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Cidades

Defendida por deputado em MS, inalação de cloroquina pode ter matado 3 no RS

Forma de tratamento não tem reconhecimento científico contra a covid-19

Marta Ferreira | 25/03/2021 15:30
Herculano Borges faz inalação com cloroquina diluída, segundo contou no Instagram. (Foto: Reprodução das redes sociais)
Herculano Borges faz inalação com cloroquina diluída, segundo contou no Instagram. (Foto: Reprodução das redes sociais)

Um ano da pandemia  e quase 4 mil mortes depois em Mato Grosso do Sul,  e o composto cloroquina - já rejeitado internacionalmente para o tratamento da covid-19 - segue provocando polêmica. O Rio Grande do Sul investiga 3 mortes de pacientes tratados com nebulização da substância, forma de tratamento que está sendo usada no Estado, a ponto de um deputado estadual fazer propaganda a respeito.

Na semana passada, nos stories do Instragram, Herculano Borges (Solidariedade), publicou foto cuja legenda informava ser o nono dia de covid. “Hora da inalação com hidroxicloroquina líquida”, traz a legenda.

Em postagem mais atual, o parlamentar aparece fazendo fisioterapia respiratória, essa sim altamente recomenda para quem pega o novo coronavírus.  Em outro vídeo, agradece os profissionais que o trataram, entre eles o médico João Jakson Duarte, a quem atribuiu as prescrições contra a covid.

Duarte é cardiologista. Em suas redes sociais, há inúmeras postagens defendendo o chamado tratamento precoce da covid-19, questionado por cientistas no mundo todo.

Procurado pela reportagem, Herculano conformou o uso da técnica, em meio ao que chamou de “amplo tratamento” para evitar o agravamento da doença.  Indagou, inclusive, por que a reportagem estava pergunto “apenas” sobre cloroquina.

O tratamento é muito mais amplo que isso. Para mim não é recomendado esperar os pulmões serem tomados e ir direto pro tubo. Isso que está acontecendo infelizmente”, afirmou Herculano.

“Quando alguém está com câncer quando mais rápido agir maiores as chances de cura”, defendeu. “Na verdade a doença é um mistério, coisa nova que a ciência está batalhando para vencer. Graças a Deus estou vencendo", disse.

O médico foi procurado no número de seu consultório e foi deixado recado com um pedido de entrevista, ainda não respondido.

Não existe – A reportagem conversou com o infectologista Júlio Croda, uma das vozes mais presentes no debate sobre o tratamento da covid-19 no Brasil sobre o assunto. Ele foi taxativo. "Não existe nenhuma evidência técnica cientifíca para esse tipo de tratamento. E nenhuma sociedade cientifica nacional ou internacional recomenda”, afirmou Croda.

Presidente do Sinmed (Sindicato dos Médicos de Mato Grosso do Sul) e chefe de CTI, Marcelo Santana, que tem lidado com doentes graves de covid o tempo todo, diz algo parecido. Segundo ele, não há nada demonstrando, no universo médico, qualquer benefício com inalação de cloroquina.

Ambos os profissionais da medicina alertam, ainda, que sequer existe a previsão de o medicamento ser utilizado desse modo. A hidroxicloroquina, neste caso, é diluída em soro fisiológico para fazer inalação em aparelhos que as pessoas costumam ter em casa para o procedimento de alívio respiratório.

Liberdade -  O CRM/MS (Conselho Regional de Medicina de Mato Grosso do Sul) afirmou que o profissional tem autonomia para decidir junto ao paciente a terapêutica mais apropriada, citando resolução 04/2020 do CFM (Conselho Federal de Medicina).

“Tanto o CRM/MS quanto o CFM entendem que o profissional médico tem conhecimento para decidir qual a melhor opção a ser tomada, averiguando cada caso é decidindo junto ao paciente a utilização ou não do medicamento”, declarou o presidente da entidade, Maurício Jafar.

No Rio Grande do Sul, nos 3 casos onde os pacientes  morreram após o procedimento, a médica que realizou o procedimento foi a mesma: Eliane Scherer. Afastada pelo hospital, ela é alvo de investigação aberta no Cremers (Conselho Regional de Medicina do Estado do Rio Grande do Sul).

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