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De ex-bancária a herdeiros do ponto: histórias que mantêm o táxi vivo na Capital

Frota caiu 10% em cinco anos, mas motoristas focam na fidelização para concorrer com aplicativos

Por Geniffer Valeriano | 02/11/2025 08:35
De ex-bancária a herdeiros do ponto: histórias que mantêm o táxi vivo na Capital
Taxistas conversando enquanto aguardam chegada de passageiros (Foto: Osmar Veiga)

o serviço personalizado tem mantido os taxistas de Campo Grande em movimento, mesmo com a popularização dos aplicativos de corrida. Em cinco anos, a frota caiu 10%, passando de 579 para 521 táxis regulares, segundo a Agetran (Agência Municipal de Transporte e Trânsito).

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Em Campo Grande, taxistas resistem à concorrência dos aplicativos de transporte apostando em atendimento personalizado e fidelização de clientes. Em cinco anos, a frota diminuiu 10%, passando de 579 para 521 táxis regulares, segundo a Agetran. Os profissionais mantêm 70 pontos pela cidade e oferecem serviços diferenciados, como auxílio com compras e recuperação de objetos esquecidos. Desde setembro, as tarifas foram reajustadas em 15%, com o quilômetro rodado na bandeira 1 passando para R$ 3,86 e na bandeira 2 para R$ 4,41.

Sozinhos em 70 pontos espalhados pela cidade, já que apenas uma cooperativa segue em funcionamento, os motoristas apostam na fidelização e no atendimento próximo, que vai desde o cuidado com objetos esquecidos até serviços sob demanda, para não perder o espaço que ocupam há décadas no transporte urbano.

Entre os motoristas, as histórias de ingresso na profissão variam: alguns buscaram uma nova vocação, outros encontraram no táxi uma forma de se manter no mercado de trabalho ou herdaram o ponto da família. Nesta quinta-feira (30), o Campo Grande News esteve em dois pontos de táxi para ouvir esses trabalhadores e entender o que ainda mantém a categoria firme e o que esperam para o futuro.

De ex-bancária a herdeiros do ponto: histórias que mantêm o táxi vivo na Capital
Naná ligando taxímetro para iniciar corrida (Foto: Osmar Veiga)

Há 26 anos atuando atrás do volante, Nair Espindola, mais conhecida como Naná diz ter apenas trocado de banco. “Trabalhei durante anos como bancária e depois saí e não tinha outra profissão para seguir. Fui gastando a minha rescisão e, um dia, andando com meu filho, ele viu um táxi dirigido por uma mulher e perguntou por que eu não trabalhava com isso. Foi quando me interessei, fui atrás e fiz o curso.”

Naná conta que não chegou a viver o auge da categoria, mas acompanhou muitas mudanças ao longo dos anos, entre elas a redução do número de corridas. “Os mais antigos dizem que tinha dias em que eles não paravam no ponto. Eu já não peguei essa época.”

A queda na clientela é sentida até hoje, 11 anos após a chegada dos aplicativos de corrida em Campo Grande. Segundo a Coopertaxi, o número de viagens por dia caiu de 4 mil, em 2016, para 1,5 mil em 2025. Para Naná, o diferencial dos taxistas está no atendimento personalizado.

“Eles sempre confiaram no táxi, porque somos fiscalizados, temos curso, tudo certinho. Tem muita gente que ainda prefere a gente porque se sente mais segura e também porque temos um serviço mais personalizado, ajudamos a empurrar carrinhos no supermercado, coisa que motorista de aplicativo não faz.”

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Marilza iniciou no táxi após herdar ponto do esposo (Foto: Osmar Veiga)

Marilza Andressa da Silva, de 57 anos, também entrou na profissão em outro momento: durante a pandemia de covid-19. “Eu entrei há quatro anos, depois que meu esposo faleceu. Ele era taxista e eu, costureira, herdei o ponto dele”, conta.

Mesmo com pouco tempo na profissão, diz que já reconhece o passageiro fiel ao táxi só de olhar. “Quem gosta de táxi não anda de aplicativo, por isso que o táxi não acabou. Aqui no aeroporto mesmo, você vê nitidamente quando as pessoas chegam e vão direto no táxi. Não chamam o aplicativo, porque o táxi é mais seguro.”

Outra vantagem, argumenta, é a facilidade em recuperar objetos esquecidos. “Se você largar uma bolsa, seu celular dentro do táxi, você encontra. Já no aplicativo, muitos dos meus amigos perderam o celular, perderam tudo, porque não encontram mais.”

Com otimismo, Marilza acredita que o setor vai se recuperar.

