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Atentado, indigenismo e o dia-bólico em MS

Por Valfrido M. Chaves (*) | 14/09/2011 06:02

Sem choro nem vela, o mal nos habita e os temores que ele infunde nos tem levado, quase sempre, imaginá-lo fora de nós. O mal nos envergonha, fere nossa moralidade e, por isso, é melhor imaginar o “coisa”, o “dia-bólico”, ou seja, o que separa, desintegra, divide, como algo externo, uma entidade alheia a nós. Mas há os que não tem problema no convívio com a maldade e vivem numa “pax diabólica” em sua consciência. São os bandidos, os sociopatas.

Mas o mal também pode ser “manhoso” e, assim, diz-se que “o diabólico usa da astúcia” para nos seduzir. Por isso tantas vezes vemos a maldade, em graus inimagináveis, reinar contornando a consciência individual dos envolvidos em práticas de aniquilação contra sua própria espécie, de seu próximo, coisa que os irracionais puramente instintivos não o fazem, nem para saciar a fome.

Assim, os sacrifícios humanos acompanham a nossa história, à sombra do que seus praticantes entendiam como mais sagrado e elevado em sua cultura. No holocausto, milhões, inclusive crianças, foram para a câmara de gás, em nome do resgate da pureza e beleza da espécie humana. Entre os povos pré-colombianos, maias, astecas, milhares tiveram o coração arrancado em nome do bem, para o favorecimento e vinda das chuvas. Em nosso “paraíso terreal” Tupinambá, o sacrifício antropofágico do inimigo era o mais nobre momento daquela cultura.

Ainda hoje, algures na Amazônia, por razões culturais, crianças indígenas são sacrificadas sob benção antropológica e de um exótico deus chamado de “preservação cultural”, à sombra do Estado brasileiro, em pleno terceiro milênio. Os que matam vivem numa cultura exótica, distante. Os que acham o sacrifício antropologicamente correto, sem pedir a opinião do sacrificado, habitam num mundo ideológico em que a vida do ser humano seria mera abstração, um conceito com significado menor que “preservação cultural”. Holerites sustentam tal perversão.

Mas a crueldade sabe travestir-se de “melhores das intenções”, basta olhar as justificativas do amalucado da Dinamarca. Parece que a ideologia potencializa a loucura, e vice-versa. Mas vez por outra a crueldade é nua e crua, como vimos no ataque irracional a um ônibus que retornava de Miranda, já adentrando na aldeia Cachoeirinha. Uma das vítimas do terror acaba de falecer.

A Polícia Federal investiga e ainda não se sabe que idéia moveu a mão tresloucada, se alguém ameaçado de perder suas posses para expansão da aldeia; se rixa particular entre índios ou se outros interessados na promoção do conflito entre índios e não índios. Fato é que teria de ser totalmente insano algum proprietário que julgasse que aquele vil ato de terror pudesse, de alguma maneira, beneficiar sua causa. Mas estupidez é estupidez, tudo é possível.

Mas tão logo a insanidade se deu, vimos o esforço de grupos ideológicos interessados em “politizar” os fatos. O ato de terror logo virou “atentado”, no discurso de Deputado que, nas invasões, já vimos transitar “em casa”, entre invasores. É uma expressão que confere conotação política àquela insanidade. Há uma evidente intenção de conflitar as comunidades, algo em sintonia com a política indigenista oficial, que aposta numa sociedade “multicultural”, onde nossos indígenas permaneceriam apartados do restante da sociedade.

Além do que, sabido é que conhecida ideologia, frustrada em provocar a luta de classes entre brasileiros, “descobriu” a prática de estimular e provocar o conflito étnico. São os princípios, leitor, que conduzem nossa política indigenista e a tentativa partidária e ideológica de politizar, provocar mais conflitos e preconceitos, a partir da ação tresloucada vista na aldeia Cachoeirinha.

Que a Polícia Federal, de costumeira competência, desvende essa estupidez que a todos nos envergonha e revolta, para que cesse a tentativa maldosa dos militantes da luta de classes e do conflito étnico entre nós, em usar a dor alheia no proveito de sua ideologia sempre destrutiva, imoral, promotora de conflitos, dia-bólica. Para que tenhamos o direito de sermos unidos, sem subterfúgios para estimular preconceitos e ódios entre brasileiros.

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista e pós-graduado em Políticas e Estratégia.

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