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Capital

Após ser espancado por amigo, “Garganta” passou a noite agonizando no chão frio

Francisco só recebeu socorro depois de morto. O principal suspeito nega o crime, mas foi preso em flagrante

Geisy Garnes | 20/07/2021 11:04
Após versão confusas sobre a morte do amigo, Marcos foi preso em flagrante (Foto: Henrique Kawaminami)
Após versão confusas sobre a morte do amigo, Marcos foi preso em flagrante (Foto: Henrique Kawaminami)

Depois de ser espancado, Francisco Hermes da Silva, de 48 anos,conhecido por “Garganta”, foi deixado ferido no chão frio durante toda a noite de domingo para segunda-feira (19). Segundo os relatos, a vítima passou a noite agonizando na varanda do próprio assassino, na Rua da Saúde, bairro Chácara das Mansões, e só foi socorrida depois de morto.

A indiferença com a vítima foi contada e compartilhada pelos “amigos” dela. Durante as investigações do assassinato, a polícia ouviu os três homens que estavam com Francisco no domingo (18). Um deles, o dono da casa em que o corpo estava, que foi identificado como o responsável pela morte: Marcos de Oliveira Ximenes, de 45 anos.

Conforme apurado pela reportagem, a única informação que se repete nos três depoimentos é de que Francisco passou a noite caído na varanda "respirando com dificuldade” e todo molhado, em um dia que os termômetros marcaram menos de 7°C em Campo Grande.

Uma das testemunhas do crime divide casa com suspeito do assassinato. Para a polícia, o morador relatou que no domingo saiu cedo para trabalhar e deixou“Garganta” bebendo com Marcos. Voltou por volta das 16 horas e já encontrou o vizinho caído na varanda, mas ainda com vida.

Em determinado momento, presenciou a vítima levantar e andar com dificuldade até um dos quartos da casa. Marcos, segundo ele, tirou Francisco do cômodo e o devolveu à varanda. Colocou apenas uma coberta no chão e outra por cima do amigo. No início da noite percebeu a respiração desigual do vizinho e chegou a sugerir que o socorro fosse acionado, mas nem ele, nem o suspeito, tomaram atitude.

Garganta passou a noite na varanda, ferido e molhado (Foto: Henrique Kawaminami)
Garganta passou a noite na varanda, ferido e molhado (Foto: Henrique Kawaminami)

O dia amanheceu e Francisco continuou no chão, respirando com dificuldade. Os dois moradores fizeram café em fogão de lenha ao lado do corpo e mais uma vez não tentaram ajudar a vítima. Para a polícia, a testemunha afirmou que pediu para Marcos ligar para o socorro, mas em resposta ouviu que era para deixar Garganta “dormir mais um pouco”.

Alegou que não tem celular e não sabe mexer nos aparelhos, por isso não fez ele mesmo a ligação. Deixou então Francisco “bufando” no chão e foi trabalhar. A mesma “indiferença” está presente no depoimento da principal testemunha do crime: o amigo que bebia com Marcos e Francisco no momento das agressões.

Na versão dele os três tomavam pinga, como de costume, quando a vítima e o autor se desentenderam. A briga evoluiu para agressão e durante a confusão Francisco caiu, bateu a cabeça e ficou no chão. Foi espancado por Marcos ainda assim. Levou vários socos no rosto e permaneceu deitado.

Para não se envolver na briga, levantou e foi embora. Voltou no dia seguinte e encontrou o amigo praticamente no mesmo lugar. Tomou café com Marcos e foi embora novamente. Também afirmou ter pedido a Marcos para chamar ajuda, mas só ouviu que logo a vítima levantava. O que não aconteceu. Horas depois foi avisado que “Garganta” estava morto.

O assassino - As histórias contadas ainda no local do crime levaram a prisão de Marcos. Ele, por outro lado, negou o crime. O que chamou atenção da polícia foi as várias versões sobre o dia de bebedeira com o amigo e as prováveis causas para a morte apresentadas por ele.

Ele não negou ter passado o dia com Francisco, mas afirmou que o amigo “caiu várias vezes” de tão bêbado, até não se levantar mais. Depois relatou que só chegaram em casa às 21 horas e fizeram janta: arroz, feijão e frango. Foi dormir logo em seguida e deixou o amigo sozinho, acordou e o encontrou deitado na varanda.

Foi questionado dos motivos de Francisco estar completamente molhado e ao responder a pergunta desmentiu a própria história: confessou ter jogado um balde de água nele por volta das 19 horas. Para explicar o erro, falou que estava sem relógio, por isso não sabia as horas exatas, mas que chegou a cobrir a vítima por causa do frio.

Por fim, falou que viu sangue na boca da vítima, que reparou que ela se mexia durante a manhã e de repente parou de respirar e só chamou o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) às 9 horas “para não se complicar pela amigo ter morrido em sua casa”.

Marcos é descrito pelas testemunhas como uma pessoa violenta. Nesta manhã, passou por audiência de custódia e teve a prisão preventiva decretada pela justiça. O caso segue em investigação pela Polícia Civil.

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