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Cidades

Há sete meses esperando perícia, trabalhador dá com cara na porta no INSS

Apesar do INSS divulgar a volta de atendimento ao público hoje em 3 agências em nenhuma delas teve perícia médica

Paula Maciulevicius Brasil | 14/09/2020 09:33
Na Agência Anhanduí, população que foi para perícia médica teve de voltar para casa. (Foto: Silas Lima)
Na Agência Anhanduí, população que foi para perícia médica teve de voltar para casa. (Foto: Silas Lima)

A fila nas agências do INSS (Instituto Nacional do Seguro Social) na manhã desta segunda-feira (14) reunia revolta e reclamação. Quem estava agendado há meses e até poucos dias, teve de voltar para casa sem passar pela perícia médica. Na entrada, um funcionário da agência avisava que foi uma decisão dos médicos peritos, a de não voltar com o atendimento, e que as perícias seriam reagendadas.

Apesar do INSS divulgar a volta de atendimento ao público nesta segunda (14), apenas três agências foram autorizadas a abrir na Capital e em nenhuma delas teve perícia médica.

"Sete meses. Sete meses. Marca, marca e ninguém atende. A gente pode morrer, eles não. Estou desde maio esperando", esbravejava o operador de telemarketing, Manoel Tenório de Albuquerque, de 64 anos.

Manoel relata esperar há sete meses por perícia médica. (Foto: Silas Lima)
Manoel relata esperar há sete meses por perícia médica. (Foto: Silas Lima)

Ele conta ter sofrido um infarto em março deste ano, dado entrada no pedido de auxílio doença no mesmo mês e ter a primeira perícia agendada para 4 de maio, que não aconteceu. "Desde maio, remarquei e não abriu. Isso é revoltante. Estava marcado para hoje e depois eles vão na TV mentir que ia abrir. Quero a minha perícia, eu tive um infarto e não recebi 1 real", dizia desesperado.

Artesã, Carla Mathias, de 47 anos, tinha em mãos a carteira de trabalho e pelo corpo, cicatrizes de duas cirurgias, de retirada de vesícula e de miomas. "É uma vergonha isso, achei que estava aberto, vim aqui e avisaram, que falta de respeito com as pessoas", desabafa.

Com cadeira de rodas, Fernando recebeu a notícia de que a perícia seria reagendada. (Foto: Silas Lima)
Com cadeira de rodas, Fernando recebeu a notícia de que a perícia seria reagendada. (Foto: Silas Lima)
Acidente de moto deixou Fernando sem trabalhar e preocupação agora é quando perícia será feita. (Foto: Silas Lima)
Acidente de moto deixou Fernando sem trabalhar e preocupação agora é quando perícia será feita. (Foto: Silas Lima)

Houve quem desse com "a cara na porta" mesmo depois de tirar a cadeira de rodas do carro, descer e se sentar, para por tudo de novo dentro do veículo. Fernando de Oliveira, de 43 anos, estava com a perna para cima, na tentativa de amenizar a dor da cirurgia feita, depois de sofrer um acidente de moto. Com pinos e placas em uma das pernas, ele conta 20 dias do acidente. "Estava agendado para hoje e diz que não vai abrir. Agora é ver no aplicativo para ver o que acontece e diz que vão ser remarcadas, meu atestado é de 90 dias, três meses sem trabalhar..."

Trabalhador de uma cerâmica, Revelino Debona, de 38 anos, também sentia o descaso. Sem saber, saiu de casa hoje cedo e só vai poder voltar às 12h,  próximo horário do ônibus de Campo Grande a Terenos. "Estou esperando tem um mês, me machuquei, ontem mesmo fui à empresa e perguntei, disseram que estava funcionando normal. Não avisam nada, chega aqui e fico sabendo que é pelo [aplicativo] Meu INSS", explica.

De Terenos, Revelino espera ônibus para voltar para casa sem perícia. (Foto: Silas Lima)
De Terenos, Revelino espera ônibus para voltar para casa sem perícia. (Foto: Silas Lima)

Esperando desde maio, a serviços gerais Zenaide Aparecida de Oliveira, de 49 anos, estava desapontada. Depois de cair da escada do trabalho, ela quebrou o tornozelo e passou por cirurgia. "Fiquei internada, coloquei placa e pino. Estou desde maio esperando a perícia sem receber nada. Ainda bem que tem ele [marido] se não as contas estariam mais atrasadas".

Tratando de um câncer, o coordenador de logística Diogo Trava, de 38 anos, já saiu de casa ressabiado e o receio estava certo: não teve perícia de novo. Em abril ele entrou com o pedido do INSS, foi marcado para agosto e depois remarcado para hoje.

"Eu estou sem renda nenhuma. Sem trabalhar desde o dia 16 de abril. Agora liberaram e mandaram a gente embora, porque não pode aglomerar aqui", afirma. Indignado não só por si mesmo, como também por outros. "Chega gente amputada, recém-operada aqui. Só dizem que vão remarcar até quinta, se já sabiam que ia acontecer, por que não avisaram?", questiona.

Na porta da agência Anhanduí, no Centro de Campo Grande, a resposta para o Campo Grande News foi de que todas as perícias vão ser reagendadas e que a suspensão do atendimento não se deu por conta do INSS e sim pela Associação dos Médicos Peritos.

Em nota, a Associação Nacional dos Peritos Médicos Federais informou que impedimento do retorno da categoria previsto para esta segunda foi o resultado das vistorias realizadas nas agências que mostrou que "grave inconsistência". Das mais de 800 agências vistorias, a Associação fala que apenas 12 foram aprovadas.

Ainda segundo a nota, mesmo com todo o alarde da pandemia, agências foram encontradas sem EPI, por isso toda a categoria permanecerá em trabalho remoto até acontecerem novas vistorias.

O INSS, através da assessoria de imprensa, informou que está desde quinta-feira (10) adequando os consultórios dos peritos conforme foi pedido pela categoria e que a partir de hoje será feita nova inspeção nas agências para a perícia retomar o atendimento. A recomendação do Instituto para os trabalhadores é desconsiderar a perícia que estava marcada para hoje e remarcar pelo aplicativo Meu INSS ou telefone 135.

Ainda em nota, o INSS ressaltou que tem seguido o protocolo de segurança sanitária "mais amplo e robusto do setor público, logo não há justificativa para greve sanitária".

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