Na favela, Natal tem solidão, improviso e ceia feita só com doações
Diversos produtos, entre eles, alimentos e brinquedos, foram doados por voluntários para moradores da Favela do Linhão, em Campo Grande
No barraco improvisado, no meio da favela, tudo estava pronto. Os produtos adquiridos por meio de doações carinhosamente preparados, a espera dos filhos e do companheiro. Esse era o Natal dos sonhos para a dona Maria Eleodora de Lima, de 62 anos. E tinha tudo para ter sido exatamente assim, exceto por um único motivo: ninguém apareceu.
Moradora da "Favela do Linhão", na região sul de Campo Grande, a idosa acabou tendo apenas uma companhia nesse 25 de dezembro, a da garrafa barata de conhaque. "Estou triste, mas bem! Acabei nem comendo o que eu tinha feito e passei o Natal tomando meu conhaque", revelou a idosa.
Apesar disso, a satisfação da moradora em ter sido ajudada por voluntários, era visível. "Ganhei até panetone e o pessoal também me ajudou com alimentos, isso já vale. Tendo saúde, eu me viro", afirmou ela.
A solidariedade também garantiu uma ceia recheada para outros moradores do local. Na casa simples onde a diarista Ida Freitas, de 36 anos, mora com o marido e os cinco filhos, todos com idade entre 8 e 19 anos, doações garantiram não só a ceia, mas um almoço natalino animado e cheio de esperanças para a família, nesta segunda-feira. "Tudo o que conseguimos para nossa ceia foi fruto de doações", revelou ela.
"Mesmo com a crise, muitas pessoas ajudaram e conseguimos ganhar brinquedos, comida e, em especial, carne e refrigerante", contou a diarista toda alegre, enquanto aguardava a carne assando ficar pronta.
Mas não foram os presentes que mais alegraram a família. Para eles, mais importante do que ganhar um produto, é poder compartilhar com quem se ama. "Moro em uma casa muito simples, humilde, mas só de ter minha família reunida, isso sim é importante. Tem gente que mora em uma mansão e não tem o principal, que é o amor".
No meio da rua, quem também estava feliz era a pequena Ketlen, de 9 anos, que mesmo não tendo tido um Natal com mesa cheia, brincava alegre ao lado do irmão, com o relógio ganhou por meio de doação. "Na minha casa não teve ceia e nem peru. Comemoramos com uma marmita e um refrigerante de latinha", disse a menina não parecendo se importar com o Natal diferente, feliz por ganhar o brinquedo novo.
Para o promotor de vendas, Thiago Pereira Panid, 24 anos, que mora em uma casa simples com a esposa e os dois filhos, as doações também foram bem vindas. "Eu trabalho para ganhar mil reais por mês e, a gente gasta muito com fraldas, roupas e comida, por isso, acabou não dando para comprar nenhum presente. A sorte é que recebemos doações", agradeceu ele.
Empenhado em melhorar de vida e dar mais qualidade para os filhos, o jovem revelou ainda um de seus sonhos, poder estudar e conseguir formação em um curso de cabeleireiro, para poder juntar dinheiro e comprar uma casa melhor para viver com a família. "Eu quero muito fazer esse curso e poder ter minha casinha, mas infelizmente é muito caro, R$ 1,2 mil, e eu não tenho condições", concluiu Thiago, revelando os desejos já para o próximo ano.
Quem também fez questão de dizer o que espera do futuro, foi a pequena Ketlen. Com apenas 9 anos, as palavras finais ganha, destaque pelo discuso de gente grande. ""O que eu posso desejar para as pessoas é muita saúde e muito amor. E quando eu crescer, também vou distribuir presentes para os pobres", finalizou.