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Meu vilarejo, uma praça de eventos!

Por Antônio Cézar Lacerda Alves (*) | 17/02/2011 07:22

Sempre desejei poder voltar ao meu vilarejo. Aquele pedacinho de mundo que hoje só existe nas paginas de uma lembrança já amarelada pela ação de um tempo inexorável e distante...!

Quanta saudade do meu vilarejo!

Com certeza, todo mundo tem um vilarejo para recordar. Não se sabe o porquê, mas até mesmo aqueles que não viveram e nem conheceram um Vilarejo, têm o seu “projeto particular” desenhado nas páginas de suas recordações. Cada um de nós traz gravada na alma, como uma herança inexplicável do universo, essa imagem humana dos vilarejos. Talvez seja porque o Vilarejo retrata o que há de mais nobre na vida: a simplicidade, a honestidade, a pureza...

Visitá-lo, ainda que através das páginas da saudade, é um reencontro com a origem do homem. O Vilarejo é a aldeia dos povos primitivos. Ele é o lugarejo projetado no pergaminho do tempo e que dorme nos quadros mais recônditos do nosso DNA. É a caverna do homem pré-histórico. É o sentimento mais profundo da idéia que todos temos daquele ambiente tão essencial para a nossa vida, e que chamamos de LAR! É a toca para os bichos. Os ninhos para as aves...!

Esse é o meu vilarejo!

Suas imagens, hoje emolduradas nas telas de um passado já distante, ainda estão vivas em minha memória... Aquelas casinhas coloridas, cada uma de uma cor (azul, rosa, verde...), perfiladas ao longo de uma rua, em frente a uma praça, com a estação de trem em uma das extremidades e uma Igrejinha na outra (no meu vilarejo a Igrejinha é de Santo Antônio).

... O alvissareiro apito da Maria Fumaça, o alto-falante no campanário da Igreja, as oferendas de música com insinuantes provas de amor, o coreto da praça, a bandinha, a seresta, a modinha, o romantismo...!

Quanta saudade do meu vilarejo!

Campo Grande bem que poderia ter um espaço com essas características para que a gente pudesse matar essa saudade do nosso Vilarejo. Esse espaço, inclusive, poderia ser usado como praça de eventos... Um espaço para a apresentação dos nossos artistas; e, também, para as Festas Juninas (inclusive a nossa tradicional Festa do nosso Padroeiro, Santo Antônio), Festa de Reis, São Sebastião, entre outras.

Aliás, nesses últimos dias, temos assistido esse embate entre a Lei do Silêncio e o som dos shows dos artistas. Nesse embate não pode haver vencedores nem vencidos. Ambos são necessários. O sossego noturno é sagrado e o som dos artistas é a expressão da nossa cultura. Ambos são vitais e, mesmo que aparentemente antagônicos, podem conviver harmonicamente, como vivem harmonicamente a Prosa e o Segredo...!

Temos uma rica diversidade cultural. Nossa música regional-pantaneira (Almir Sater, Paulinho Simões, Geraldo, Celito, Jerry, Tetê e Alzirinha Espíndola, Grupo Acaba, e tantos outros) sempre foi ouvida e admirada em todos os cantos do país. Mas não é só. O “sertanejo universitário”, esse novo ritmo que virou “febre” nacional, tem fortes raízes na inspiração dos nossos artistas.

O músico Ivan Myazato, que hoje está em São Paulo, é um dos idealizadores da “batida” que define esse ritmo contagiante. Além disso, temos os fenômenos musicais Luan Santana, Michel Teló, Grupo Tradição, João Bosco e Vinícius, Maria Cecília e Rodolfo, e tantos outros. Enfim, nosso Estado, hoje, é reconhecido como um grande celeiro de novos talentos...

Essa onda não pode parar. Nossos artistas precisam de um espaço para as suas apresentações. Nossos novos talentos precisam de um espaço para suas “canjas” - uma oportunidade para mostrarem seus trabalhos, seja na área da música, da dramaturgia, da dança, etc.

Veja o que aconteceu com Salvador, na Bahia. A capital dos baianos é hoje um dos destinos turísticos mais procurados, não só por brasileiros, mas, também, por turistas do mundo todo. E, indiscutivelmente, tudo começou com o apoio dado à cultura. Os centros históricos foram restaurados, uma profusão de ritmos tomou conta da cidade (axé music – uma mistura de samba-afro com reggae; Timbalada, etc.). Inventaram os carnavais fora de época, os trios elétricos foram para as ruas... A cidade mudou!!!

Podemos ter algo parecido aqui em Campo Grande. A cultura é vida para o povo. Campo Grande precisa acompanhar esse momento de inspiração dos nossos artistas. Esse movimento que vem das ruas precisa de espaços adequados para se expandir.

Estou aqui sugerindo a idéia de um projeto com as características de um “VILAREJO”. Numa das laterais ficaria o palco. Nas extremidades ficariam a Igrejinha e a Estação de Trem (Algo parecido com a nossa encantadora CIDADE DO NATAL). Nas casinhas coloridas, transformadas em bares, restaurantes e espaços culturais, seriam servidos os pratos e as guloseimas da nossa gastronomia, seriam vendidos artesanatos, etc.

O local poderia ser aberto pelo menos três vezes por semana. Os novos talentos dariam suas “canjas”. Um protótipo da Maria Fumaça, com alguns vagões, passando por pontes de ferro, faria um passeio por locais com paisagens e temas do nosso Pantanal... Esse, sim, seria o retorno do nosso saudoso “Trem do Pantanal”!

A implantação do projeto poderia ser no Parque das Nações Indígenas, ou naquele outro recanto inimitável da natureza, cuja beleza paradisíaca contrasta com o nome que, infelizmente, lhe foi dado: “Inferninho”.

Enfim, nossos artistas teriam um espaço apropriado para a apresentação de seus shows, o nosso povo teria um espaço cultural para freqüentar, os turistas teriam essas paisagens para visitar e fotografar e nós, os saudosistas românticos, teríamos um local para matarmos essa teimosa saudade dos nossos inesquecíveis VILAREJOS...!

(*) Antônio Cézar Lacerda Alves é advogado e ex-conselheiro seccional da OAB/MS.

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