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Eletroconvulsoterapia cura 90% das depressões

José Carlos Rosa Pires de Souza (*) | 12/05/2021 13:20

No Brasil 12 milhões de pessoas sofrem de depressão (6% da população), taxa bem acima da média global de 4,4% e a maior da América Latina. Nem sempre o diagnóstico dos transtornos depressivos é feito a tempo de se salvar uma vida; e nem mesmo o tratamento mais adequado ao paciente é instituído, em um grande número de casos. Este fato é comprovado e agravado quando se tratam de depressões resistentes ao tratamento medicamentoso, com ou sem ideia, plano ou tentativa de suicídio associados. Infelizmente, em pleno século XXI, ainda se vive no Brasil um certo obscurantismo e o negacionismo em relação aos tratamentos biológicos não farmacológicos para a depressão, como é o caso da Estimulação Magnética Transcraniana e a Eletroconvulsoterapia (ECT). Até mesmo entre muitos profissionais de saúde observa-se o preconceito com estas terapêuticas, que são reconhecidas pela Organização Mundial de Saúde (OMS) e pelo Conselho Federal de Medicina. Isto ocorre, por vezes, pela falta de conhecimento ou por ideologias sensacionalistas que atrapalham a boa prática médica e a Medicina Baseada em Evidências.

Estas constatações têm como principais consequências o fato de que, enquanto no mundo as taxas de suicídio diminuíram em 32%, o Brasil segue no sentido inverso tendo registrado, entre 2006 e 2015, um aumento de 24% nos casos de suicídio na faixa etária entre 10 e 19 anos. E esta idade tem diminuído cada vez mais. Embora haja esforços de muitos setores da saúde, como da Coordenadoria Geral de Saúde Mental do Ministério da Saúde, da sociedade como um todo com os grupos de apoio comunitário, Grupo Amor Vida, CVV e outros, muito ainda há de ser feito para esta história mudar de rumo. O estigma e o preconceito (Psicofobia) em relação aos transtornos mentais e seus portadores devem ser erradicados nos bancos universitários, uma vez que não lançar mão das melhores terapêuticas existentes, trata-se de no mínimo negacionismo e iatrogenia (erro técnico sem a intenção de errar), para não se dizer negligência médica de fato.

A ECT é aplicada, já no pronto-socorro de hospitais norte-americanos, quando o paciente é atendido devido a uma tentativa de suicídio; depois ele prossegue o tratamento com outras sessões de ECT, medicamentos antidepressivos e outros, psicoterapia cognitivo-comportamental, dieta sem cafeína, nicotina e álcool, atividade física, social e espiritual, além de outras abordagens. A ECT pode ser feita em nível ambulatorial, sem precisar o paciente ser internado; isto traz economia nos gastos com a saúde pública e diminui o absenteísmo e a incapacitação pela depressão. A ECT foi instituída em 1934, pelo médico húngaro Von Meduna; “é um procedimento que utiliza uma corrente elétrica para induzir uma crise convulsiva sob anestesia geral, com o objetivo de produzir alterações no comportamento e melhoras nos sintomas psiquiátricos. Ela consiste em tratamento de primeira escolha nos casos de necessidade de melhora rápida, como depressões graves e grande risco de suicídio, e como segunda escolha, quando existe ausência de resposta terapêutica satisfatória de psicofármacos” 1; também pode ser usada na esquizofrenia principalmente do tipo catatônica, quadros de Autismo com agitação e agressividade, alguns casos de Doença de Parkinson, entre outras. O Conselho Federal de Medicina reconhece a importância deste método terapêutico e regulamenta sua aplicação e cuidados, sendo um ato médico a ser realizado em ambiente com infraestrutura adequada de suporte à vida e a procedimentos anestésicos e de recuperação. Ela é um tratamento eficaz para remissão de sintomas graves psiquiátricos, principalmente quando se precisa de resultados rápidos. Em Campo Grande há dois lugares que realizam tal procedimento médico ainda, incontestavelmente, bastante eficaz e seguro.

A sociedade em geral precisa saber que a ELETROCONVULSOTERAPIA salva vidas e cura 90% dos casos de depressão resistentes aos tratamentos medicamentosos, com ou sem risco de suicídio. O autor do presente texto já aplicou ECT em outros tempos, até mesmo em uma paciente grávida com risco suicida (a corrente elétrica não ultrapassa a barreira placentária); ele já declarou publicamente a sua vontade própria de ser tratado com a ECT caso tiver necessidade; assim como, já teve recentemente um ente querido muito próximo salvo por este tratamento. O médico assistente deste seu familiar sempre se negou a indicar a ECT, em mais de dois anos de tratamento resistente a medicamentos e com alto risco suicida. Isto veio a motivar este artigo que o leitor está lendo neste momento; precisou o familiar de um médico psiquiatra tentar suicídio para que a ECT fosse, finalmente, realizada e modificada completamente a vida da jovem parente...Para que você, seus amigos, familiares, alunos, entre outros, não arrisquem ter a mesma sorte, discutam com o médico assistente quais são as opções de tratamentos biológicos para a depressão, tanto farmacológicos como não-farmacológicos; lembre-se que uma vida vale muito mais do que qualquer ideologia e concepção individual, as quais inúmeras vezes não condizem com os conhecimentos e resultados cientificamente comprovados.

(*) José Carlos Rosa Pires de Souza é psiquiatra, PhD em saúde mental e professor do curso de medicina da Universidade Estadual de Mato Grosso do Sul (UEMS).

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