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Crianças e celular: relação perigosa

Por Ogg Ibrahim (*) | 31/01/2019 07:53

Indo para o trabalho de carro certo dia, em São Paulo, ouvi uma notícia no rádio que me deixou estarrecido. Uma menina de 9 anos de idade fez algumas fotos íntimas no celular, apenas de calcinha. Talvez por uma inocente brincadeira de criança ou uma vaidade infantil qualquer.

Na escola, algumas alunas mais velhas teriam pego o celular dela para brincar, mas passaram a vasculhar os arquivos de fotos. Elas acharam as imagens e compartilharam com várias pessoas do colégio. A coisa se espalhou pelo Whattsapp e Facebook deixando a criança numa situação bastante constrangedora.

Revoltados, e com razão, os pais foram à escola pedir punição para as meninas mais velhas que compartilharam as fotos, mas foram recebidos com um sonoro “não temos nada a ver com isso” da diretora junto com a recomendação de que os pais fizessem um boletim de ocorrência na polícia para apurar a real responsabilidade sobre o acontecido.

Meu estarrecimento não veio por causa da resposta da direção da escola, mas pelas consequências que, a princípio, um ato que parece inocente pode ter.

Não sei qual foi o desfecho da história, mas ela me leva a questionar a relação de crianças nessa faixa de idade com a tecnologia dos smartphones e tablets e, consequentemente, seu acesso às redes sociais. Tenho uma filha de sete anos e realmente temo as consequências de ter que permiti-la, já já, a ter um perfil no Facebook, ou no Instagran, ou em qualquer outra rede social que surja até lá.

Sei que vou enfrentar um conflito, mas ao ceder a isso estarei abrindo a ela as portas de um mundo com o qual ela, assim como milhões de crianças no país e no mundo, e até mesmo alguns adultos, não estão aptos a lidar.

Cito outro exemplo: uma menina de 11 anos com perfil no Facebook, começou a conversar com um garoto de, supostamente, 13 anos. Gracejos daqui e dali e fotos trocadas, marcaram um encontro num shopping para se conhecer. Os pais, achando isso um tanto estranho já que o menino queria se encontrar com ela sem a presença de mais ninguém, começaram a monitorar as conversas.

Resultado: descobriram que o menino, na verdade, era um homem de 44 anos, casado e com dois filhos pequenos (é fácil montar um perfil falso hoje em dia). O encontro no shopping foi marcado e o pedófilo preso antes de cometer um crime que, sabe-se lá em que poderia terminar.

Nos dias atuais, dar um telefone aos filhos pequenos pode ser até uma medida de segurança. A comunicação com eles fica mais fácil, através de aplicativos podemos rastrear seus passos e até monitorar suas conversas e mensagens com os colegas, identificando aí qualquer comportamento anormal.

Mas por outro lado, na minha opinião, permitir sua entrada no mundo das redes sociais – e é exatamente isso que a maioria deseja – pode atrair problemas sobre os quais talvez não tenhamos a real consciência de seus efeitos. Como nos dois casos acima.

Muitos pais talvez permitam por não querer ver seus filhos alijados da modernidade, excluídos de seus grupos de amizades escolares e sujeitos ao bullying social por não fazer parte desse mundo digital. Mas acredito que esse tipo de punição seja bem menor que vê-los vítimas de uma inconsequência qualquer, seja o vazamento de fotos constrangedoras ou o assédio de um criminoso.

Muitos vão dizer que há meios de controlar o acesso dos filhos a determinadas páginas e sites, mas quem garante que as pessoas que eles adicionam em seu perfil numa rede social são, realmente, quem estão ali na foto? Além do mais, a maioria das crianças não possui os filtros comportamentais que nós, adultos, temos na hora de publicar fotos pessoais, de onde moramos, do que fazemos e dos bens que temos.

Enfim, não é uma questão fácil de administrar, mas temos de impor certas regras aos nossos filhos para protegê-los. A internet e, principalmente, as redes sociais nos abriram um mundo maravilhoso de comunicação, mas também nos trouxeram problemas com os quais não estávamos acostumados a lidar.

São problemas de uma nova era sobre os quais já sabemos até que ponto podem ser prejudiciais ao desenvolvimento das crianças. Além do mais precisamos saber como educá-las bem e não, apenas, fazer seus gostos e atender seus desejos impensadamente.

E além desses problemas que citei acima há pesquisas que demonstram que passar muito tempo ao celular, com joguinhos e entretenimento, causa problemas de cognição, hiperatividade e insônia nas crianças, entre outras consequências.

É bom pensar nisso!

(*) Ogg Ibrahim é jornalista.

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