Eu tenho certeza que o cenário do taxista vai melhorar no futuro. O táxi existe desde o começo do mundo, não tem como ser extinto. Eu tenho clientes que chegam aqui e me ligam para eu levar. Muitos dizem preferir o táxi porque o carro é mais limpo e mais novo.”

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Iairis espera equiparação entre motoristas de aplicativo e taxistas (Foto: Osmar Veiga)

Há 10 anos no volante, Iairis Gonçalves de Oliveira, de 63 anos, encontrou na profissão uma forma de continuar ativo no mercado. Ele observa que hoje a disputa entre táxis e aplicativos está equilibrada. “Hoje o serviço do táxi e do aplicativo cumprem funções semelhantes. Tenho clientes que me procuram até para buscar remédios na farmácia, eles enviam a receita e eu busco e entrego. Hoje atendemos a todas as necessidades deles.”

Para ele, a fidelidade de alguns passageiros se mantém principalmente nas viagens programadas entre cidades. “Temos clientes que já estão com a gente há mais de 10 anos. Esses a gente sabe que não irão sair.”

O taxista também ressalta que o público é variado. “Tem muitos jovens que não se adaptaram ao aplicativo, outros que prezam mais pelo serviço do que pelo valor e continuam com a gente. Eles reclamam bastante que os motoristas de aplicativo demoram ou cancelam as corridas”, afirma.

Iairis defende a regulamentação dos aplicativos para garantir uma concorrência mais justa. “Se eles forem regularizados, regularem as taxas de aplicativo, fizerem um serviço de acordo com o que é ordenado, nós teremos um preço melhor, mais equilibrado entre os dois.”

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Ponto de táxi sem motoristas na Avenida Afonso Pena (Foto: Osmar Veiga)

Menos motoristas –  A redução na frota de táxis é acompanhada de perto pelo presidente do Sindtaxi (Sindicato dos Taxistas de Campo Grande), Flávio Panissa. “O município não tem um olhar para a categoria. Mais de 100 permissões foram devolvidas, eles recolheram e não fizeram nada, não devolvem para a sociedade, não fazem outro processo seletivo, nada”, critica.

Segundo ele, a última renovação ocorreu apenas por meio de transferências de alvarás, prática que deixou de ser permitida em março deste ano. Desde 2018, novas permissões não são licitadas.

A reportagem procurou a Prefeitura de Campo Grande para questionar o motivo da ausência de novas licitações, mas até o momento não houve resposta da Agereg (Agência Municipal de Regulação dos Serviços Públicos).

Nova dinâmica – Enquanto isso, a rotina dos taxistas segue diferente. “Antes, o tempo todo tinha motoristas, saía um e chegava outro, e isso não acontece mais. Mas o ponto vazio não quer dizer que não tem táxi”, explica Panissa.

Ele afirma que a categoria se adaptou. “A categoria está se reinventando, nosso serviço ficou melhor. O taxista aprendeu que ele tem que vender o serviço dele. Antigamente ele ficava aguardando e os passageiros vinham, e hoje não, hoje ele tem que vender o serviço.”

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Motoristas fechando a porta do carro para passageira (Foto: Osmar Veiga)

Entre os passageiros, a reportagem encontrou dois perfis distintos. Zita Ferreira, de 81 anos, aposentada e moradora próxima ao Perpétuo Socorro, usa o táxi apenas em situações específicas. “Eu uso táxi quando vou ao mercado, mas é raro, porque não saio mais tanto assim. Peço porque faço compras e fica pesado, então sou obrigada a pedir táxi. Eu não sei chamar Uber, minha irmã usa todo dia, mas eu não sei chamar”, contou.

Já Isadora Gomes, de 21 anos, pegou um táxi do Centro ao bairro Tiradentes por R$ 25, com R$ 5 de desconto. “Eu sempre ando de aplicativo, para vir paguei R$ 20. Não costumo andar de táxi porque acho muito caro, mas hoje acabou a bateria do meu celular e precisei recorrer a ele”, explicou.

As tarifas dos táxis foram reajustadas em 15% desde setembro, conforme portaria da Agereg publicada no Diogrande (Diário Oficial do Município). O quilômetro rodado na bandeira 1 passou de R$ 3,36 para R$ 3,86 e na bandeira 2, de R$ 3,83 para R$ 4,41.

O adicional por bagagem acima de 70 cm x 40 cm x 20 cm subiu de R$ 0,40 para R$ 0,46 e a hora parada foi reajustada de R$ 27,90 para R$ 30,91. A bandeirada do táxi comum passou de R$ 4,50 para R$ 5,00, enquanto a do táxi de aeroporto aumentou de R$ 8,56 para R$ 9,00.

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