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Capital

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel

Moradores da região reclamam de problemas na saúde, segurança e infraestrutura

Por Bruna Marques | 10/10/2025 06:31
Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Lama e lixo acumulam nas vias sem asfalto do Batistão, que consta como pavimentado (Foto: Paulo Francis)

Quem passa pela Rua Paquistão, no Jardim Batistão, em Campo Grande, talvez não imagine o tamanho da frustração de quem mora ali. Apesar de constar nos cadastros públicos como pavimentada e com rede de esgoto, a realidade é bem diferente. Moradores denunciam buracos, lama, poeira e o descaso com a infraestrutura do bairro, além da falta de segurança e de medicamentos nos postos de saúde.

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Moradores do Jardim Batistão, em Campo Grande, denunciam graves problemas de infraestrutura no bairro. Ruas que constam como pavimentadas nos registros públicos seguem sem asfalto, e residentes pagam taxa de esgoto por um serviço inexistente. A situação se agrava durante as chuvas, com alagamentos e formação de poças. A comunidade também enfrenta dificuldades no acesso à saúde, com falta de medicamentos nas unidades básicas, e problemas de segurança. A região conta com uma praça inaugurada há dois anos, mas os equipamentos estão depredados. Segundo a associação de moradores, 13 ruas ainda aguardam pavimentação, apesar de constarem como concluídas nos registros oficiais.

A dona de casa Julielly Gonçalves Lopes, 20 anos, mora em uma casa na rua desde os três anos de idade. Ela conta que o bairro mudou pouco ao longo das últimas décadas, apesar das promessas.

“Desde que criaram a praça da Avenida Dinamarca, há dois anos, falaram que iam asfaltar e não asfaltaram. Só fizeram nas ruas principais, que dão acesso à praça e aos comércios. A minha rua consta como asfaltada, mas não é. Consta que tem esgoto, mas também não tem e, mesmo assim, a gente paga taxa”, reclama.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Alessandra Gonçalves Dentinho aponta para água empoçada em frente a sua residência (Foto: Paulo Francis)

Julielly relata ainda que o esgoto vaza e forma poças constantes na frente das casas.

“Mesmo agora, no calor, a água não seca: fica empoçada. É uma sacanagem, porque o asfalto é uma coisa de que a gente precisa. Não há quebra-molas; os carros passam correndo, levantam poeira e meu filho tem bronquite. A terra vira uma nuvem”, lamenta.

A jovem também enfrenta dificuldades no posto de saúde. “Minha mãe toma remédio controlado. A gente vai um mês antes para pegar a receita e não tem. Faltam sertralina e clonazepam. Mandaram ir ao CRAS (Centro de Referência de Assistência Social) e lá também não tinha”, relata.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Rua Paquistão, no Jardim Batistão, com buracos e poças d’água (Foto: Paulo Francis)

A poucos metros dali, na Rua Indonésia, a agente de portaria Maria Aparecida Gonçalves, 47 anos, confirmou a mesma situação. “A conta de água vem cobrando taxa de esgoto, mas aqui não tem. Quando chove, é lama; quando faz sol, é poeira. É uma injustiça; a gente paga por algo que não existe”, afirma.

Ela diz que o atendimento na USF (Unidade de Saúde da Família) Batistão é outro problema enfrentado pelos moradores. “No posto nunca tem remédio, nem dipirona. Para conseguir uma consulta, é preciso marcar com dois meses de antecedência. Quando precisamos de medicamento, temos que comprar e nem sempre dá. Ou ir a outra unidade, que fica a cinco quilômetros. No CRAS também não tem nada”, desabafa.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Parte elevada na calçada da casa da moradora que tem imóvel invadido por água da chuva (Foto: Paulo Francis)

A operadora de caixa Alessandra Gonçalves Dentinho, 40 anos, mora há mais de oito anos na mesma rua e diz que a situação piora a cada chuva.

