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Capital

Crianças são encontradas vivendo em situação precária no Tarsila do Amaral

Ana Paula Carvalho | 16/09/2011 20:35
Essa é a situação da cozinha da casa onde as crianças viviam. (Fotos: Simão Nogueira)
Essa é a situação da cozinha da casa onde as crianças viviam. (Fotos: Simão Nogueira)
Na geladeira, apenas duas vasilhas com arroz e feijão, um pacote de arroz e algumas cebolas.
Na geladeira, apenas duas vasilhas com arroz e feijão, um pacote de arroz e algumas cebolas.

Duas crianças, uma de sete e outra de oito anos, foram encontradas no fim da tarde desta sexta-feira (16) por policiais militares do patrulhamento de moto do 9ª Batalhão vivendo em meio à comida estragada, lixo e abandono. Os policias faziam rondas pela região quando vizinhos denunciaram a situação caótica.

Quando chegaram, três crianças estavam na casa, mas um menino de 12 anos fugiu ao ver a aproximação. Uma das meninas é portadora de necessidades especiais. Ela relatou aos policiais que não comia desde o dia anterior. Os próprios policiais compraram bolachas e refrigerantes para as crianças enquanto representantes do Conselho Tutelar Norte não chegavam.

Na casa mora o pai Benedito Antônio da Silva, de 49 anos, Everton Benites Ansaldi, 19 anos, dois adolescentes de 15 e 14 anos e as três crianças de 12, oito e sete. Benedito trabalha como servente de pedreiro. Ele sai de casa às 06h e retorna ás 18h.

As duas meninas foram levadas pelo Conselho e serão encaminhadas a um abrigo.

Abandono - A pequena casa na rua Madre Cristina, no Tarsila do Amaral, tem dois quartos, banheiro e sala com cozinha juntas. A situação no local é de completo abandono. O choque vem assim que se coloca o pé na porta.

A cozinha é o primeiro cômodo. No fogão, restos de comida e até mesmo comida estragada. A louça parece estar abandonada há mais de mês.

Na geladeira, onde deveria ficar a comida da família, apenas duas vasilhas com arroz e feijão e um pacote de arroz sem cozinhar.

Ao Campo Grande News, o pai falou que estava sem gás, mas que “hoje pegou um vale com o patrão para comprar”. Quanto às crianças estarem sem comer, ele diz que elas comeram hoje sim. “Eu liguei e perguntei se elas haviam comido e elas disseram que sim”, afirma.

Em um dos quartos, domem as duas meninas mais novas e o pai em um colchão jogado no chão. “Antes tinha uma cama, mas quebrou”, Everton relata.

Em um canto da parede estão várias roupas amontoadas. São roupas sujas e limpas misturadas. Pela casa, vários pares de sapatos estão espalhados. Em outro quarto, sem luz, “porque a lâmpada queimou”, dormem os outros.

“Eu saio cedo e volto tarde. Não dá para criar as crianças sozinhas”, afirma Benedito.

Amanhã ele vai até o Conselho ver como ficará a situação das crianças. “Amanhã, antes das 08h eu estou lá. Vou ver se consigo trazer meus filhos de volta”, diz.

Presa - Rosimar de Oliveira Benites, de 48 anos, mãe das crianças, está presa há aproximadamente três anos por tráfico de drogas e formação de quadrilha. Vizinhos relatam que antes dela ser presa, as crianças eram bem cuidadas.

No banheiro, mais abandono.
No banheiro, mais abandono.
Crianças dormiam com o pai em colchão no chão.
Crianças dormiam com o pai em colchão no chão.

Sozinho - Everton é o irmão mais velho e não é filho do servente. Ele trabalha como auxiliar de eletricista durante o dia, à noite faz EJA e durante o fim de semana faz curso de eletricista.

Segundo a professora Maria da Glória Calado, vizinha da família, quando a mãe foi presa Everton, que na época tinha 16 anos, morava sozinho, ele voltou para casa para cuidar dos irmãos. “Ele é um menino bom. Trabalha registrado, mas é sozinho para cuidar dessa casa. É ele quem compra tudo. É um menino esforçado”, afirma.

“Eu tenho raiva é do pai que tinha que cuidar dessas crianças, porque esse menino ainda é novo, ele não pode ter toda a responsabilidade. Esses dias ele trocou as três portas da casa e queria comprar um sofá”, relata.

Para Everton, se for melhor que os irmãos sejam levados para um abrigo, que isso seja feito. “Se vai ser melhor eles saírem daqui, então fazer o que. Vou reunir os outros e vou lá ao Conselho”, reforça.

Quanto à alimentação, ele afirma que tinha um acordo com o padrasto de que cada um compraria R$ 200 por mês de alimentos da cesta básica, mas que apenas ele cumpre o combinado e que isso não dá para o mês todo.

“Eu não tenho como cuidar das crianças sozinho. Quando eu trabalhava meio período, chegava no almoço, dava comida e levava para a escola, mas agora eu estou trabalhando em período integral”, relata.

Na rua - De acordo com vizinhos, as crianças passam o dia ali pela região brincando. Algumas vezes “almoçam na casa da dona Glória”, outras vão para a igreja.

“Eles ficam aqui nessa região da casa, eles andam para lá e para cá, mas sempre por aqui e sempre volta”, afirma o vizinho Alcenir Debelazi.

Outro vizinho que não quis se identificar afirma que o pai deveria cuidar mais das crianças. Que ele não faz nada por elas, que não limpa a casa e que não tem controle sobre os filhos.

Segunda vez - Há aproximadamente um ano, os cinco irmão foram recolhidos pelo Conselho e encaminhados á um abrigo. Para ter os filhos de volta, Benedito “deu um jeito na casa” e comprou mantimentos.

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