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A única resposta possível à fome: torná-la prioridade

Por José Graziano da Silva | 28/05/2013 07:30

No ano 2000, os países membros das Nações Unidas se comprometeram a criar ‘um mundo mais pacífico, próspero e justo’ e a ‘liberar homens, mulheres e crianças das condições lamentáveis e desumanas da extrema pobreza’. Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio estabeleceram metas claras e foram fundamentais na hora de juntar esforços e impulsionar o desenvolvimento em muitos países.

Não é por acaso que o primeiro destes objetivos tenha como meta reduzir pela metade a proporção de pessoas que passam fome e vivem em pobreza extrema no mundo em 2015. Derrotar a fome e a pobreza extrema é um requisito indispensável para alcançar os demais objetivos.

A boa notícia é que foram feitos progressos. Até a data de hoje, pelo menos 35 países já alcançaram esta meta. Entre eles, 17 países alcançaram inclusive um objetivo ainda mais ambicioso de reduzir a metade o numero total de pessoas subnutridas, fixado na Conferencia Mundial de Alimentação organizada pela FAO em 1996, incluindo Cuba, Guiana, Nicarágua, Peru, São Vicente e Granadinas e Venezuela.

Contudo, não devemos esquecer que alcançando a meta de reduzir pela metade o número de pessoas que passam fome, a outra metade continuaria sofrendo. O que dizer a esta metade?

Ainda existem cerca de 870 milhões de pessoas que passam fome, 49 milhões delas na América Latina e Caribe. Nosso objetivo deve ser garantir a segurança alimentar para todos, alinhado a estratégia da Iniciativa América Latina e Caribe Sem Fome 2025.

Para alcançar este objetivo necessitamos de um enfoque integral, vinculando âmbitos produtivo e social, e que responda as causas atuais de fome. Diferente de quando a FAO foi criada em 1945, a insegurança alimentar não é hoje um tema de produção – existem alimentos suficientes no mundo – mas de acesso: na maioria dos casos, as pessoas simplesmente não têm renda para comprar os alimentos que necessitam ou os recursos para produzir o que necessitam consumir.

Paradoxalmente, 70% das pessoas em situação de fome e pobreza extrema vivem em zonas rurais e muitas delas são agricultores de subsistência. Se conseguirmos que estes campesinos incrementem sua produtividade, podemos conseguir que alimentem não somente suas famílias, mas também suas comunidades locais.

E como vários países da América Latina e do Caribe estão comprovando, quando vinculamos a agricultura familiar com os programas de proteção social como a alimentação escolar ou as transferências condicionadas, podemos ter resultados ainda mais positivos ao melhorar a dieta das crianças e dinamizar as economias locais.

Estamos a menos de mil dias do prazo para alcançar os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio. É o momento para um impulso final que nos levará também em direção ao objetivo mais ambicioso e necessário: erradicar a fome.

Esta deve ser uma decisão tomada por toda a sociedade, ao mesmo tempo em que garante a segurança alimentar, que é um dever do Estado. O direito à alimentação é um direito humano fundamental, e não um ato de assistencialismo.

Cada vez mais países veem a luta contra a fome a partir dessa perspectiva de direitos humanos, o que facilitará nosso caminho. Ficou claro no processo de consultas organizado pelos governos da Colômbia e Espanha – com o apoio da Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura (FAO) e o Programa Mundial de Alimentos (PMA) – para ajudar a definir os Objetivos de Desenvolvimento Sustentável que entrarão em vigor em 2015.

Somos também a primeira geração que pode eliminar a fome no mundo. Vamos mostrar que nós também queremos fazê-lo.

(*) José Graziano da Silva é diretor geral da FAO.

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