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Um artigo para pessoas de bem

Por Ana Maria Assis de Oliveira (*) | 03/02/2015 10:17

Quero dizer que: espancar quem matou, matar quem matou e prender quem matou, não corrige quem matou ou traz de volta quem morreu. E essa ideia, na minha particular opinião, seria concebível apenas na época de Hamurabi, rei da Babilônia no século XVIII a. C., que criou 282 leis baseadas na máxima “olho por olho, dente por dente”.

O fato é que, se nos preocupamos com quem amamos e queremos um mundo melhor para as crianças de hoje, não vai adiantar vociferar contra a pseudo-impunidade de "bandidos" sem fazermos nada concretamente a respeito e sem discutirmos o assunto com real comprometimento e reflexão: sem paixões, sem traumas, sem drama.

Temos que cuidar das pessoas durante a formação, para evitar a violência e não se concentrar em se vingar dela mais tarde, o que só vai causar mais sofrimento. Temos que nos preocupar com a educação, e temos que estudar formas de evitar a ociosidade na juventude que vive na miséria. Temos que questionar o sistema, temos que cobrar do governo.

A adolescência é a fase em que o ser humano está cheio de energia e em formação, não vejo como o trabalho, por exemplo, poderia prejudicar os adolescentes. No meu caso, comecei a trabalhar aos 15 anos de idade e não me sinto injustiçada por isso. A escola preenche apenas meio período do dia, o que os adolescentes fazem no restante das horas?

Quando passo pelo Instituto Mirim e vejo aquela fila de adolescentes querendo uma oportunidade, penso que o que falta durante a formação da maioria dos adolescentes que praticam ato infracional é estímulo positivo, chance, uma forcinha pra seguirem um caminho legal.

As leis não incentivam as empresas a contratarem adolescentes entre 16 e 17 anos, pelo contrário, dificultam ao máximo. Será que nos dias de hoje, isto é bom?

E quanto à infância, será que existem projetos suficientes que atendem as crianças de famílias de baixa renda enquanto os pais trabalham? O que as crianças aprendem nas ruas? É possível para qualquer indivíduo ser criado em meio à violência e maus exemplos e ser uma pessoa de bem?

Falando em pessoas de bem, o que elas tem feito para mudar esta realidade? As pessoas de bem estão muito ocupadas e tem cometido erros, ao condenar quem nasceu condenado.

O mais temível tem acontecido, com a proposta de fazer o bem, pessoas de bem fazem o mal. Bater até sangrar. Julgar até matar. Ter capacidade para amar incondicionalmente um cachorro, mas ser incapaz de amar o seu semelhante. Pedir abrigo a um animal abandonado, mas não se incomodar com aquele homem dormindo na calçada. Os bichos são dignos de todo amor, mas não é contraditório supervalorizar uma criatura e abandonar a outra? Abandono, eis a palavra que define a condição atual do ser humano.

(*) Ana Maria Assis de Oliveira, jornalista e assessora jurídica.

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