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Serenatas no Taveirópolis

Por Heitor Freire (*) | 29/04/2012 07:48

Em 1975, eu me mudei com a minha família da rua D. Aquino para a rua Padre Caetano Patané, no bairro Taveirópolis. Ali moramos até o ano de 1995. Foram 20 anos dourados.

Quando para lá nos mudamos, as ruas do bairro não eram asfaltadas, e não havia água encanada, que só veio a surgir alguns anos depois. A água era de poço. Abençoado poço, pois depois que recebemos o benefício da água encanada, esta muitas vezes, faltava. Aí éramos salvos pelo poço, que, por decisão da Rosaria permaneceu em funcionamento sempre.

As meninas foram crescendo. A Andréa, minha filha número 2, foi durante um tempo, namorada do Paulo Renato Coelho Netto, cujo nome ficou inscrito na minha memória assim, embora, hoje, o seu nome público seja Renato Coelho Netto.

Pois bem. Numa determinada noite, fomos acordados por um som estentórico, que me fez pular na cama. Perguntei à Rosaria se sabia o que era aquilo. Ela disse que não. Vesti um roupão em cima do pijama e fui investigar. Era o Paulo Renato tocando um berrante do tamanho de um trem, no mais alto grau.

Acordou toda a vizinhança. Quando me viu, cumprimentou-me e apresentou seus amigos. Eu fiz algumas serenatas para a Rosaria em Ponta Porã, mas com aquele estardalhaço todo, nunca.

Enfim, após as apresentações e de servir a tradicional bebida que o dono da casa deve oferecer aos serenateiros, voltei a dormir, observando que o nosso vizinho era homem brabo. Essas serenatas se repetiam regularmente.

O vizinho era o Miguel Patroni Duenha, que havia construído a nossa casa e também a que ficava ao lado, onde ele morava. Era pai de três filhas, entre elas a Aline Duenha, hoje atriz destacada que atua também na área circense com o Circo do Mato grupo com atuação até na área internacional.

Mas eu me referia ao vizinho brabo. Como eu descobri que o doce do Miguel podia ser também brabo? Aconteceu o seguinte: em frente às nossas casas havia uma igreja batista. Em determinada ocasião, o pastor resolveu utilizar um alto falante para chamar os fiéis e o fazia logo cedo, aos fins de semana.

Na primeira vez, ficou por isso mesmo. Quando, na semana seguinte, o episódio se repetiu, o Miguel foi falar com o pastor, que o recebeu cordialmente, pediu desculpas e disse que não aconteceria mais. Na terceira semana, de novo o pastor mandou ver o seu som alto.

O Miguel não teve dúvidas: de dentro de sua casa, mandou bala no alto falante do pastor. Foi um santo remédio. Nunca mais funcionou. Mas das serenatas infindáveis em frente à minha casa, posto que eu tenho sete filhas, ele nunca reclamou. Acho que por solidariedade ou por entender os serenateiros.

(*) Heitor Freire é corretor de imóveis e advogado.

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