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Capital

Defensoria pode ir à Justiça contra enchente e morador cria kit enxurrada

Alagamentos ocorrem há quase três décadas no Bairro Coophatrabalho

Ricardo Campos Jr. | 20/02/2015 15:06
Bocas de lobo não são suficientes para escoar água (Foto: Alcides Neto)
Bocas de lobo não são suficientes para escoar água (Foto: Alcides Neto)
Maria do Carmo mostra seu "kit enxurrada" (Foto: Alcides Neto)
Maria do Carmo mostra seu "kit enxurrada" (Foto: Alcides Neto)

Moradores das ruas Aldagro e Tipuana, no Bairro Coophatrabalho, sofrem com alagamentos em função do sistema de drenagem insuficiente para escoar a água de grandes volumes de chuva. O caso foi denunciado na Defensoria Pública Estadual, que desde quinta-feira (20) investiga a situação e avalia possibilidade de ajuizar ação civil pública contra a prefeitura. Quem vive no local afirma que a situação ocorre há 30 anos e nada foi feito, mesmo diante de reclamações aos órgãos públicos e, até que haja uma solução definitiva, improviso tenta reduzir os prejuízos da enchente.

A aposentada Maria do Carmo Marques de Lima, 65 anos, guarda uma sacola com o que ela chama de “kit enxurrada”: uma capa de chuva, uma garrafa pet para tampar um cano que facilita a entrada da água na varanda, um cabo para amarrar e manter a grade da boca de lobo erguida para aumentar a vazão, e um gancho de metal para abrir um bueiro.

“Os procedimentos têm que ser feitos antes da água chegar aqui. Se ela tiver para onde ir, escoa rápido. Quando estou em casa, fico de guardiã, as vezes, os vizinhos nem vêem o que eu faço. Pelo fluxo da água que cai em meu telhado eu já sei que vai inundar”, relatou.

Segundo ela, a chuva passa, mas os problemas, não. “O que mais me entristece é a sujeira que fica na rua depois da chuva. Barro, folhas de árvore e lixo. Outro dia fizemos um mutirão para lavar a rua, senão nossa casa não para limpa. É horrível. Há muitos anos nós passamos por isso”, conta.

Quando o tempo nublado anuncia temporal e Maria do Carmo está fora de casa, logo se preocupa, pois não vai estar no local para colocar seu kit em ação. “Têm algumas bocas de lobo que estão lacradas pelo barro e pela sujeira. Você olha e não sabe nem onde elas estão”, afirma.

Maria Elza mostra a altura que a água atinge durante a chuva (Foto: Alcides Neto)
Maria Elza mostra a altura que a água atinge durante a chuva (Foto: Alcides Neto)

Vizinhos dela reforçam muros e portões para não terem as estruturas levadas. “Não tem correnteza, mas a pressão da água acumulada derruba”, relata. Isso porque a casa dela fica acima do nível da rua e tem até escada para entrar, diferente da residência de Maria Elza Vera, 54 anos, que fica abaixo do asfalto e vira uma piscina logo que a enxurrada invade o imóvel.

“Não pode nem deixar carro na rua porque a água leva. Eu já perdi geladeira, sofá e não posso mexer o raque do lugar porque senão ele cai, desmancha, porque estufou ao ser molhado. A pressão da água rachou o vidro da porta dos fundos, já derrubou meu muro. Eu tive que reforçá-lo, mas já está formando uma nova cratera”, relata.

Como os problemas são constantes, ela sequer compra móveis novos, pois sabe que vai perdê-los logo na primeira tempestade. “É uma constante preocupação. Não se dorme bem, não tem sossego”, exclama.

Responsabilidade – Portaria da Defensoria Pública tornou público o procedimento investigativo afirma que o caso veio à tona a partir de denúncia de um morador ao órgão. Pela informação repassada, a água vem do bairro Sírio Libanês, que está sendo asfaltado. Os moradores afirmam que a água desce a partir da Avenida Presidente Vargas.

“Um morador da região compareceu recentemente na Defensoria Pública, na unidade da Antônio Maria Coelho, e relatou esse fato. Diante dessa situação, é um problema que não atinge apenas a ele isoladamente, mas também a toda a coletividade, foi vislumbrada a possibilidade de se instaurar uma ação civil pública”, explica o defensor Fábio Rogério Rombi da Silva, coordenador do NAE (Núcleo de Ações Institucionais e Estratégicas).

O primeiro passo, segundo ele, é checar na prefeitura se o órgão já sabe a respeito da existência do problema e se tem alguma ação prevista para resolvê-lo. Na sequência, o defensor responsável pelo caso irá até o local e conversará pessoalmente com os moradores, irá tirar fotos e recolher informações para sustentar o processo, caso seja protocolado.

“Ao final, caso não haja uma solução e verifique que a prefeitura não tem um projeto ou intenção de resolver o problema, aí sim será o caso de uma ação”, conclui.

Conforme a assessoria da prefeitura, não há previsão de melhorias para a região citada. A prioridade na região tem sido as obras na região do Sírio Libanês, que fica próximo ao Coophatrabalho, que está recebendo asfalto e infraestrutura.

Fábio explica como funciona o processo investigativo, que pode culminar em ação civil (Foto: Marcos Ermínio)
Fábio explica como funciona o processo investigativo, que pode culminar em ação civil (Foto: Marcos Ermínio)
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