“Ainda ontem falei que ia gravar um vídeo. O esgoto escorre pela rua; a água parada apodrece. Eu mesma joguei tijolo na frente de casa para conter o mau cheiro. Falam há anos que a rua é asfaltada, mas nunca foi. Quando chove, a água invade as casas. Mandei fazer uma calçada elevada, mas mesmo assim entra”, conta.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Maria Aparecida, moradora da Rua Indonésia também relata falta de pavimentação no local (Foto: Paulo Francis)

Segundo ela, o abandono também afeta a segurança. “A rua já é feia, cheia de buracos, e ainda acontecem furtos e estupros. Roubaram a bicicleta de uma vizinha às 7h da manhã e uma mulher foi estuprada em frente à escola dos meus filhos. Aqui, quem quer segurança precisa pagar um guarda noturno. É revoltante”, denuncia.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Presidente do bairro mostra banco de concreto da praça que foi quebrado por vândalo (Foto: Paulo Francis)

Além disso, Alessandra critica a falta de liderança comunitária. “Nem sei quem é o presidente do bairro. Precisamos de alguém que lute por nós. Desde fevereiro, prometeram asfalto e até hoje nada”, diz.

Desvalorização — O comerciante Ualles Dias, 41 anos, trabalha há 15 anos no bairro, onde a empresa da família já existe há mais de duas décadas. Ele lembra da mobilização que fez para conseguir melhorias.

“Quando inauguraram a praça, há dois anos, nossa rua ia ficar sem asfalto. Nos unimos, gravamos vídeos, fizemos abaixo-assinado e procuramos os jornais. Só assim a obra saiu. Foi preciso pressão, reunião na Câmara e apoio de um vereador e do presidente do bairro”, recorda.

Para ele, a falta de manutenção desvaloriza o bairro. “A praça trouxe movimento, mas precisa de atenção. Os equipamentos estão quebrados e faltam segurança e limpeza. O asfalto é o principal problema. Consta que existe, mas não tem. Isso acontece em várias ruas daqui”, afirma.

O presidente da Associação de Moradores do Jardim Tijuca, bairro que é separado pela Rua Aicas, no Jardim Batistão, Reginaldo Batista, 37 anos, reconhece que ainda há muito a ser feito. No cargo há quatro anos e candidato à reeleição, ele diz que trabalha para que o bairro seja totalmente pavimentado.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Lixo deixado em brinquedo da praça (Foto: Paulo Francis)

“Faltam 13 ruas para asfaltar. Muitas constam como concluídas, mas não estão. Há dois meses, passaram a rede de esgoto, e agora estamos tentando resolver o asfalto. Dizem que já existe um projeto na Secretaria de Obras”, afirma.

Reginaldo relata também os danos e atos de vandalismo nas áreas de lazer. “Os equipamentos da academia ao ar livre da praça estão quebrados; o parquinho foi depredado; o gira-gira ficou só no ferro. As traves da quadra foram arrancadas e os bancos de concreto estão quebrados. A gente arruma, limpa, mas no outro dia o lixo tá lá de novo”, lamenta.

Batistão vive entre buracos e esgoto em bairro “asfaltado” só no papel
Julielly Gonçalves reclama da falta de infraestrutura do bairro que mora desde criança (Foto: Paulo Francis)

Ele conta que, neste fim de semana, organiza uma ação especial para o Dia das Crianças, com brinquedos, atividades e distribuição de alimentos. “Mesmo com todas as dificuldades, a gente tenta manter o bairro vivo. Os jovens da pista de skate se juntaram e pagaram do próprio bolso para pintar o espaço. É esse espírito comunitário que ainda mantém a região de pé”, finaliza.

O Campo Grande News solicitou posicionamento da Prefeitura de Campo Grande sobre as reclamações dos moradores do Jardim Batistão e Jardim Tijuca, mas ainda não obteve resposta até a publicação desta reportagem.

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