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Um Ensino Médio de resultados precisa sacrificar a adolescência?

Por Darlei Dario Padilha (*) | 01/10/2017 10:10

A adolescência é uma época de idealismo que pode ser marcada pela sensação de vazio generalizada. Para William Damon, no livro ‘O que o jovem quer da vida?’, a maioria das escolas de Ensino Médio deixa a desejar quando se trata de guiar adolescentes e jovens em direção a caminhos futuros que eles julgarão gratificantes e significativos.

Professores impõem aos estudantes “quilos” de tarefas escolares, instruções para as provas e um monte de listas de exercícios com a única finalidade de que os estudantes “estejam bem em sala de aula”, “conquistem boas notas” e “evitarem a reprovação”. Mas raramente (ou nunca), ouviremos professores “perder tempo” ou “atrasando conteúdo”, para debater com os alunos projetos vitais mais amplos do que qualquer um desses objetivos.

Segundo Damon, “todos os jovens devem fazer suas próprias escolhas: ninguém pode fazer isso por eles. Mas podemos ajudá-los a ser capazes de fazer boas escolhas que lhes proporcionem uma sensação de bem-estar que dure por toda a vida”.

Para se ter bons resultados nos vestibulares, no mercado de trabalho e na vida é preciso ter habilidades e competências que o atual modelo de Ensino Médio insiste em desconsiderar. O mercado de trabalho pede trabalho colaborativo, então, por que insistir em um modelo de escola onde fazem os adolescentes acreditar que os colegas de turma são concorrentes em potencial e, portanto, que não devem cultivar e preservar as amizades?

Parece contraditório fazer os adolescentes acreditarem que seus resultados futuros e o sucesso nos vestibulares e no curso superior depende do sacrifício mortal da melhor fase da vida, quando os sonhos e esperanças unem os amigos de toda a vida e dão sentido à própria vida.

De acordo com dados do Ministério da Educação (MEC), o Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb), calculado com base nos resultados de avaliações externas, está estagnado em um patamar muito baixo de desempenho desde 2011. Os resultados ruins do Brasil no Programa Internacional de Avaliação de Alunos (Pisa), o alto índice de evasão, a falta de identificação da juventude com a atual estrutura do Ensino Médio e a necessidade de flexibilização do currículo justificaram a necessidade de mudança e foram apontados como disparadores da recente reforma proposta, por força da lei, para o Ensino Médio brasileiro.

Vivenciamos mais um período de quebra de paradigmas e, como toda mudança, as incertezas são desafiadoras. A única certeza é que o modelo de Ensino Médio praticado no Brasil se esgotou em si mesmo. Não tem mostrado resultados nas avaliações externas. Não tem contribuído com o desenvolvimento do perfil de aluno que adentra ao Ensino Superior. Não tem fortalecido os adolescentes para os desafios, conquistas e frustrações da vida.

Se as escolas quiserem cumprir seu papel de preparar os estudantes para participarem por inteiro da sociedade, devem também ensiná-los a se engajar como cidadãos ativos, e atuar em uma democracia de forma responsável e competente.

É possível sim, ter excelência acadêmica, altos resultados nos vestibulares e universidades, com outras estratégias de ensino, mais interativas e colaborativas, que considerem as múltiplas inteligências e valorizem o protagonismo juvenil, afinal, eles vão escrever as próprias histórias e talvez escrever uma história melhor para o Brasil.

(*) Darlei Dario Padilha é diretora-geral do Colégio Marista de Goiânia.

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