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Livre formatação da maldade

Por Valfrido M. Chaves (*) | 13/10/2011 09:57

Acabo de ver na TV um filme deveras deprimente, considerando suas possíveis conseqüências sobre muitos psiquismos, bem como a ausência de avaliação crítica da sociedade sobre tais desdobramentos.

Tudo se passa como se fora algo que não fosse mais do que um mero e inocente entretenimento, apenas de gosto duvidoso. A trama que se desenvolve, em síntese, seria de um jovem numa situação de vida em que se sente desimportante, com baixa auto-estima, humilhado, sem perspectivas.

Por voltas que o cine dá, nosso personagem é cooptado por uma irmandade de assassinos profissionais na qual, por fim, torna-se o chefão. Termina o filme, após eliminar o antigo chefão, com uma frase lapidar: “agora eu estou no controle”!

Os astros são de categoria, carismáticos, possibilitando forte identificação do público com eles. Pois bem, o que se coloca então é isto, caro leitor: quais os desdobramentos de um filme desses em personalidades pré-mórbidas, egos frágeis, pré-psicóticos, como aquele infeliz que promoveu aquela chacina na escola do Realengo?

Afirmo com absoluta tranqüilidade que tais enredos e identificações são etapas fundamentais no psiquismo de alguns, antes desses assassinatos através dos quais se sentem poderosos, onipotentes. Qualquer estudante de Psicologia ou Psiquiatria sabe disso, caro leitor.

Portanto a sociedade o sabe. Sabe mas não encara, não discute, pois tal discussão passaria por um tema tabu, proibido: alguma censura sobre meios de comunicação, coisa que, também, é horrível.

Isso posto, perguntaríamos: qual a saída? Como encontrá-la sem discussão e sem apoio às famílias para que tenham subsídios e possam criar crianças mais saudáveis? Fala-se muito na escola, parecendo haver forte tendência em querer responsabilizá-la pelo destino das crianças.

Na política de proteção à criança é indiscutível haver mais preocupação com um jovem que está aprendendo a trabalhar com a família, do que com aquele que faz ponto numa boca de fumo. Nunca ouvi alguém que não veja essa realidade, mas nada a modifica.

Como as coisas nunca estão suficientemente ruins para que não possam ficar piores, pergunto ao leitor se ele vê em algum ponto qualquer sinal de que nossa sociedade vá encarar a questão da proteção de nossa juventude de modo efetivo, concreto e não apenas através dos abomináveis discursos politicamente corretos e ideológicos, eficientes apenas no sumidouro de verbas.

Nunca desejei tanto estar equivocado quanto a um ponto de vista, leitor, como neste momento. Torçamos para que assim seja.

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista.

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