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Capital

Gaeco pede preventiva de PF, guardas e policiais civis alvos da Omertà

Investigação cita contrabando de armas, vídeo com agressão e explicação “risível”

Aline dos Santos e Marta Ferreira | 13/10/2019 10:20
Promotoria pediu prisões preventivas de Elvis, Eronaldo, Euzébio, Everaldo (primeira linha); além de Frederico, Igor, Rafael e Luís Fernando.
Promotoria pediu prisões preventivas de Elvis, Eronaldo, Euzébio, Everaldo (primeira linha); além de Frederico, Igor, Rafael e Luís Fernando.

O Gaeco (Grupo de Atuação Especial e Combate ao Crime Organizado) pediu a conversão da prisão temporária em preventiva de oito alvos da operação Omertà, realizada em 27 de setembro contra organização criminosa atuante em grupo de extermínio e milícia armada. A lista dos pedidos de prisão preventiva inclui policiais civis, policial federal e guardas municipais.

As solicitações foram anexadas ontem à tarde ao processo, um sábado e feriado nacional da Padroeira do Brasil. O juiz da 7ª Vara Criminal de Competência Especial de Campo Grande, Marcelo Ivo de Oliveira, ainda não se manifestou sobre os pedidos.

No documento, o Gaeco pede a prisão preventiva de Elvis Elir Camargo Lima (policial civil), Eronaldo Vieira da Silva (guarda municipal), Euzébio de Jesus Araújo (segurança), Everaldo Monteiro de Assis (policial federal), Frederico Maldonado Arruda (policial civil), Igor Cunha de Souza (guarda municipal), Luís Fernando da Fonseca e Rafael do Carmo Peixoto (guarda municipal). Dos oito, Luís Fernando seria do núcleo da gerência, enquanto os demais eram do staff de apoio da organização criminosa investigada.

Para que os dois policiais civis fiquem atrás das grades por tempo indeterminado, pois a prisão temporária que os mantêm preso tem validade de 30 dias, a operação aponta que Elvis Lima e Frederico Arruda são traficantes de armas, trazendo armamento e munições da fronteira para Campo Grande. Os dois trabalharam juntos por três anos em Ponta Porã e, frequentemente, vinham para a Capital com viatura, mencionada como la barca em interceptação telefônica.

Em 2012, Elvis foi preso pelo Gaeco por posse ou porte ilegal de arma de fogo de uso restrito. O policial preferia fazer ligações com o aplicativo WhatsApp, medida para evitar interceptação, e se desfez do celular no dia da operação Omertà.

Risível - No meio do arsenal de guerra apreendido em 19 de maio com o então guarda municipal Marcelo Rios, fio condutor das investigações, havia um pen drive com dossiê sobre produtor rural que tem negócios nos municípios de Bonito, Jardim e Maracaju. A pesquisa foi feita com o login de Everaldo Assis. O material também teve uma versão impressa apreendida.

O policial federal foi preso no dia 27 de setembro e o Gaeco adjetivou de risível e pueril as explicações sobre o pen drive. Ele relatou que o dispositivo foi furtado do seu veículo. No entanto, não fez registro de Boletim de Ocorrência e só comunicou a Polícia Federal após divulgação do seu nome na imprensa. Everaldo afirmou ter relação de empatia com a família Name, traduzida como amizade pelo Gaeco. O policial disse que frequentou algumas vezes à residência da família.

Os empresários Jamil Name, 80 anos, e Jamil Name Filho foram presos e apontados como líderes da organização criminosa. Ontem, pai e filho foram transferidos do Centro de Triagem para a penitenciária federal de Campo Grande. A proximidade com a família foi durante a eleição em 2018, em razão de ser um dos responsáveis pela segurança do então candidato Odilon de Oliveira, juiz federal aposentado. A defesa do policial é feita pelo escritório de Odilon.

O policial disse que fez a pesquisa sobre o produtor rural “com base nas palavras de um pretenso colaborador na área de repressão ao tráfico”. Everaldo está lotado na Nodrex (Núcleo de Operações de Diretoria Executiva). Por esse motivo, não teria atribuição para fazer levantamentos para eventuais inquéritos policiais federais sob responsabilidade da DRE (Delegacia de Repressão ao Entorpecente).

Fotografias de executado - Euzébio de Jesus Araújo é citado como um dos mais antigos seguranças de Name, sendo conhecido por terceiros como ponto de contato com Jamil Name. No mês de setembro, recebeu uma ligação da gerente do banco questionando sobre movimentação atípica em sua conta, R$ 69 mil, com transferências picadinhas. Ele explicou que o valor era relativo à venda de cavalos.

Segundo o Gaeco, Euzébio tem baixo padrão de vida (proprietário de uma Honda Biz, veículo de pequeno valor), “revelando sua incapacidade financeira para a movimentação”. Postado na ala de gerência da organização criminosa, Luís Fernando da Fonseca tinha no email imagens de Ilson Martins Figueiredo, chefe de segurança na Assembleia Legislativa. As fotografias mostram a vítima ensanguentada, dentro do carro, além de imagens externas do veículo.

Ilson foi morto em 11 de junho de 2018, uma segunda-feira, na movimentada Avenida Guaicurus, em Campo Grande. A mesmas imagens estavam no email de Juanil Miranda Lima, do núcleo dos pistoleiros.

Agressão - O guarda Eronaldo Vieira da Silva confirmou o uso da arma funcional no trabalho na casa de Jamil Name. Conforme o Gaeco, ele integra o GPI (Grupo de Pronta Intervenção) da Guarda Municipal, que recebe curso do Exército para manuseio de armas longas como fuzis. Ele e os guardas Igor e Rafael informaram que prestavam serviços gerais no imóvel de Name, com pagamento de R$ 625 por semana.

Num dos arquivos encontrados no celular de Marcelo Rios, enquanto ele agredia um homem idoso, “de maneira covarde e cruel”, conforme narra a promotoria, Igor Cunha fazia a filmagem. Ainda de acordo com a investigação, Igor participa de grupo no Facebook sobre veículo "bob", com problemas de documento, em geral, por ser proveniente de roubo, furto, estelionato e apropriação indébita.

“Neste ponto em particular, cumpre frisar que a organização criminosa formada pelos investigados se vale de carros com essas características durante a execução dos homicídios praticados pelo grupo, os quais são posteriormente queimados em regiões ermas desta Capital”.

O pedido de prisão preventiva é assinado pela coordenadora do Gaeco, Cristiane Mourão Leal Santos, e os promotores Tiago Di Giulio Freire, Gerson Eduardo de Araújo, Marcos Roberto Dietz e Thalys Franklyn de Souza.

A operação foi realizada pelo Gaeco, força-tarefa da Polícia Civil que investiga execuções na Capital, Garras (Delegacia Especializada de Repressão a Roubo a Banco, Assalto e Sequestros), Batalhão de Choque e Bope. Omertà é um código de honra da máfia italiana, que faz voto de silêncio.

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