Álcool, velocidade e imprudência mataram uma pessoa por dia no trânsito em MS
Houve redução em mortes, mas não há o que comemorar; polícia diz que imprudência se repete ano após ano

O ano de 2025 termina com uma contradição difícil de ignorar nas ruas e rodovias de Mato Grosso do Sul. Ao mesmo tempo em que o Estado registra queda de 14% nas mortes no trânsito, fecha o período com 361 vítimas, média de uma pessoa por dia, envolvidas em acidentes marcados por imprudência, pressa, álcool e excesso de velocidade. Para 2026, o Batalhão de Trânsito de Campo Grande pretende intensificar as ações, especialmente à noite e nos fins de semana - período em que mais ocorrem acidentes.
RESUMO
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Mato Grosso do Sul registrou queda de 14% nas mortes no trânsito em 2025, totalizando 361 vítimas. Apesar da redução em relação a 2024, quando houve 374 óbitos, os acidentes continuam sendo causados principalmente por imprudência, consumo de álcool e excesso de velocidade. O perfil das vítimas em Campo Grande, onde 75 pessoas perderam a vida, é predominantemente de homens adultos, seguidos por mulheres idosas. Para 2026, o Batalhão de Trânsito planeja intensificar as ações preventivas, especialmente durante a noite e fins de semana, períodos com maior incidência de acidentes.
Segundo dados da Sejusp (Secretaria de Estado de Justiça e Segurança Pública), na Capital, 75 pessoas morreram, e o perfil das vítimas se repete: homens adultos lideram as estatísticas, seguidos por mulheres idosas.
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Considerando o Estado todo, há redução em relação a 2024, quando 374 pessoas perderam a vida. O número é positivo, mas não apaga um histórico pesado.
Pela série da Sejusp, 2015 foi o pior ano da última década, com 585 mortes no trânsito em Mato Grosso do Sul. Desde então, os números oscilaram sem nunca cair a um patamar confortável: 514 em 2016, 204 em 2017, 360 em 2018, 300 em 2019, 365 em 2020, 320 em 2021, 345 em 2022, 336 em 2023, até chegar aos 374 de 2024 e aos 361 de 2025. Em Campo Grande, o movimento é semelhante, com picos, quedas pontuais e nova alta neste ano.
Para a 1ª tenente Carla Fernanda Vicente Coutinho, do Batalhão de Polícia Militar de Trânsito de Campo Grande, a redução de 14% é um sinal positivo, mas não autoriza comemoração plena. Segundo ela, os fatores se repetem ano após ano. “Excesso de velocidade, falta de manutenção veicular, álcool ao dirigir e desrespeito à sinalização, como avançar sinal vermelho”, resume.
A oficial explica que, se o condutor não ingerir álcool, respeitar a velocidade permitida e a sinalização, a chance de se envolver em um acidente fatal é mínima. “Mesmo que a outra pessoa esteja totalmente errada, ainda há tempo de se defender e evitar uma tragédia”, afirma. O objetivo, segundo ela, é buscar o zero em mortes, com policiamento preventivo, campanhas educativas, ações em escolas e operações concentradas em períodos críticos.
Apesar da multa por dirigir alcoolizado chegar a R$ 2.934,70, a tenente reconhece que o valor, sozinho, não impede o crime. “O que realmente amedronta o condutor é a prisão. O valor incomoda, mas a prisão assusta”.
Histórias
Por trás dos números, 2025 foi marcado por histórias que escancararam como decisões tomadas em segundos custaram vidas inteiras. Em 27 de janeiro, na MS-306, em Cassilândia, um carro da mesma família colidiu com um caminhão após possível aquaplanagem. Morreram uma criança de quatro anos, os pais e a avó. O motorista chegou a ser socorrido, mas não resistiu. Dias depois, ainda em janeiro, o médico Guilherme Grechinski morreu após a caminhonete capotar na BR-060, em Paraíso das Águas, em um trecho conhecido como “curva da morte”, sob chuva intensa.
Fevereiro concentrou uma sequência de tragédias em Campo Grande e no interior. No início do mês, o militar do Exército Márcio Vinicius da Silva, de 20 anos, morreu após furar o sinal vermelho e colidir com um carro no Jardim Leblon. Poucos dias depois, o motorista de aplicativo Pedro Henrique Mendes da Silva, de 21 anos, morreu em um cruzamento da Avenida Conde de Boa Vista. Moradores apontam que a combinação de alta velocidade e falhas na sinalização transforma o trecho em ponto recorrente de acidentes.
Em 15 de fevereiro, o estudante de Medicina, João Vítor Fonseca Vilela, de 23 anos, atropelou e matou a corredora Danielle Correa de Oliveira. Ele atribuiu o acidente a uma “desatenção que ocasionou uma tragédia” e, apesar de estar claramente sob efeito de álcool no momento, ele não admitiu que estava embriagado.
No mesmo período, na BR-163, em Rio Brilhante, Terezinha Ezidio de Brito, de 61 anos, morreu após ser ejetada de um carro que capotou e caiu no rio. A condutora estava alcoolizada, com 0,79 mg de álcool no bafômetro.
Ainda em fevereiro, a grávida Maiara Moraes de Souza, de 31 anos, morreu após invadir a contramão de motocicleta durante chuva forte, no Bairro Pioneiros, em Campo Grande. O motorista do carro atingido tentou socorrê-la, mas ela morreu no local.
Em março, o excesso de velocidade voltou a aparecer como fator determinante. Um caminhoneiro morreu após perder o controle do veículo e derrubar o muro de uma empresa no Jardim Santa Felicidade. No Bairro Rita Vieira, o motociclista Luiz Henrique, de 23 anos, morreu após atingir o meio-fio em alta velocidade e ser arremessado a quase 30 metros do ponto de impacto.
Abril ficou marcado por uma das tragédias mais simbólicas do ano. Na BR-060, entre Sidrolândia e Campo Grande, uma mãe e quatro filhos morreram, vítimas de um motorista bêbado. Apenas o pai e um dos filhos sobreviveram. O caso reforçou um padrão observado pela polícia: acidentes fatais se concentram à noite e nos fins de semana, quando há maior consumo de álcool.
Em maio, a pressa virou sinônimo de luto no Bairro Tiradentes, em Campo Grande. Uma mãe avançou a sinalização de “Pare” ao tentar socorrer a filha grávida, que passava mal. As duas morreram após a colisão, e o bebê também não resistiu.
Em junho, uma criança de nove anos morreu após um carro atingir transversalmente uma carreta na BR-163, em Campo Grande. No mês seguinte, o motociclista Erasmo Feitosa, de 64 anos, morreu após colidir com um carro funerário em um cruzamento da Vila Célia.
Já no fim do ano, dois jovens morreram após o carro em que estavam derrapar e bater contra uma mureta na Avenida Gunter Hans, com suspeita de manobra imprudente. As vítimas são: Daniel Moreti Nogueira, 26 anos, e Ângelo Antônio Alvarenga Peres.
Para 2026, o batalhão pretende intensificar as ações, especialmente à noite e nos fins de semana. A dúvida que fica é se a sociedade acompanhará esse esforço. A última década mostra que quedas pontuais não garantem mudança definitiva. Enquanto álcool, velocidade e desrespeito às regras continuarem sendo tratados como exceção - e não como risco real - o trânsito de Mato Grosso do Sul seguirá cobrando um preço alto.
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