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Capital

Na UPA líder em fluxo, quem iniciou na limpeza agora cursa enfermagem

Em média 1 mil pessoas passam diariamente pela unidade “Doutor Walfrido Azambuja de Arruda”, no Coronel Antonino

Maressa Mendonça | 26/08/2019 08:00
Na UPA líder em fluxo, quem iniciou na limpeza agora cursa enfermagem
Josilene e Ana Paula decidiram fazer curso técnico em enfermagem após trabalho na UPA (Foto: Henrique Kawaminami)
Josilene e Ana Paula decidiram fazer curso técnico em enfermagem após trabalho na UPA (Foto: Henrique Kawaminami)

Localizada na Rua Doutor Meireles, no Coronel Antonino, a UPA “Doutor Walfrido Azambuja de Arruda” é a maior da cidade quando o assunto é demanda. Segundo os próprios funcionários, mais de 1 mil pessoas devem passar diariamente pela unidade que fica com as portas abertas 24 horas por dia, atraindo pacientes de ao menos dez bairros da cidade, sem contar os da área rural como Rochedinho.

Com tanta gente circulando por aqueles corredores fica difícil acreditar que algum paciente não tenha sido “marcado” por alguma experiência positiva ou negativa na unidade, mas isto acontece, sim e não é tão raro.

Orleida Honória vende pipoca na frente da UPA (Foto: Paulo Francis)
Orleida Honória vende pipoca na frente da UPA (Foto: Paulo Francis)

A “tia da pipoca” Orleida Honória, de 50 anos, é uma destas pessoas. Ela foi na UPA pela primeira vez quando o pai precisou de atendimento, depois foi a vez da mãe. Nesse período ela percebeu a dificuldade dos acompanhantes dos pacientes em comprar um lanche acessível e assim ela começou a vender café e rosquinha ali nas proximidades. Hoje, o produto comercializado é a pipoca.

“Conheço todos os funcionários. Todos comem pipoca comigo. Já acostumaram e tem gente até que paga depois”, brinca Orleida que trabalha há dois anos na frente da UPA. E nestes mais de 700 dias ela diz ter visto muita coisa. “Vi gente ser atendido, sair dali, desmaiar e morrer. Vi a crise dos médicos, paciente quebrando lixeira, agredindo verbalmente os funcionários, mas muita coisa boa também. Eles pegando bêbados da rua, dando banho, cortando o cabelo”.

Dentro da UPA quem também acompanhou muitos casos foram as responsáveis pela limpeza, Josilene Fonseca e Ana Paula Bispo, ambas de 33 anos. Elas atuam naquela unidade há pouco mais de um ano e estranharam quando chegaram lá, especialmente quando tiveram de limpar o necrotério. “De dia é mais tranquilo, mas à noite dá uma assustadinha”, conta Josilene sobre os casos mais marcantes que acompanhou. Gente ferida e até morte de crianças.

Mas o período de susto passou rápido para as duas amigas e de tanto acompanharem a rotina do posto, elas decidiram fazer um curso técnico em enfermagem. “A gente vê o tanto que eles dão o sangue é o contrário do que falam aí fora. Já vimos gente chorando aqui quando não consegue ajudar alguém”, comenta Josilene. “Começa a criar amor pelo ser humano, pela vida”, completa Ana Paula.

A enfermeira Cleide Rodrigues de Melo atua na UPA desde 2013 (Foto: Henrique Kawaminami)
A enfermeira Cleide Rodrigues de Melo atua na UPA desde 2013 (Foto: Henrique Kawaminami)

Das antigas - A enfermeira Cleide Rodrigues de Melo, de 56 anos, trabalha na UPA do Coronel Antonino desde 2013, uma das funcionárias mais antigas a considerar o tempo de inauguração da unidade, em 2007.

Formada em contabilidade em 1985, ela mudou de carreira depois de cuidar do pai diagnosticado com câncer e se declara “apaixonada pela profissão” que escolheu há 16 anos.

Naquela unidade, onde passa boa parte do dia, ela já viveu muitas histórias e lembrou da mais marcante para compartilhar com a reportagem do Campo Grande News. “Há uns quatro anos chegou uma mãe com uma criança já em óbito aqui. Tinha vindo no Nova Bahia, mas lá não tinha pediatra. Fizemos todos os procedimentos de reanimação, mas e para dar a notícia? Eu chorei, abracei ela e depois de uns anos encontrei ela aqui. Está fazendo enfermagem. Ela me disse que as minhas palavras tinham motivado ela. Foi um momento bem marcante”.

Ela cita também pacientes que chegaram brigando e presos sob custódia que ao serem internados pedem para receberem visitas. “A gente explica que não pode. É a lei”.

Outra explicação que eles precisam dar com frequência é a atribuição da UPA, conforme orienta o médico Iagor Carolino de Souza, com um total de 1 ano e 8 meses de atuação no Coronel Antonino entre um plantão e outro. Em resumo, a unidade deve tratar problemas pontuais ligados à patologias que apresentam risco de vida ao paciente.Por esse motivo no prontuário dos pacientes de UPA não há um histórico. Esse acompanhamento, em geral, deve ser feito em Unidades Básicas de Saúde da Família.

Mas segundo o médico é comum casos de pacientes que vão até a UPA com frequência. Os enfermeiros citam até alguns nomes, mas durante o tempo em que a reportagem esteve ali nenhum destes pacientes apareceu. “Geralmente são idosos . Falam que estão com coceira, com dor e talvez não vai adiantar você falar com eles porque talvez nem eles saibam porque estão vindo todo dia”, comentaram.

A unidade funciona 24 horas por dia (Foto: Henrique Kawaminami)
A unidade funciona 24 horas por dia (Foto: Henrique Kawaminami)
A UPA Coronel Antonino é a com maior demanda (Foto: Paulo Francis)
A UPA Coronel Antonino é a com maior demanda (Foto: Paulo Francis)

A Unidade de Pronto Atendimento “Dr. Walfrido Azambuja de Arruda” foi inaugurada em 2007 e tem uma área total construída de 2.486,56 metros quadrados. A maioria dos pacientes vem dos seguintes bairros: Autonomista, Carandá, Coronel Antonino, Estrela Dalva, Margarida, Mata do Jacinto, Mata do Segredo, Monte Castelo, Santa Fé e Veraneio.

Dados do Datasus (Departamento de Informática do SUS), apontam que a unidade conta com 10 consultórios médicos, um de odontologia, duas salas de acolhimento e classificação de risco, outras três de estabilização, uma de repouso feminino com 12 leitos, masculino e pediátrico com seis leitos cada.

 

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