Direito e Economia pela Universite d'Aix-Marseille III (Droit, Econ. et.)

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