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Capital

Por R$ 59, qualquer carro pode virar viatura descaracterizada da polícia

Delegado estava em viatura descaracterizada e atirou em carro depois de condutora não respeitar abordagem

Dayene Paz | 18/02/2022 11:47
Giroflex vendido na internet pode custar a partir de R$ 59,90. (Foto: Reprodução)
Giroflex vendido na internet pode custar a partir de R$ 59,90. (Foto: Reprodução)

A perseguição no trânsito que terminou em tiros disparados pelo delegado-geral da PCMS (Polícia Civil de Mato Grosso do Sul), Adriano Garcia, na Avenida Mato Grosso, envolveu uma viatura descaracterizada da polícia. O único item que o identificou como policial naquele momento foi um giroflex. Porém, o equipamento pode ser comprado facilmente na internet, o que pode explicar a desconfiança da condutora em parar.

Em sua versão, o delegado afirma que foi "fechado" pela motorista de um Renaul Kwid. Mesmo com ordem para que parasse, ela teria feito manobras perigosas e tentou o atropelar. Ele afirma ter se identificado como policial através de sinais luminosos e sonoros do carro que conduzia e como a mulher não parou, atirou nos pneus.

Já a motorista do Kwid, artesã de 24 anos, alegou que começou a ser perseguida depois de mostrar o dedo do meio para um carro que buzinou para ela. Segundo a jovem, ela ficou amedrontada e não sabia, de fato, de que se tratava de uma viatura policial, por isso, não parou até se sentir segura.

O caso repercutiu e levantou uma questão: você pararia para um carro descaracterizado, com alguém se identificando como policial?

Giroflex de para-brisa à venda em site. (Foto: Internet)
Giroflex de para-brisa à venda em site. (Foto: Internet)

O Campo Grande News buscou na internet e encontrou itens idênticos aos utilizados pela Segurança Pública, que podem ser comprados facilmente, confirmando que qualquer carro pode virar uma viatura descaracterizada da polícia.

Os valores variam e o mínimo encontrado foi de R$ 59,90. O modelo é o mais simples, um giroflex de emergência na cor vermelha com ímã. Outro modelo, giroflex de para-brisa, por R$ 128,04, tem quatro funções e duas cores, azul e vermelho. Há também modelos mais caros de giroflex, semelhantes aos originais utilizados pelos órgãos de segurança, como da polícia e Corpo de Bombeiros. Um deles tem seis efeitos, ímã e plug, custando R$ 229,90.

Giroflex mais parecido com o utilizado pela polícia. (Foto: Internet)
Giroflex mais parecido com o utilizado pela polícia. (Foto: Internet)

O site também tem kits, composto pelo giroflex, farol de led e strobo automotivo tipo giroflex. Em média, o valor desse kit é de R$ 265. Até sirene que emite o mesmo som das viaturas pode ser comprada. O preço de uma que emite sete tons é encontrado a partir de R$ 109,90.

Carro que era ocupado pelo delegado durante abordagem. (Foto: Reprodução / Direto das Ruas)
Carro que era ocupado pelo delegado durante abordagem. (Foto: Reprodução / Direto das Ruas)

Entenda - A confusão ocorreu na noite de quarta-feira (16). No dia, o delegado contou que viu a motorista do Kwid circulando em direção à Via Parque, "desrespeitando as normas de trânsito". A partir do Comper do Jardim dos Estados, a jovem teria furado o sinal vermelho, excedido os limites de velocidade e até "fechado" o veículo de Adriano Garcia.

O delegado estava em uma viatura descaracterizada, mas equipada com sinais luminosos, então, teria dado ordens da parada para a condutora, que desobedeceu. Diante da situação, o delegado atirou nos três pneus do veículo da jovem. A condutora só parou o veículo no estacionamento de uma escola de inglês, na Avenida Mato Grosso. A jovem teria evitado descer após parar.

No entanto, a artesã nega que tenha cometido qualquer imprudência no trânsito. Ela acredita que foi perseguida após mostrar o dedo do meio para o delegado, quando levou uma buzinada no sinal depois de seu carro afogar. Ela afirma que só não parou, pois ficou com medo. Também evitou de sair do veículo até se sentir segura, quando uma amiga chegou no local dos fatos.

Câmera - O veículo da artesã estava equipado com uma câmera "GoPro", que pode ter registrado as imagens da perseguição. Ela colocou na boca e a polícia acredita que a jovem queria destruir as imagens. Porém, a artesã afirma que queria guardar provas para ela. "Grava tudo, coloquei justamente para questões de trânsito. Na hora, eu realmente coloquei na boca, porque precisava guardar as minhas imagens, mas os policiais disseram que me dariam laxante e eu entreguei".

A polícia afirmou que não foi possível, inicialmente, ver as gravações. O cartão de memória foi levado para ser periciado, a fim de "recuperar as imagens".

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