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Capital

Calçadas em mau estado viram armadilhas pelas ruas da cidade

Luciana Brazil | 24/08/2012 14:30
Os pedestres precisam se equilibrar na "calçada" despedaçada na rua Barão do Rio Branco. (Fotos:Simão Nogueira)
Os pedestres precisam se equilibrar na "calçada" despedaçada na rua Barão do Rio Branco. (Fotos:Simão Nogueira)
Na avenida Zarhan o deficiente que seguir pelo piso tátil, pode se dar mal.
Na avenida Zarhan o deficiente que seguir pelo piso tátil, pode se dar mal.

Calçadas mal conservadas, desniveladas, estreitas, com mato, com lixo, buraco ou ainda na terra nua. Essa é a realidade do passeio público em muitas regiões de Campo Grande. O que deveria contribuir para o acesso das pessoas, com limitações físicas ou não, se torna muitas vezes uma armadilha. O desrespeito e os absurdos são encontrados facilmente.

Na rua Barão do Rio Branco, a calçada foi a pior encontrada pela equipe do Campo Grande News, que percorreu durante dois dias vários lugares da cidade.

Grande parte do piso está solto e misturado à terra, o que deixa o local ideal para um tombo. Os tropeços são constantes e muita gente já se machucou, como contou o dono de uma barraca que fica na mesma calçada.

“Já vi muita gente cair. Tropeço tem direto. Esses dias a mulher caiu na calçada e foi parar no meio da rua, um perigo. Teve também uma senhora de idade que caiu de cara no chão e ficou com o rosto todo machucado”, relata Claudinei Martins.

Apesar do piso táctil, não existem rampas em nenhum dos pontos da calçada.
Apesar do piso táctil, não existem rampas em nenhum dos pontos da calçada.

Alguns lugares é quase impossível entender. Na avenida Eduardo Elias Zahran, próximo da 1º de Maio, a imagem chega a ser engraçada, mas, na verdade é um grande desrespeito. Imagine só: o piso táctil na calçada e de repente, o caminho para em uma caixa de telefone e em uma caixa de esgoto, e continua do outro lado.

O desvio que deveria ser feito, é ignorado e o deficiente visual que vier se guiando pelo trajeto dará de cara com a caixa podendo até cair na rua. Árvores colocadas em bases de concreto também obstruem o caminho.

Em outro ponto da cidade, na avenida Fernando Corrêa da Costa, a calçada praticamente não existe de tão estreita que é. Para piorar a situação duas caçambas atrapalham ainda mais o espaço, apesar de estarem corretamente colocadas na rua.

Um poste de iluminação também fica bem no meio da passagem. Se um cadeirante precisasse passar pelo lugar, encontraria dificuldade.

A acessibilidade ainda é um dos pontos fracos na cidade. Antes de estacionar o carro e descer em qualquer local, o cadeirante Jeferson Alves Fernandes, 28 anos, explica que é necessário fazer uma sondagem de como chegará no seu destino.

“Eu passo várias vezes em frente e olho bem onde vou estacionar o carro, qual é o melhor lugar para descer. Tenho que analisar bastante, ver por onde eu consigo chegar de forma mais fácil”.

Calçadas mal conservadas, com desnivel e lixo, são comuns pela cidade.
Calçadas mal conservadas, com desnivel e lixo, são comuns pela cidade.
Em alguns lugares da cidade a calçada é tão estreita que o acesso é inviável.
Em alguns lugares da cidade a calçada é tão estreita que o acesso é inviável.

Priorizando sua independência, Jeferson diz que faz de tudo para não precisar de ajuda. “Tem gente que não quer ajudar, vê a dificuldade e não oferece, então é melhor não pedir para não se sentir constrangido”.

No início da rua Chaadi Scaff, que começa na avenida Eduardo Elias Zahran, Jeferson estacionou o carro na tarde de ontem e por falta da rampa, precisou se arriscar e descer sozinho o meio-fio.

“Eu desço, mas tem gente que não faz isso. É um risco”, desabafa.

Jeferson esclarece que os cadeirantes também usam o piso tátil como referência. “A gente sabe que no fim do piso vai ter uma rampa, mas inúmeras vezes isso não acontece”.

Com uma prótese na perna direita, Cleomar Teodoro de Almeida, 41 anos, sente na pele as dificuldades de subir as calçadas sem rampa. “Ando muito à pé e uso a rampa, quando tem, facilita muito, ainda mais quando a calçada é alta”.

Depois de cair em um desnível na calçada, a prótese quebrou e Cleomar precisou gastar R$ 1 mil para trocá-la. “A burocracia é tanta que nem fui atrás para ser ressarcido”, disse descrente.

Segundo ele, o centro da cidade é o pior lugar, já que é onde as pessoas mais precisam se locomover. “Nos bairros também é ruim, mas a gente evita de ir. Agora no centro não tem jeito. Temos que ir ao banco, temos nossos compromissos e fica bem complicado”.

Radialista conta que já até caiu por causa das calçadas. Priscila machucou o pulso.
Radialista conta que já até caiu por causa das calçadas. Priscila machucou o pulso.
Cleomar já quebrou a prótese ao cair em uma calçada desnivelada.
Cleomar já quebrou a prótese ao cair em uma calçada desnivelada.

Notas: Nas ruas, os campo-grandenses avaliaram os passeios públicos e as notas não foram maiores que 7, em uma escala de 0 a 10. Em certos pontos a nota chegou a ser 0.

“Tem muitos lugares ruins. Eu já cai e tropecei perto do WalMart. Ralei e machuquei o pulso. Imagina se é uma senhora de idade?” - indagou a radialista Priscila Clair, 33 anos.

A radialista é a prova de que os tombos não são exclusividade de pessoas mais idosas, mas de todos que precisam transitar pelas calçadas da cidade.

Além de proporcionar um percurso adequado ao pedestre, a calçada bem conservada, que segue as orientações da prefeitura, deixa um aspecto mais bonito para a cidade. Mas, infelizemnte, pare que a maioria da população não dá importância a esse pedaço de concreto tão importante.

Penalidades - O proprietário do imóvel, seja comercial ou residencial, é responsável pela conservação e manutenção da calçada. A Semadur (Secretaria Municipal de Meio Ambiente e Desenvolvimento Urbano) fiscaliza e, se houver necessidade, notifica o proprietário para que seja feita a readequação.

Caso não sejam feitas as melhorias, o proprietário do imóvel pode ser multado e os valores variam de acordo com o caso. A falta da rampa de acesso pode gerar multa de até R$8.625.

Legislação - O decreto número 5.296, que regulamenta as leis 10.048 e 10.098, e "estabelece normas gerais e critérios básicos para a promoção da acessibilidade das pessoas portadoras de deficiência ou com mobilidade reduzida", entrou em vigor há sete anos.

Respostas: na Semadur, responsável pela fiscalização, a informação é que os responsáveis estavam em reunião durante todo dia.

Os locais onde as irregularidades foram apontadas também foram procurados. Na avenida Zarhan, o restaurante responsável pela calçada afirmou que o projeto que incluía o piso tátil foi aprovado pela Prefeitura.

O posto Trokar, na avenida Fernando Corrêa da Costa, afirmou que as obras no local devem ficar prontas em até 90 dias, o que deverá colocar fim as caçambas ao lado da calçada do posto.

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