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Precisamos aproveitar melhor as nossas potencialidades naturais

Por Laerte Tetila (*) | 12/11/2012 14:33

Um estado em desenvolvimento, como o nosso querido Mato Grosso do Sul, necessita conhecer mais a fundo os seus recursos naturais, para um melhor aproveitamento de suas potencialidades. Sabe-se, universalmente, que o sucesso, ou o fracasso, das comunidades, sejam elas urbanas ou rurais, depende, diretamente, da maneira como os seus recursos naturais estão sendo utilizados.

Em artigo anterior, alertamos sobre a possibilidade de que os solos de uma faixa de terra sul-mato-grossense, de aproximadamente 2,5 milhões de hectares, lindeira ao rio Paraná, esteja recebendo um importante "plus" de umidade, por conta das chuvas convectivas, formadas pela evaporação que se levanta dos cerca de 500 km de represamento do rio Paraná (barragens de Jupiá, Ilha Solteira, Porto Primavera e Itaipu) e que resulta numa das maiores lâminas de água represada do mundo. Sabe-se que a água, além de importante recurso natural, também é considerada o principal insumo agrícola.

E, em sendo um bem fundamental, é bem provável que esse imenso volume de água represada no rio Paraná esteja prestando um importante serviço ambiental, ao fornecer "plus hídrico" para a faixa de terra em apreço. Todavia, a nosso ver, esse possível ganho hídrico daqueles solos seria bem melhor aproveitado, com um ganho bem maior de produtividade, caso esse espaço geográfico fosse utilizado de forma intensiva, por meio da agricultura, de preferência, da agricultura familiar, mediante as boas práticas da Agroecologia (manejo sustentável, de baixo impacto ambiental), a fim de se evitar os chamados efeitos colaterais da Agroquímica, dentre eles, a poluição hídrica dos mananciais vizinhos, ou seja, poluição dos grandes reservatórios do rio Paraná.

A Agroecologia, que vem sendo mundialmente apontada como a forma de cultivo mais bem integrada com as leis da natureza e da vida, utilizando-se basicamente das pequenas propriedades, além da diversificação de cultivos, vem propiciando o surgimento de pomares, bosques, jardins, hortas, quebra-ventos, que acabam reafirmando os princípios da biodiversidade e da sustentabilidade ambientais.

Essa mudança do vetor econômico, tendo em vista um melhor aproveitamento da umidade dos solos desses 2,5 milhões de hectares marginais ao rio Paraná, que passaria, basicamente, da pecuária (extensiva ou semiextensiva) para a agricultura familiar, dar-se-ia mediante aquisição normal e pacífica – através do INCRA – dessas terras para assentamentos da reforma agrária. E que fosse um modelo de reforma agrária diferente, do tipo "tecnológico", onde, para cada grupo de cem lotes, dez seriam destinados para técnicos (formados e sem-terra), que fariam o repasse de tecnologias aos demais.

Afinal, em Mato Grosso do Sul existem, hoje, boas Escolas-Família Rurais e a própria UEMS, formando esses profissionais, inclusive, na linha da Agroecologia. Sublinhe-se, também, que, além do possível "incremento hídrico" que a referida faixa de terra estaria recebendo, a mesma já conta com boa logística para o escoamento de safra, haja vista a hidrovia Paraná-Tietê, a presença de extensa malha asfáltica, e, num horizonte próximo, a possibilidade de uma estrada de ferro. Sociedades que não potencializam os seus recursos naturais acabam, infelizmente, criando situações instáveis.

Desemprego, esvaziamento populacional, baixa qualidade de vida são algumas delas. E nessa extensa faixa de terra, que há anos vem recebendo – o que é quase uma certeza – uma irrigação natural e gratuita, o que se percebe é que a mesma "ainda" padece, por exemplo, de uma densidade demográfica das mais baixas do estado e do país. Nosso estado necessita alavancar o seu potencial produtivo, aproveitando melhor os seus recursos naturais, como a água – fator estratégico para a produção.

(*) Laerte Tetila é mestre em geografia física pela USP e deputado estadual (PT/MS).

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