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O tigre e a harpa paraguaia

Por Gilson Cavalcanti Ricci (*) | 16/08/2013 15:03

No próximo dia 25 de agosto comemoramos o Dia do Soldado, em homenagem ao nascimento de Luís Alves de Lima e Silva, o Duque de Caxias, patrono do Exército Brasileiro.

A efeméride atinge não somente os militares, mas a todos nós brasileiros indistintamente, pelo exemplo digno de soldado e cidadão daquele que foi em vida o vencedor impávido dos inimigos do Brasil, contra os quais lutou nos campos de batalha.

Com sua genial têmpera guerreira, assombrou os próprios inimigos ao atravessar seu exército sobre a colossal defesa inimiga na ponte do Itororó, na Guerra do Paraguai.

Era já velho quando realizou a épica passagem - tinha 65 anos de idade -. Solano Lopez, antes do entrevero, teve o cuidado de reunir o grosso de seus exércitos ao longo do Itororó, tornando-o praticamente intransponível ao colocar centenas de canhões postados estrategicamente na retaguarda da infantaria constituída de fortes contingentes de fuzileiros prontos para o ataque, conseguindo assim formar um formidável e extenso baluarte de defesa até à frente de Lomas Valentinas, onde estava seu quartel general.

Ao adentrarem na ponte, os brasileiros foram envolvidos de surpresa pelo fogo de pesada artilharia e intensa fuzilaria, obrigando-os a recuar desordenadamente, pressionados pelo fogo devastador dos canhões, e da bem sincronizada fuzilaria paraguaia. Um general e um coronel, comandantes de importantes unidades de combate, são mortos na luta, o que provocou confusão aos comandados de Caxias, que recuavam em grande tumulto, por não conseguirem furar a resistência paraguaia.

Prevendo a iminente derrota, num gesto rápido e brusco Caxias golpeia seu cavalo, arremetendo-se violentamente contra os paraguaios, enquanto brandia a espada a conclamar em altos brados seus soldados à luta: “Sigam-me os brasileiros!”.

A tropa foi tomada pelo ímpeto eletrizante do bravo comandante, seguindo-o freneticamente num repentino e fulminante contra-ataque sobre os inimigos até ultrapassarem totalmente a ponte, indo atacar os paraguaios em terra firme. A partir daí brasileiros e paraguaios engalfinharam-se num violento corpo-a-corpo, com cenas de grande crueldade e terror de corpos de homens e cavalos esparramando-se além da ponte fatídica, a tingir de sangue as águas do Avaí, numa visão apocalíptica devastadora, que só terminou com a queda de Lomas Valentinas.

Em 1º de janeiro de 1869, Caxias ocupou Assunção, dando a guerra por encerrada. Em ação de graças mandou celebrar missa na Catedral de Assunção, posto que a partir dali a perseguição a Solano Lopez seria mera caçada policial. No dia da missa, o templo estava lotado de oficiais e soldados brasileiros.

A igreja pobre e sem instrumental apropriado, levou Frei Palácios rezar a missa acompanhado pela harpa executada por um velho paraguaio, que trazia no corpo as marcas da guerra - uma comoção forte àquela platéia repleta de combatentes. O coração de Caxias sofre repentino abalo, sendo o valente cabo de guerra levado às pressas para o hospital de campanha.

O Tigre de Itororó venceu a guerra cruenta, mas sucumbiu ante os acordes maviosos da harpa paraguaia.

(*) Por Gilson Cavalcanti Ricci é advogado.

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