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Capital

Após protesto, mirins são alvos de perseguições e humilhações

Lidiane Kober | 11/09/2013 08:27
No desfile de 26 de agosto, Mirins teriam sido obrigados a desfilar sem casaco e enfrentar a sensação térmica de três graus (Foto: Divulgação)
No desfile de 26 de agosto, Mirins teriam sido obrigados a desfilar sem casaco e enfrentar a sensação térmica de três graus (Foto: Divulgação)

Após protesto, no início de julho, em frente à Prefeitura de Campo Grande pela permanência do quadro de professores, alunos do Instituto Mirim da Unidade II estão sendo alvos de perseguições e humilhações. A coordenação da entidade nega as acusações e alega que “um ou dois tentam colocar coisas onde não tem”.

Segundo ex-educadores e relatos dos próprios jovens, a coordenação lhes cobra retratação pela manifestação e rumores indicam que eles serão castigados com a falta de encaminhamento para o mercado de trabalho na conclusão do curso. Uma aluna teria sido trancada por uma hora “para refrescar a memória” e delatar os colegas que a acompanharam no protesto.

O clima começou a esquentar na unidade ainda no início do ano, com a troca da equipe de coordenação. Segundo professores, que foram demitidos em julho, e pediram sigilo do nome para evitar mais retaliações aos alunos, a nova direção mudou os conceitos pedagógicos e passou a entrar em confronto com nove dos 11 educadores.

Formada em Ciências Sociais, a ex-professora da oficina de Filosofia, Cidadania e Direitos Humanos contou que as aulas sempre foram focadas em “formar cidadãos e trabalhadores”. “O problema é que a nova direção adotou o sistema de formar jovens dispostos a obedecer tudo e a aparecer na imprensa”, comentou. Contrários à didática, os educadores passaram a entrar em choque com a atual gestão.

“Esse sistema é coisa ultrapassada, da época da ditadura”, avaliou a ex-professora da oficina de Preparação Básica, formada em Comunicação, com pós-graduação em Comunicação Empresarial. Ela foi substituída por uma professora de Geografia, responsável, agora, em transmitir aos alunos as atribuições de um auxiliar administrativo.

“Quando fui buscar meu holerite no Instituto, os alunos correram para me contar que a atual educadora os humilha. Ela diz: vocês são pobres, pobres, pobres, tem que fazer o que a gente manda”, relatou. “Os alunos me contaram ainda que ela diz que o Mirim não precisa aprender muita coisa para limpar geladeira e recolher lixo dos banheiros. Isso é um absurdo”, avaliou a pós-graduada em Comunicação Empresarial.

Professoras não aceitaram novos métodos pedagógicos e acabaram demitidas (Foto: Cleber Gellio)
Professoras não aceitaram novos métodos pedagógicos e acabaram demitidas (Foto: Cleber Gellio)

Demissões – Diante dos contrapontos, cinco dias antes de encerrar o contrato semestral, nove dos 11 professores receberam ligação da prefeitura com o anúncio da demissão, apesar de, no início do ano letivo, a madrinha do Instituto, a primeira-dama Mirian Gonçalves, prometer que não mexeria na equipe.

A informação da demissão se espalhou pela unidade e, no final da aula, às 16h40, os jovens anunciaram aos professores o protesto. Eles se mobilizaram por meio das redes sociais e, no início da tarde do dia 3 de julho, cerca de 50 alunos foram para frente da prefeitura. O prefeito Alcides Bernal (PP) recebeu uma comissão e prometeu não demitir professores com licenciatura e se comprometeu a promover capacitação para quem não tivesse.

Na volta das aulas, a surpresa, os alunos foram surpreendidos com novos educadores e outra coordenação. Dos 11 professores, nove foram demitidos, dos quais seis, mesmo com licenciatura, ficaram sem o emprego “da noite para o dia”.

Retaliações – Além de se adaptar com o novo quadro de educadores, os líderes do protesto passaram a ser alvos de perseguição. Conforme as duas ex-professoras, uma delas, inclusive, já empregada, os jovens as procuram para desabafar e relatar o drama.

“Fiquei chocada com o caso de uma menina que a coordenadora deixou uma hora trancada em uma sala para refrescar a memória e delatar lista dos colegas que participaram do protesto”, contou a professora, formada em Ciências Sociais.

Outros alunos foram chamados para a mesma sala e obrigados e pedir desculpas pela manifestação. Um deles relatou as ex-professoras o caso por meio do Facebook.

No Facebook, Mirins relatam perseguição da coordenadora por causa de protesto em frente a prefeitura
No Facebook, Mirins relatam perseguição da coordenadora por causa de protesto em frente a prefeitura

“Terça ou quarta-feira, a mulher me chamou na sala dela p (para) falar sobre o protesto, ela queria que eu pedisse desculpas para ela, ela gritou cmg (comigo) dentro da sala dela, falou um monte de coisas, era p (para) eu pedir para sair porque a Mirim naum (não) qr (quer) ninguém que possa manchar o nome dela, falou que tdo (tudo) aquilo n (não) foi atitude de mirim e sim de criança boba”, relatou um jovem em conversa no Facebook.

A mesma coordenadora teria ameaçado “desligar” o mirim do Instituto. Indignadas, a ex-professoras frisaram que a “família dos jovens deposita confiança neles” e sofreria muito com a possibilidade de eles perderem a chance de ter um trabalho. “Todos são de famílias muito humilde”, completaram.

No dia 26 de agosto, mais um capítulo da insensibilidade da direção do Instituto. Apesar da sensação térmica de 3ºC, os alunos foram obrigados a desfilar, em homenagem aos 114 anos de Campo Grande, apenas de camiseta “para mostrar o símbolo do Instituto”.

Na frente, os professores bem agasalhados puxavam o desfile, atrás, os jovens, apenas de camisetas, seguiam corajosos.

Outro lado - Coordenadora dos dois Institutos Mirins da Capital, a pedagoga Luciana Ângela Bazotti negou todas as acusações. “É tudo mentira, tem gente que quer colocar coisa onde não tem”, declarou. “Sou pedagoga há 27 anos, jamais iria permitir uma coisa dessas”, emendou sobre as supostas perseguições e humilhações.

Ela frisou que “procura fazer o melhor possível pelos alunos e inserir todos no mercado de trabalho”. Em relação ao desfile, ela disse que “ninguém obrigou nada” e que os alunos foram apenas de camiseta “porque queriam”. “Um ou dois ficam agitando e insuflando a discórdia”, finalizou.

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