"A gente tem que ter coragem para sobreviver", diz jovem agredido por homofobia
Estudante de 23 anos foi cercado e espancado após beijar amigo próximo à Feira Central
RESUMO
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Jovem de 23 anos é vítima de agressão homofóbica em Campo Grande. O estudante, que prefere não se identificar, foi atacado por cerca de dez homens após sair de um bar na região central da cidade. A agressão ocorreu na madrugada de sábado (9), em frente ao Armazém Cultural. Imagens que circulam nas redes sociais mostram o estudante e um conhecido trocando um beijo quando o grupo se aproxima e inicia agressões verbais com ofensas homofóbicas. Em seguida, o grupo parte para a violência física com chutes e socos. A vítima relata que tentou fugir, mas foi perseguido e agredido. O jovem afirma que essa não foi a primeira vez que sofreu preconceito, mas nunca havia sido agredido fisicamente dessa forma. Ele desabafa sobre a dor física e emocional, além da culpabilização sofrida após o ataque. O estudante defende o diálogo e a educação como ferramentas para combater o preconceito.
"O medo acompanha a gente, mas é preciso ter coragem para sobreviver e não abaixar a cabeça." É assim que um estudante de 23 anos descreve como se sente dias depois de ser brutalmente agredido por cerca de 10 homens, no fim de semana, próximo à Feira Central, em Campo Grande. Ele pediu para não ser identificado, por medo de novas represálias, mas decidiu falar sobre a violência que sofreu.
O caso ocorreu na madrugada de sábado (9), em frente ao Armazém Cultural, após ele sair de um bar acompanhado de um conhecido. “A gente acabou ficando e ele me acompanhou na hora de ir embora”, conta. Nas imagens que circulam nas redes sociais, os dois aparecem próximos a uma moto, trocando um beijo, quando o grupo se aproxima.
Segundo a vítima, a primeira agressão foi verbal, com ofensas homofóbicas: “Aqui não é lugar para viado, mete o pé daqui do nosso pedaço.” Ele relata que tentou encerrar a situação sem confronto. “Falei que já estava indo, mas não adiantou. Vieram com chutes e socos. A homofobia não vê reação da vítima, só quer agredir.”
O estudante lembra que caiu junto com a moto ao tentar fugir, sendo perseguido por um dos agressores enquanto outros chutavam a motocicleta caída.
“A gente fica triste, mas feliz por ter sobrevivido, porque tem gente que não consegue escapar. Tem casos que acabam em morte ou deixam sequelas para sempre.”
Problema estrutural - Essa não foi a primeira vez que ele enfrentou preconceito. Embora nunca tenha vivido uma agressão física dessa proporção, diz já ter sido alvo de ataques verbais em outros momentos. “É comum ouvir provocações na rua, gente gritando do carro, fazendo piada. Quando você está em grupo, as pessoas pensam duas vezes, mas sozinho ou com roupas mais chamativas, é como se fosse um convite para o preconceito”, relata.
Além da dor física e emocional, ele conta que ainda precisou ouvir comentários que tentavam transferir a culpa para ele. “Teve gente perguntando o que eu estava fazendo ali naquele horário, como se isso justificasse o que aconteceu. É revoltante.”
Para ele, a violência não acaba no dia da agressão. “É uma marca que vai te acompanhar para o resto da vida. Você tem que aprender a lidar, porque qualquer situação que remeta àquele dia vai ser um gatilho. Sua ansiedade vai aflorar e você vai querer ir embora do lugar onde está. É como um assalto: você não espera, mas, quando sente perigo, volta para aquele momento.”
O estudante, que sempre frequentou eventos culturais e bares na região central, diz que ainda não decidiu se terá coragem de voltar. “A gente não quer parar de viver, mas o medo acompanha. Ao mesmo tempo, é preciso coragem para não abaixar a cabeça. A gente não tem culpa da ignorância e da intolerância dos outros.”
Ele defende que a mudança começa cedo, com diálogo e educação. “Se fosse uma criança que visse a cena, caberia aos pais explicar que existem outras formas de amar e que todo mundo merece respeito. É assim que a gente quebra o preconceito, para não criar mais monstros.”
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