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Capital

Após mãe morrer de gripe e bebê ser salvo, avó diz: "Vacinem-se"

Paula Maciulevicius | 03/07/2012 15:09
As lágrimas são de dor e alegria. Marli de 56 anos chora pela perda da filha, mas tem pela frente a criação do neto, nascido prematuro. (Foto: Simão Nogueira)
As lágrimas são de dor e alegria. Marli de 56 anos chora pela perda da filha, mas tem pela frente a criação do neto, nascido prematuro. (Foto: Simão Nogueira)

Marli Maria Sales de Araújo tem 56 anos. Se não fosse pelo peso que carrega dos últimos dias poderia dizer que ela não aparenta a idade que tem. Hoje o que ela vive é a dor de perder uma filha para a gripe A e a alegria de ter um neto nascido prematuro para cuidar.

Marli aceitou conversar com o Campo Grande News pela situação em que a filha, dependente química, morreu. “Ela não se vacinou, não adiantou eu falar nada. Eu estou falando, contando isso agora para que outras mães se vacinem, é perigoso, quero ajudar”, explica.

“É uma coisa muito difícil. Alegria e ao mesmo tempo tristeza. Duas emoções complexas. Hoje vou ao mesmo hospital onde esperava que minha filha saísse viva para ver meu neto, a continuação da vida dela. Tenho amor, mas saio chorando. Não é fácil não”, desabafa.

A história que o Campo Grande News conta agora é da mãe e do filho de Glaucia Sales de Melo, 25 anos, que morreu no último dia 28 de gripe A, no Hospital Regional Rosa Pedrossian.

“No início era só suspeita e a gente aguardando, toda hora você quer saber, quer ouvir que ela vai sair viva. Foi constatado e aquele momento chegou. No fim eu tive que sepultar minha filha”, descreve.

Glaucia de 25 anos morreu no último dia 28, vítima de gripe A. Usuária de pasta-base há 9 anos, ela se recusou a tomar a vacina.
Glaucia de 25 anos morreu no último dia 28, vítima de gripe A. Usuária de pasta-base há 9 anos, ela se recusou a tomar a vacina.

Glaucia chegou à casa da mãe, no bairro Santa Emília no dia 12 de junho. Com muita febre, dificuldade para respirar e com uma gestação quase por completar seis meses. A mãe chamou pelo socorro. Os primeiros atendimentos foram no posto de saúde do Aero Rancho e depois a grávida foi encaminhada para o Hospital Rosa Pedrossian.

Usuária de pasta-base há 9 anos, Glaucia não fez pré-natal nem tomou a vacina contra a gripe. Mesmo com a insistência da mãe. “Eu falava que ela tinha que tomar, que era perigoso. Principalmente por ela ser usuária. Mas ela dizia que eu inventava doença pra ela. Que ela não tinha daquilo e depois disse que já tinha tomado”, conta a mãe.

A situação piorou um dia depois que Glaucia foi internada. Segundo a mãe, com pés inchados, rins funcionando parcialmente e coração acelerado, a filha foi submetida a uma cesariana. “Eu esperava já pela crise de abstinência, eu sabia que viria. Tiraram o bebê dela e ela ficou entubada. Aí eu já sabia, minha filha não voltaria mais”.

João Lucas nasceu prematuro, antes que a gestação completasse 6 meses, no dia 14 de junho. Segue internado na UTI (Unidade de Terapia Intensiva) Neonatal do Hospital Regional.

“Entre salvar os dois, os médicos salvaram a criança. Eles fizeram o que puderam, o tratamento foi certo, como a medicina manda. Mas deu parada cardíaca nela”, relata Marli.

Antes de se despedir da filha, a mãe conta que dizia a Glaucia “seu bebê nasceu, é lindo, maravilhoso e vai ficar bem. O que você quer que eu faça?”. “Ela estava em coma induzido, mas saíam lágrimas dos olhos quando a gente falava. Eu senti que ela me disse quero que você cuide do meu bebê. Ela morreu, mas sabendo que o filho estava vivo”.

Uma mãe nunca esperava perder uma filha para a doença ou qualquer outra coisa e Marli não é diferente. Ela chora ao dizer que mesmo dependente química, nunca perdeu o carinho. “Ela parava uma semana aqui e outra fora, me ligava quando estava doente e eu trazia ela. Mesmo lá ela dizia mãe eu te amo, não esquece que eu te amo”.

O “lá” ao que Marli se refere é a Vila Nhanhá, onde a mãe foi repetidas vezes em busca da jovem. Glaucia, ao longo de quase 10 anos teve quatro tentativas de internação, mas não seguia com o tratamento.

Marli se prepara agora para criar o neto. “Trabalho como enfermeira particular, não posso mais pegar plantões. Vou ter que ficar 24h com esse bebê, não posso deixar na mão de ninguém”, disse.

João Lucas não têm previsão de alta. Mas já respira sozinho, sem estar entubado e recebe alimentação pela sonda.

Em um dos quartos está o berço que veio do priminho e as poucas roupas doadas quando Glaucia ainda estava viva. (Foto: Simão Nogueira)
Em um dos quartos está o berço que veio do priminho e as poucas roupas doadas quando Glaucia ainda estava viva. (Foto: Simão Nogueira)

“Tudo o que eu pude fazer por ela em vida eu fiz. Deixava de fazer por mim e pela minha outra filha para fazer tudo pra ela. Eu quero dar saúde e muito estudo para ele. Não é que eu não pude dar isso pra ela, eu até podia, mas infelizmente a droga não deixou”, declara.

Hoje pela manhã, Marli seguiu a rotina e foi ao hospital para os 30 minutos de visita. Ainda em casa ela mostrou o berço e as poucas roupinhas que o bebê tem. “O berço era do priminho e essas roupas foram as que doaram para a Glaucia. Quando bebê nasce, você está preparado, mas agora foi um choque. Eu me preparei para receber ele daqui três meses, mas nisso a minha Glaucia morreu”.

“Eu falo para o João Lucas, mamãe foi embora, mas a vovó está aqui do seu lado e vai cuidar de você”, finaliza. Os olhos derramam lágrimas pela face de quem carrega o peso da vida e quer dar o melhor para o neto.

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