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Dia das bruxas, curandeiros, magos e videntes

Por Luiz Flávio Gomes (*) | 01/11/2013 10:19

Todo ano, dia 31/10, comemora-se o Dia das Bruxas; 1/11, é o Dia de Todos os Santos; 2/11, é o Dia de Finados. Por força da tradição, dias de orações aos santos e aos mortos. Sobre o dia 31/10 a história e as lendas dizem “que é o dia em que as assombrações tentam voltar à vida, que é o dia de rezar para os mortos de todas as famílias, que a civilização celta por volta do século V a.C. recordava o início do inverno (estação da escuridão), que é o dia de se celebrar os Mortos, cujo símbolo máximo é a bruxa etc.” (Globo 26/10/13, p. 44).

Ainda hoje continuamos acreditando em bruxas, feitiços e feiticeiras?

Nos países de língua inglesa trata-se de uma festa (Halloween). O chamado Dia das bruxas não é utilizado por esses povos, sendo essa uma designação de alguns povos latinos (por exemplo, de língua portuguesa). A crença nos feitiços e nas feiticeiras, por força do ignorantismo, continua até hoje. O ser humano, desde a pré-história, acredita em magia, poções mágicas, gatos misteriosos, vassouras voadoras, artes macabras, pactos com o demônio, feiticeiras voadoras, curandeiros, magos, videntes, forças do mal, mal olhado, força dos mortos etc.

Lá na pré-história acreditava-se que a magia proporcionava sucesso à caça. Não se conta a história da humanidade sem mitos, magias, mágicas e forças sobrenaturais. O ser humano sempre teve a pretensão de interferir nos acontecimentos da natureza assim como de manipular as forças planetárias ou seus semelhantes. Quanto menos as pessoas conhecem os avanços das ciências, quanto menos sabe do Renascentismo e do Iluminismo, mais sugestionáveis e supersticiosas são.

Historicamente se sabe que existe o uso de forças sobrenaturais para o bem e para o mal (daí a distinção entre “bruxas brancas” e “bruxas negras”). As mais lembradas são as “negras”, que disseminam o terror, o medo, a maldade, a doença, a desgraça. Comparativamente aos fatos bons, a memória humana tem muito mais facilidade de registrar o mal, o doloroso, o sofrimento, o macabro, o terrorífico, o opressivo. E se o bem, desde a Antiguidade, é ligado à beleza e, o mal, à feiura, claro que as bruxas teriam que ser feias, mal cuidadas. A cultura da Idade Média (vigente até hoje) jamais chamaria uma Gisele Bündchen de bruxa.

A Igreja (católica) fez as pessoas acreditarem que elas estariam atreladas às artes macabras. Durante a Inquisição foram tidas como as inimigas preferenciais. Mais de 100 mil foram trucidadas. Elas usariam vassouras porque são o instrumento de limpeza da casa. E à mulher, na Idade Média, cabia precisamente fazer isso, na medida em que ela não podia frequentar as Universidades. Os voos das feiticeiras está ligado às plantas alucinógenas que elas usavam (quem tinha contato com essas “artes” ficava com a sensação de que voava).

Houve um feiticeiro (Jerome Liébana) que conseguiu convencer a corte de Filipe IV de que haveria a fórmula da invisibilidade e que existia um baú enterrado numa praia de Málaga, no sul da Espanha (veja Globo 26/10/13, p. 44), onde estaria um gênio que daria muito poder a quem o encontrasse. Tudo foi escavado e nada foi encontrado. Para ter mais poderes o ser humano é capaz de tudo. Os falsos magos continuam até hoje em razão do ignorantismo e do fato de os seres humanos serem facilmente iludidos.

A bruxaria foi o grande pretexto inquisitorial para a Igreja da Idade Média combater não as bruxas, sim, o ateísmo. Não há outra maneira de acabar com a bruxaria senão com o Iluminismo, as ciências, o conhecimento. Enquanto existir ignorantismo, os curandeiros continuarão cumprindo o papel do médico. E os reis (assim como todos os que se julgam majestades), pela disputa de mais poderes, continuarão fraquejando e caindo nas artimanhas dos falsos magos e videntes.

(*) Luiz Flávio Gomes, jurista e da Instituto Avante Brasil

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