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Dilma foi xingada porque é mulher

Por Semy Ferraz (*) | 17/06/2014 08:54

As ofensas contra a Presidenta Dilma Rousseff durante a cerimônia de abertura da Copa do Mundo tiveram efeito contrário para quem as proferiu. Todos os estadistas e a maioria dos presentes ao ato manifestaram sua solidariedade à primeira dignitária brasileira – quase todos atribuíram o gesto infeliz ao fato de ela ser mulher e sua personalidade incomodar o status quo machista e elitista ainda predominante.

Esse gesto de agressão e desrespeito ao povo brasileiro foi registrado pelos mais importantes meios de comunicação do mundo. O influente Le Monde, na mesma direção dos estadistas presentes à solenidade, contextualizou a ruidosa selvageria à anfitriã do maior evento do futebol mundial à “vocação nada democrática das elites brasileiras”, que até pouco tempo afirmavam que o “povo brasileiro não estava preparado para votar”, e que por isso justificavam seu bizarro apoio à ditadura.

Internamente, foram uníssonas as declarações de apoio, vindas dos mais diferentes setores da sociedade brasileira. Uma das mais eloquentes foi estampada num dos mais conservadores jornais brasileiros – o carrancudo Estadão –, em que uma articulista que nada tem de petista (ao contrário, fez questão de afirmar que como eleitora nunca votou no partido da Presidenta) pediu desculpas ao povo brasileiro, pois ela entende que a investidura da Presidência da República, sobretudo quando mediante o voto secreto, direto e livre do eleitor, confere ao cidadão ou cidadã a prerrogativa inalienável da representação da nação.

Até o emblemático compositor e escritor Chico Buarque saiu de sua discrição a que se recolheu nos últimos anos para manifestar sua indignação e seu repúdio ao gesto que atribuiu, em síntese, de intolerante e machista. Afinal, quem estava no estádio é uma elite que pode pagar mais de mil reais por um ingresso para assistir ao jogo e, como nos tempos da casa grande e da senzala, vomitar seu ódio de classe contra uma cidadã que democraticamente foi guindada ao mais alto cargo da República.

Muito feliz foi o gesto do Presidente Lula, num evento realizado em Pernambuco, que sabiamente ofereceu uma rosa branca como ato de desagravo pelas ofensas ao povo brasileiro, pois no entender dele, a humilhante agressão entoada por aquela minoria arrogante não foi dirigida à pessoa da Presidenta Dilma, mas a toda a nação, que a conferiu chefe de Estado e de governo pela vontade soberana do povo brasileiro.

Nestes tempos de amplas liberdades democráticas e total transparência na gestão dos destinos do País, a intolerância recalcada dos que sempre usufruíram das benesses do poder (inclusive nos tétricos anos de chumbo) e hoje se incomodam que as amplas camadas populares tenham acesso aos bens de consumo antes exclusivos a uma pequena elite, aliás, tem sabor de idiotice requentada.

Ao contrário do triste período de ufanismo e censura, quando os detratores da Presidenta Dilma declaravam seu amor à moda “Brasil, ame-o ou deixe-o”, atualmente qualquer cidadão tem acesso às contas públicas e o direito de manifestar – civilizadamente – sua contrariedade até recorrendo ao Ministério Público ou à Justiça Federal.

Ofender a dignidade de uma mulher em plena cerimônia de congraçamento das nações, na frente de outros dignitários e da imprensa mundial, além de bizarro, revela a arrogância e a falta de civilidade dos que padecem de intolerância desde os tempos da escravatura.

(*) Semy Alves Ferraz é engenheiro civil e secretário de Infraestrutura, Transportes e Habitação de Campo Grande.

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