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Capital

Após acidente no Chile, o alívio do retorno de casal a Campo Grande

Cláudia Maciel ficou ferida em deslizamento de pedras ocorrido a caminho da barragem El Yeso, no Chile; duas crianças morreram

Silvia Frias e Ronie Cruz | 07/06/2019 18:15
Ademir e Cláudia, em foto tirada no dia do acidente (Foto: Arquivo pessoal)
Ademir e Cláudia, em foto tirada no dia do acidente (Foto: Arquivo pessoal)

Dez segundos. Tempo suficiente para transformar a viagem programada há meses em pesadelo para o casal residente em Campo Grande, Cláudia Maciel Muller, 55 anos, e o marido, Ademir Antunes Mendonça, 62 anos. Ela ficou ferida e duas crianças morreram no deslizamento de pedras que aconteceu em uma das montanhas da barragem de El Yeso, região turística localizada na área metropolitana de Santiago, no Chile.

O acidente aconteceu no dia 3 de junho. No deslizamento das pedras, morreram duas crianças de outras duas famílias brasileiras: Khálida Trabulsi Lisboa, 3 anos, e Isadora Bringel, 7 anos. Cláudia fraturou o cóccix e pode perder pedaço da orelha direita, atingida no acidente.

O casal de advogados voltou para Campo Grande ontem (6) e, logo que chegou, Cláudia foi ao médico para novos exames. Na próxima semana deve se consultar com cirurgião plástico para ter diagnóstico final sobre a orelha.

Em casa, na Vila Rica, a tranquilidade deles não reflete os momentos de desesperos que viveram na montanha. Aquele seria o último dos três passeios programados em Santiago naquele dia e, também, o mais esperado. A rota seria parar a van, com cerca de 20 pessoas, ao pé da montanha e caminhar cerca de 1 km para ver a barragem abandonada de El Yeso, um dos pontos turísticos mais procurados.

A cerca de 500 metros da barragem, Cláudia se distanciou do marido e ficou atrás, fazendo fotos para outra turista. Foi nesse momento que o deslizamento começou. “Foram dez segundos de barulho ensurdecedor”, disse Ademir.

Cláudia se lembra da gritaria. “Pedra, pedra!”. Olhou para cima e pensou o pior. “Uma pedra grande, acho que uns 500 quilos começou a rolar e bater nas outras”. No choque, foram se dividindo em pedaços e descendo a estrada, chegando ao despenhadeiro. “Era pedra de tudo que é tamanho, em alta velocidade”, lembra a advogada.

No caminho, estavam os turistas. “Na hora que começou a rolar, pensei que ia morrer; a pedra bateu na minha cabeça, do lado direito e eu caí”, lembra Cláudia. Com dificuldade, conseguiu se levantar, percebeu que estava sangrando, mas só pensava em sair do local.

Avisado pelos mesmos gritos que chamaram a atenção da esposa, Ademir somente teve tempo de se esconder atrás de caminhão reboque, enquanto as pedras batiam no veículo. 

Cláudia posa para foto, a caminho da barragem Foto: arquivo pessoal)
Cláudia posa para foto, a caminho da barragem Foto: arquivo pessoal)
No dia do acidente, frio de 5ºC, recorda-se Ademir (Foto: arquivo pessoal)
No dia do acidente, frio de 5ºC, recorda-se Ademir (Foto: arquivo pessoal)

Quando Ademir se levantou, viu uma menina caída e foi até ela. “Quando me aproximei, disseram para não encostar para não machucar mais”. Em seguida, um homem correu e abriu um dos olhos da criança, notou a dilatação a pupila e tentou reanimá-la por três vezes, mas ela não resistiu. “Era o pai dela; a menina chegou a conversar com ele”, lembrou o advogado. Era Khálida Lisboa.

As crianças faziam parte de outro grupo de brasileiros, de São Luís (MA).

Socorro - após o acidente, os turistas foram levados para abrigo, onde permaneceram por 50 minutos, até a chegada dos bombeiros e da perícia local. Isadora chegou a ser levada para o hospital de San José de Maipo, mas também não resistiu.

Cláudia foi levada para o mesmo hospital particular, em San José, enquanto Ademir ficou no abrigo, prestando depoimento para as autoridades locais. De lá, ela foi transferida para instituição em Santiago até ter autorização médica para voltar ao Brasil.

Em declarações a jornais peruanos, a governadora da província da Cordillera, Mireya Chocair, disse que a operadora de turismo pode ser responsabilizada pelas mortes, porque as vítimas haviam passado em local proibido. “Isso é mentira”, acredita o advogado, dizendo que a passagem era controlada por equipe de policiais e centenas de pessoas estiveram por lá, o que indicaria ser trecho liberado.

Segundo ele, se era área proibida, faltou informação, pois não havia qualquer sinalização e ninguém deu orientação de segurança. “A natureza conspirou e as autoridades foram negligentes; se outros lugares como aquele fossem obrigados a seguir as normas, tudo poderia ter sido diferente”, avaliou Ademir.

Em agosto, eles pretendem viajar para o Nordeste, destino que já estava previsto para esse ano. O casal não tem qualquer pretensão de voltar para ver a barragem em El Yeso. “Não vou ter alegria de ver um lugar onde crianças morreram a cinco metros de mim”, lembra Ademir.

Estrada onde aconteceu o deslizamento de pedras, a caminhado da barragem de El Yeso (Foto/Arquivo)
Estrada onde aconteceu o deslizamento de pedras, a caminhado da barragem de El Yeso (Foto/Arquivo)
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