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Economia

Setor da carne alerta para impactos da taxação chinesa nas exportações

ABIEC e CNA alertam que taxa de até 67% alteram o acesso ao principal mercado da carne bovina do Brasil

Por Jhefferson Gamarra | 31/12/2025 16:41
Setor da carne alerta para impactos da taxação chinesa nas exportações
Presidente Luiz Inácio Lula da Silva, durante visita à planta frigorífica em Campo Grande (Foto: Ricardo Stuckert / PR)

Após o anúncio da China de que passará a aplicar medidas de taxação sobre as importações de carne bovina, entidades representativas do setor produtivo brasileiro alertam para a necessidade de ajustes ao longo de toda a cadeia e para os riscos de impacto sobre produção, exportações e renda no campo. A avaliação consta de nota conjunta divulgada pela Abiec (Associação Brasileira das Indústrias Exportadoras de Carnes) e pela CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).

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A China anunciou medidas de taxação sobre importações de carne bovina que entrarão em vigor em janeiro de 2026, gerando preocupação no setor produtivo brasileiro. A decisão estabelece uma quota anual de 1,106 milhão de toneladas com tarifa de 12%, enquanto volumes excedentes serão taxados em 67%. O impacto é significativo, considerando que a China é o principal destino das exportações brasileiras de carne bovina, tendo importado 1,7 milhão de toneladas em 2025. A ABIEC e a CNA alertam para a necessidade de reorganização da cadeia produtiva, que emprega 7 milhões de pessoas e tem papel fundamental na economia nacional.

Segundo as entidades, a decisão chinesa altera de forma significativa as condições de acesso ao principal mercado da carne bovina brasileira e impõe uma reorganização dos fluxos de produção e exportação. A China é, atualmente, o maior destino do produto brasileiro e exerce papel estratégico no funcionamento da pecuária nacional, especialmente para cortes e produtos de maior valor agregado, com perfil distinto do consumo doméstico e forte impacto na geração de emprego e renda.

As medidas passam a valer a partir de 1º de janeiro de 2026 e estabelecem uma quota anual crescente ao longo dos três primeiros anos. No primeiro ano de vigência, o limite será de 1,106 milhão de toneladas, com aplicação de tarifa de 12% para os volumes embarcados dentro da quota. Já as exportações que ultrapassarem esse teto estarão sujeitas a uma sobretaxa de 55%, o que resulta em uma tarifa total de 67% fora da quota.

O novo modelo contrasta com o cenário atual. Em 2025, o Brasil exportou cerca de 1,7 milhão de toneladas de carne bovina para a China, volume que representou aproximadamente 48,3% de todas as exportações brasileiras do produto. Com a imposição do teto, parte relevante desse fluxo ficará sujeita à tarifa elevada, exigindo adaptações ao longo de toda a cadeia produtiva para evitar impactos mais amplos sobre preços, produção e escoamento.

Na avaliação da ABIEC e da CNA, as exportações brasileiras de carne bovina para a China são resultado de uma relação comercial construída ao longo de anos, baseada em fornecimento regular, previsibilidade e no rigoroso cumprimento dos requisitos sanitários e técnicos acordados entre os dois países. As entidades destacam que a carne brasileira tem papel complementar no abastecimento do mercado chinês, contribuindo para a estabilidade da oferta e para o atendimento da demanda do consumidor local.

O posicionamento das entidades se soma às preocupações já manifestadas por governos estaduais e pelo Ministério da Agricultura. Em Mato Grosso do Sul, por exemplo, o secretário de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação, Jaime Verruck, afirmou que o Estado articula, junto a outras unidades da federação e ao governo federal, uma reação diplomática e comercial para tentar reduzir os efeitos da medida. O mercado chinês responde por cerca de metade das exportações sul-mato-grossenses e é fundamental para a formação de preços do boi gordo.

Além do cenário chinês, o setor também acompanha com atenção as mudanças recentes na política comercial dos Estados Unidos, que ao longo de 2025 aplicaram e depois retiraram tarifas adicionais sobre diversos produtos brasileiros, incluindo a carne bovina. A combinação de restrições em dois mercados estratégicos aumenta a incerteza para o início de 2026.

A nota conjunta ressalta ainda o peso econômico da pecuária bovina no Brasil. A cadeia tem papel central na economia nacional, levando renda a milhares de municípios e sustentando cerca de 7 milhões de empregos diretos e indiretos. Do total produzido, aproximadamente 70% da carne bovina é destinada ao mercado interno, enquanto cerca de 30% é exportada, o que evidencia o caráter complementar das vendas externas e sua importância para o equilíbrio do setor.

Diante desse contexto, ABIEC e CNA informam que seguirão acompanhando a implementação das medidas de salvaguarda e atuarão diretamente junto ao governo brasileiro e às autoridades chinesas. O objetivo, segundo as entidades, é reduzir os danos que a sobretaxa pode causar aos pecuaristas e exportadores brasileiros e preservar, na medida do possível, o fluxo comercial historicamente praticado entre os dois países.