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Capital

Guerreira e sozinha, ela divide a vida entre o trabalho, a casa e os 3 filhos

Aliny Mary Dias | 08/03/2014 08:00
Enilce é exemplo de garra e força de vontade para criar os filhos e ainda trabalhar para fora (Foto: Cleber Gellio)
Enilce é exemplo de garra e força de vontade para criar os filhos e ainda trabalhar para fora (Foto: Cleber Gellio)

Mulheres que criam os filhos sozinhas, tomam conta da casa e ainda trabalham para sustentar a família. Esse é um perfil que vem se tornando cada vez mais frequente e é considerado um padrão entre as mulheres do século 21. Em Mato Grosso do Sul, segundo o último levantamento do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), 559 mil mulheres têm uma ocupação formal com rendimento médio de R$ 1,2 mil.

Poderia ser a história de uma vizinha, uma mulher da família, a sua ou da sua mãe, mas as personagens que contaram um pouco do que viveram e vivem até hoje em jornadas duplas e até triplas são Enilce e Maria Gilda.

A encarregada de serviços gerais Enilce Tavares Fernandes tem 34 anos e três filhos de 3, 6 e 12 anos. Ela sempre trabalhou como doméstica em casa de família e nem o nascimento das crianças, uma delas prematura e com dificuldades na alimentação, tirou Enilce do trabalho fora de casa.

“Eu sempre batalhei muito e nunca foi fácil, a única época que fiquei em casa foi quando minha filha mais velha nasceu, depois que ele completou 1 ano e 4 meses eu voltei para o trabalho e sempre criei eles com dificuldade”, lembra Enilce.

Nessa época, Enilce era casada e o apoio para buscar o sustento fora de casa era do sogro e da sogra que cuidavam das crianças. O pai do marido, inclusive, mudou-se de São Paulo para Campo Grande para ajudar no cuidado dos pequenos.

“Meu filho mais novo nasceu prematuro, ele tinha problemas para mamar e meu sogro acabou vindo para Campo Grande para ajudar a gente”, lembra a mãe. Se a vida nunca foi fácil levando a rotina de mãe, dona de casa e doméstica, quando Enilce se separou, novos desafios bateram à porta.

“Há 1 ano, eu me divorciei e continuei cuidando dos meus filhos e trabalhando. Eu saio de casa no primeiro ônibus, às 4h45 e só volto 17 horas. Deixo meus filhos na creche e na escola e quando chego em casa meu descanso é no tanque, na pia e fazendo a janta para deixar para o almoço”, desabafa a mulher, conhecida por muitos como guerreira.

Apesar de todas as dificuldades, Enilce mudou de emprego e ganhou uma promoção. Hoje ela é encarregada na empresa de serviços gerais e se desdobra para sustentar os filhos, dar uma educação digna e deixar a casa em ordem.

“Tem que ter muita força de vontade e saber que problemas todo mundo têm, mas a gente tem que trabalhar com saúde e honestidade para ir longe. Afinal, Deus ajuda a quem cedo madruga”, diz ela, que repete quantas vezes for preciso que veio ao mundo para aprender e, por isso, os obstáculos acontecem por algum motivo.

Ela criou três filhos e sempre trabalhou como doméstica em casa de família (Foto: Cleber Gellio)
Ela criou três filhos e sempre trabalhou como doméstica em casa de família (Foto: Cleber Gellio)

Sozinha - Outra que passou por muitas dificuldades e ainda cuidou do casal de filhos sozinha quando se separou do marido, há 22 anos é a técnica em contabilidade Maria Gilda dos Anjos, 48.

Assim como muitas outras mulheres, Gilda, como é conhecida por todos, batalhou e conseguiu ver os filhos que hoje têm 22 e 24 anos se tornarem profissionais competentes. “Quando eu me separei meu filho mais velho tinha 2 anos e 2 meses, a partir daí eu sempre trabalhei e passava pelas dificuldades de quem trabalha para fora e ainda precisa cuidar da casa”, conta.

Outro obstáculo que Gilda teve que superar foi a falta de apoio financeiro do ex-marido. O pai das crianças nunca pagou pensão e o esforço da mãe precisou ser redobrado. “Eu deixava os meninos na creche e trabalhava o dia todo, foi uma batalha, mas sempre tive o apoio da família”, lembra Gilda.

Hoje Gilda trabalha no setor de contabilidade do Hospital Nosso Lar e além de ser o exemplo para os filhos, foi responsável por encaminhar a profissão do casal quando eles completaram 16 anos. O primeiro trabalho dos adolescentes foi como recepcionista do hospital.

Com os filhos formados e considerada por amigos com uma vencedora, Gilda resume o segredo para levar a jornada tripla. “Tem que ter Deus na frente e força, com isso conseguimos vencer tudo”, completa a técnica de contabilidade.

Números – De acordo com a última Síntese de Indicadores Sociais e Análise das Condições de Vida divulgada no ano passado pelo IBGE, 59,9% das mulheres com mais de 16 anos que vivem em Mato Grosso do Sul trabalham em regime formal ou informal.

Para comparação, entre os homens, são 63,5% atuando profissionalmente. Apesar de trabalhar m funções semelhantes, o rendimento das mulheres é menor, já que os homens ganham em média R$ 1,856 mil enquanto as mulheres não passam dos R$ 1,255 mil.

Quando o assunto é trabalho informal, o salário das mulheres é R$ 840 contra R$ 1,3 mil dos homens.

Outros números que chamam a atenção são em relação ao tempo dedicado ao trabalho formal e ao doméstico. Entre as mulheres, a ocupação principal que traz o salário todo o mês precisa de 36,8 horas por semana de dedicação. Os afazeres domésticos consomem 19,8 horas semanais para elas.

Para homens, o trabalho em casa não passa das 9,6 horas semanais enquanto a ocupação formal consome 44,1 horas por semana.

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