ACOMPANHE-NOS     Campo Grande News no Facebook Campo Grande News no Twitter Campo Grande News no Instagram
ABRIL, SEXTA  19    CAMPO GRANDE 19º

Artigos

Sem protagonismo feminino, permaneceremos arcaicos

Luiz Cristiano de Andrade (*) | 31/10/2020 13:22

Poucos comentários são tão machistas quanto o clichê “atrás de um grande homem, há sempre uma grande mulher”. Esse aforismo, que relega as mulheres a um papel secundário, ainda está presente na política brasileira.

Se, no ambiente corporativo, as mulheres têm conquistado paulatinamente postos de liderança, o nosso campo político-partidário ainda carece do protagonismo feminino.

Exercer a liderança política não é uma condição inata aos homens. Os recentes exemplos da Alemanha, da Islândia e da Nova Zelândia, entre outros, refutam qualquer naturalização desse papel.

No Brasil, embora não faltem exemplos de atuação destacada em todos os espectros políticos, da ex-presidente Dilma Roussef, de Marina Silva à Marielle Franco, ainda estamos longe de alcançar a paridade política entre homens e mulheres.

Independentemente da avaliação que se faça das trajetórias e experiências citadas acima, defender qualquer característica positiva da liderança feminina apenas reforçaria estereótipos. Homens podem ser empáticos, intuitivos, cooperativos e multitarefas. Da mesma forma, mulheres também podem exercer liderança com maestria, seja em que cargo for.

Qual seria então a vantagem de observar a equidade de gênero na política e reverter a sub-representação feminina no Brasil?

Não se trata de uma questão meramente matemática, aproximando o percentual de mulheres nas candidaturas e nos cargos públicos à composição efetiva da sociedade. Este é um aspecto importante da questão, mas não suficiente para conferir protagonismo às candidatas. Os partidos cumprem as cotas e assim cumprem a lei, mas sabemos que nem sempre essas cotas se transformam em espaço partidário e em votação.

Em regra, mesmo quando eleitas, elas não se transformam em líderes de bancadas, de partidos ou do governo. Elas também não são chamadas para compor o primeiro escalão do Poder Executivo. O “machistério” formado pelo ex-presidente Temer virou piada nos meios de comunicação. Tristes trópicos, pois esta é a realidade em nossos secretariados estaduais e municipais.

Diante da constatação de que elas não fazem parte do clube - porque estão trabalhando nos bastidores e dando conta dos afazeres domésticos para que o “grande homem” brilhe no palco da política -, e de que elas têm oportunidades reduzidas de jogar o jogo político, é simples concluir que aumentar a representatividade feminina automaticamente ampliaria o leque de opções para que o eleitorado encontrasse uma boa liderança.

Trazer mais mulheres (e também mais representantes negros, indígenas e LGBTQI+ para a política) resultaria na combinação de diferentes perspectivas para a resolução dos nossos complexos problemas locais, regionais e nacionais. Resultaria ainda em mais identificação entre representantes e representados, conferindo legitimidade democrática ao exercício do poder.



(*) Luiz Cristiano de Andrade é professor de Direito Administrativo da PUC-Rio

Nos siga no Google Notícias