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Os onipotentes, os intimidados, a corrupção

Por Valfrido M. Chaves (*) | 13/02/2013 09:14

Sabe-se que todo ladrão mente e que quase todo mentiroso rouba. A mentira, para o ladrão, é como a borda recheada de sua prazerosa pizza e através das quais, o roubo e a mentira, ele concretiza os devaneios de poder, onipotência, graças aos quais supera seus sentimentos de insignificância e intimidação que atormentam sua alma.

Mas em navegarmos tempos de Mensalão e Cachoeira, não dá para, dentro da temática do roubo e da mentira, deixar de lado o universal flagelo da corrupção, uma forma potente e sofisticada de roubo. Ou seja, apropriação de recursos públicos para uso particular ou manutenção e apropriação do poder, o inebriante poder.

Inebriante, leitor, porque o poder, em si, com suas pompas, ritos e puxa-sacos, já satisfazem o narcisismo, a vaidade e as necessidades mais moderadas de compensação àquelas já citadas dores da alma apequenada. Mas, com a apropriação de recursos públicos, geralmente fortunas, “o buraco é mais embaixo” , pois, através da corrupção, alimenta-se o sentimento de que “eu posso tudo”, sobretudo, quando esfrego na cara da sociedade, a minha impunidade! E roubar, apropriar-se, não é nada diante do sentimento de poder e onipotência que provem, justamente, da impunidade, a borda recheada da já inebriante pizza da corrupção.

Neste ponto, leitor, ouso trazer outro lado da questão, levantado pela Psicanalista Marion Minerbo, em seu artigo “Corrupção, poder e loucura: um campo transferencial”. Após apontar a corrupção como um tipo de loucura do sujeito que nada teme e relacionar tal “loucura” com a “criança-no –adulto” do corrupto, ou seja, seus aspectos infantis, aquela estudiosa nos apresenta a idéia de “poderoso”/”intimidado”, sentimentos que podemos trazer na alma. Entende-se aqui que, antes de atuar como “a tudo posso”, o infeliz sentiu-se como “intimidado” e insignificante. Do ponto de vista coletivo, entretanto, para que um possa atuar como o “ a tudo posso”, é necessário que outro, na sociedade, atue como vitima, “intimidado, subserviente e siderado, que não se autoriza a sinalizar ao primeiro os limites de sua onipotência”.

No caso do “Mensalão”, expressão que recentemente quase foi proibida de ser usada pela imprensa, seus fatos se descortinam desde a “CPI dos Correios”, graças aos testemunhos, investigação, relatórios e, sobretudo, ao eloqüente e delubiano silêncio de alguns inquiridos naquela CPI. Parece saber-se claramente, hoje, onde estão os poderosos, os onipotentes, os acima do bem e do mal, da verdade. Vemos bem, ainda, aqueles que nos olham como se fossemos imbecis, quando nos dizem angelicalmente: “mas nada foi comprovado!”, como se o corrupto deixasse recibo e impressão digital. Resta-nos, entretanto, uma incômoda indagação: onde estão os intimidados que não sinalizam aos corruptos os limites para sua onipotência? Veríamos algum, no espelho, quando escovamos os dentes?

Enquanto isso, no carnaval da vida, desfila na avenida verde-amarela essa “legião” demoníaca: a corrupção, a mentira e a impunidade.

(*) Valfrido M. Chaves é psicanalista.

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