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Cidades

Corona é o 9º vírus respiratório na lista de análises diárias do Lacen

São 9 vírus respiratórios na lista em meio à pandemia que empenha regime de plantão no laboratório criado em 1979

Izabela Sanchez e Marcos Maluf | 26/03/2020 07:15
Lacen de Mato Grosso do Sul, localizado na Avenida Filinto Muller em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)
Lacen de Mato Grosso do Sul, localizado na Avenida Filinto Muller em Campo Grande (Foto: Marcos Maluf)

O Sars-Cov-2 é o nome dado ao novo coronavírus, mas a pandemia e a novidade não são exclusividade no trabalho diário de, aproximadamente, 14 profissionais ligados diretamente às análises de amostras virais do Lacen (Laboratório Central de Saúde Pública). Fundado em 1979, o laboratório bate o martelo final e “sentencia” possível contágio, ao analisar amostras. O novo coronavírus, ainda assim, chega para ocupar o 9º lugar na lista de vírus dos tipos “respiratórios” do Lacen.

O Lacen foi fundado na época em que vários laboratórios do tipo espalharam-se pelo Brasil. Diretor do laboratório de Mato Grosso do Sul, o farmacêutico bioquímico Luiz Henrique Ferraz Demarchi explica que, até agora, o coronavírus mudou pouco a rotina, mas a lida com as amostram já dá indícios de que a demanda por análises vai aumentar.

Na frente do prédio, localizado na Avenida Filinto Muller em Campo Grande, se não fossem as máscaras de quem vai chegando trazendo caixas térmicas em ambulâncias, nada parece ter mudado, a exemplo de um veículo que chegou de Amambaí, na região sul, a 360 km de Campo Grande, para trazer caixas de amostras.

Ao menos 14 profissionais lidam diretamente com o desvendar das amostras virais no Lacen (Foto: Saul Schramm/SES)
Ao menos 14 profissionais lidam diretamente com o desvendar das amostras virais no Lacen (Foto: Saul Schramm/SES)





O crescimento do contágio em Mato Grosso do Sul ainda segue progressão aritmética, ou seja, baixo, com a passagem de 21 casos para 24 confirmados na terça-feira (24), que continuaram os mesmos na quarta-feira (25). Os números são atualizados diariamente pela SES (Secretaria Estadual de Saúde).

É por isso que os números de análises realizadas no mesmo período pelo Lacen em 2019 e em 2020 não mudaram tanto. Enquanto, entre janeiro e até o mesmo período de março de 2019 foram feitas 646 análises, este ano são 728.

“A gente não tem mudança no quantitativo, foi um agravo a mais, não é uma coisa fora da realidade, se pegar a diferença, poderia ser o resultado do coronavírus", explicou o diretor.

Todo dia – Até agora, ainda, assim, o que mudou foi a rotina. Todos os profissionais estão trabalhando todos os dias, incluindo finais de semana, porque o risco de um vírus novo com possibilidade de inflar o sistema público de saúde pedem urgência na “sentença”. Conforme o diretor, nas análises de materiais genéticos do vírus, são cerca de 14 profissionais, de bioquímicas a técnicos de laboratório, diretamente envolvidos no trabalho.

“Com o novo coronavírus são 9 vírus respiratórios, mas a gente está conseguindo entregar em tempo oportuno, em menos de 48h”, disse.

Treinamento na Fiocruz - A chegada da pandemia a Mato Grosso do Sul também fez com que uma bioquímica do Lacen tivesse de viajar ao Rio de Janeiro, por dois dias, onde realizou treinamento na Fiocruz. No total, três profissionais de bioquímica estão realizando as análises do novo vírus.

“Colocamos plantão nesses setores, a gente recebe 24h, final de semana, feriado”, conta Luiz. “As pessoas ficam mais preocupadas porque é um vírus novo, mas tomamos os cuidados, está todo mundo empenhado, a gente já dá prioridade quando é coronavírus, mas já é da nossa rotina,já é dar igual quando entrou o zika, tudo que é novo temos que elucidar, diagnosticar”, comenta.

Profissional chega com amostras de Amambai para o Lacen (Foto: Marcos Maluf)
Profissional chega com amostras de Amambai para o Lacen (Foto: Marcos Maluf)


Como se dá a sentença – Em média, para diagnosticar o material enviado ao Lacen, os profissionais demoram mais de cinco horas. O diretor explica o passo a passo até a sentença.

Quando casos suspeitos chegam até as unidades de saúde, profissionais colhem amostras da boca ou nariz dos pacientes. “São aspiradas [as secreções], colhem essa secreção e mandam pra gente, a metodologia é chamada de ERT-PCR de biologia molecular”, explica.

Quando chega ao Lacen, a amostra começa a ser processada. Isso ocorre por meio de material genético. Dessa forma, conforme o diretor, a gerente aplica a metodologia de processamento utilizando células humanas do sistema respiratório e analisando o RNA (ácido ribonucleico). O RNA é uma molécula responsável pela síntese de proteínas das células do corpo.

O vírus se acopla nas mucosas profundas do nariz e da garganta e depois de replicado, vai para os pulmões, “caminhos” por onde espalha a infecção que causa, a Covid-19. A análise utiliza material genético, o RNA, porque o vírus introduz o próprio RNA nas células e é através desta molécula que é possível identificar sua presença.

“A primeira fase é a de extração, extrair o material genético, e a segunda etapa é detecção. Na primeira extrai o RNA e na segunda é que vemos se realmente tem [o coronavírus] ou não”, conta.

“A gente faz em média duas [análises]. A gente não faz só da Covid, não é porque tem uma doença nova que as outras estão dormindo, mas a gente percebe que está aumentando a demanda [do novo coronavírus], mas temos muita parceria de outras instituições”, conta o diretor, que não descarta realocar profissionais de outros setores do Lacen para analisar as amostras.

“E também por conta da urgência que requer, porque enquanto analisamos, o paciente fica internado”, explica. “O que chamou a atenção da gente, mas de todo o mundo é a rapidez de propagação e outra coisa é o número de casos”, diz.

Pandemia em MS – Ontem, a SES informou que permanecem 24 casos confirmados de Covid-19 em Mato Grosso do Sul: 22 em Campo Grande, 1 em Ponta Porã e 1 em Sidrolândia. Três pacientes estão internados e não há óbitos pela doença.

Todos os casos, segundo a secretária adjunta de saúde, Christine Maymone, têm origem conhecida deixando o Estado, por hora, sem a chamada transmissão comunitária do coronavírus. A SES também afirmou que caiu de 70 para 38 o número de casos suspeitos, mas que cresceu de 300 para 329 o de casos notificados.

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