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Um momento para fazer nada

Por Merylin Franciane Labatut (*) | 08/06/2019 12:12

O ritmo alucinado que temos vivido na última década, as infinitas oportunidades e exigências que o mundo globalizado e virtual nos tem possibilitado, têm produzido uma padronização de atividades que nossos filhos precisam e devem realizar. Com a melhor das intenções, criamos agendas com inúmeros compromissos que acabam por sobrecarregar, frustrar e, infelizmente, ao meu ver, a pior das perdas: eliminamos o essencial e delicioso momento de fazer “nada”.

Natação, defesa pessoal, segunda língua, piano, violão, capoeira, futebol, terceira língua... colocamos à disposição dos pequenos todas as possibilidades de sucesso, futuro brilhante e carreira profissional invejável que, na maioria das vezes, nós não tivemos e, acabamos assim, por projetar os nossos desejos –deixando que reais aptidões e habilidades que os nossos filhos possam realmente a vir apresentar um dia fiquem sufocados por tantas outras metas que devem realizar.

Durante a infância, é essencial termos o momento de fazer nada, pois é a partir dele que construímos as maiores teses sobre como dividir –seja o brinquedo ou o espaço–, o momento adequado de partilhar –seja o lanche ou o colo da professora–, entendemos que nossas atitudes podem machucar o amigo por dentro e por fora e como é importante saber que as minhas escolhas geram consequências para mim, para o outro e para o todo que me cerca.

Esse trabalho mais refinado para as reais possibilidades de desenvolvimento intelectual, social e comportamental das nossas crianças deve ser analisado e discutido por familiares e professores. Na escola, é importante propor ações que possibilitem que os alunos tenham momentos de trabalhar com materiais desestruturados, como os elementos naturais, gravetos, pedras, terra, água, luz e também com os desestruturados concretos como tampas, caixas, botões, carretel, tecidos entre outros. Dessa forma, a criança é estimulada a descobrir o que pode construir ou aprender em cada espaço, sem inúmeras interferências ou mediações do professor. O momento do fazer nada traz inúmeras possibilidades de descobrir o “tudo” –ou quase tudo.

Observamos que, ao propormos momentos nos quais as crianças possam fazer escolhas próprias e atraídas por temáticas que lhe causam interesse, encantamento ou curiosidade, a aprendizagem se dá de forma ampliada e produz verdadeiras oportunidades de desenvolvermos habilidades futuras que possam ser revertidas em conquistas, tanto profissional quanto pessoal.

As atividades esportivas e as culturais são bem vindas –melhor ainda se acontecerem na dosagem certa, com equilíbrio entre as necessidades da infância e o desejo em querer realmente realizá-las com encantamento, desafio e curiosidade, combustíveis essenciais para essa fase da vida.

(*) Merylin Franciane Labatut é gestora da Educação Infantil Bilíngue do Colégio Positivo - Jardim Ambiental, de Curitiba (PR).

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